Peugeot 208 GT x DS 3: rivalidade entre irmãos
Os pequenos esportivos têm conjuntos mecânicos (quase idênticos) que garantem bons momentos. No entanto, qual vale mais a pena levar para casa?
Na indústria automobilística, os alemães são lembrados pela engenharia que beira a perfeição, os americanos pelas dimensões exageradas e os japoneses pela confiabilidade mecânica. Os franceses, entre outras tradições, possuem um histórico de hot hatches que marcaram época — como foram Peugeot 205 GTi e Renault Clio V6, e como prometem ser (pelo menos no Brasil) 208 GT, Sandero R.S. e DS 3.
Os dois primeiros já protagonizaram um comparativo em que o Sandero saiu vencedor, entre outros motivos, por custar quase R$ 18 mil a menos. Agora é a vez de uma briga teoricamente mais nivelada. Pertencentes ao mesmo grupo industrial (PSA) e com quase o mesmo conjunto mecânico, 208 GT e DS 3 mostram que, mesmo com tanto em comum, podem atingir públicos diferentes. E a diversão está garantida em ambos.
Preço
O 208 GT sai na frente pelo preço único, que já inclui todos os equipamentos da unidade avaliada (veja no próximo tópico). A única variação fica para a escolha da cor: vermelho sólido, sai por R$ 83.990; preto metálico por R$ 85.280 e branco perolizado por R$ 85.680. A versão, novamente, é sempre a mesma.
Enquanto isso, o DS 3 oferece ao menos sete configurações diferentes, variando entre R$ 92.900 e R$ 107.980, ambas com pintura sólida. A versão das imagens é a mais cara, com todos os pacotes opcionais, bancos revestidos de couro e pintura metálica. Assim, ele sai por R$ 109.320.
Consideraremos, porém a configuração de preço mais próximo com o 208 — o que interferirá apenas na lista de equipamentos. Dessa forma, temos uma diferença de R$ 8.910 nos valores de entrada de ambos os modelos.
Equipamentos
O 208 é muito bem equipado de fábrica. Há central multimídia com GPS, ar-condicionado digital de duas zonas, faróis com projetores e acendimento automático, sensores de estacionamento dianteiros e traseiros, sensor de chuva, trio elétrico, câmera de ré, faróis e lanterna de neblina, assistente de partida em subidas, piloto automático, rodas de 17 polegadas, volante multifuncional, teto solar panorâmico, além do controle de estabilidade e tração e dos seis airbags. Tudo está incluso no pacote de R$ 83.990.
Enquanto isso, o DS 3 mostra o alto preço de ser um carro premium. De série (por R$ 92.900), há central multimídia com Bluetooth, USB, auxiliar e toca-discos, ar-condicionado digital, faróis de neblina, leds diurnos, controle de estabilidade e tração, seis airbags, lanternas em leds com efeito 3D e rodas de 17 polegadas.
Bancos em couro só com os pacotes Conforto e Couro, que acrescentam R$ 8.890 à conta. Retrovisores cromados, bancos com aquecimento, GPS, sensores de estacionamento, faróis automáticos, sensores de chuva e retrovisor interno eletrocrômico também estão inclusos nessas configurações.
Já os belos faróis bixenônio com leds, câmera de ré, sistema de áudio de alta fidelidade e rodas com desenho diferenciado estão no pacote Tecno, que somam mais R$ 4.990 (ou R$ 13.880 a partir da versão básica). Ou seja, por um pacote de equipamentos semelhante ao do 208 GT, o DS 3 chega a R$ 106.780, ou R$ 13.790 a mais que seu concorrente.
Estilo e acabamento
Enquanto a versão GT traz diferenças sutis até demais em relação ao Peugeot 208 “normal”, o DS 3 tem carroceria própria — embora não negue o parentesco com o C3. Vai da preferência do comprador ter exclusividade e chamar atenção ou não.
No caso do Peugeot, esqueça os detalhes cromados das demais versões do 208: o GT usa acabamentos em preto brilhante no para-choque, nos retrovisores, na grade (com traços vermelhos) e no aerofólio. Assim como os faróis, com projetores e máscara negra, a dupla saída de escape, o spoiler traseiro e as rodas são exclusivas da versão.
Por dentro, os bancos ganham revestimento parcial em couro, o volante adota a assinatura GT, os pedais são de alumínio e o acabamento das colunas e do teto é todo preto. Detalhes em vermelho foram inseridos no volante, nos bancos e no quadro de instrumentos, que pode ganhar uma duvidosa borda vermelha iluminada – ela pode ser desligada ao toque de um botão. De resto, o acabamento segue o padrão do modelo, com traços modernos, bons encaixes e materiais de boa qualidade.
Já o DS quer ser visto. O pequeno hatch de duas portas tem porte mais compacto e linhas esportivas, destacando a “barbatana de tubarão” que invade a área envidraçada e o teto de aspecto flutuante. Na dianteira, chamam atenção o “bocão” e a fileira de leds diurnos. No caso das versões mais equipadas, os faróis bixenônio com leds são bonitos e chamativos, com a indicação de direção dinâmica. Na traseira, se destacam as lanternas com iluminação 3D. Há ainda a possibilidade de personalização com a escolha da cor do teto, do miolo das rodas, dos retrovisores, do pomo do câmbio e até da chave.
Mas apesar da exclusividade visual, o acabamento não tem grande diferença de materiais em relação ao 208: lembre-se que, na essência, o DS 3 não passa de um C3 premium com carroceria duas portas e mecânica esportiva. A porção central do painel pode variar de acordo com a tonalidade da carroceria e/ou da escolha do comprador. O quadro de instrumentos e os comandos do ar-condicionado denunciam a herança da Citroën e são idênticos aos do C3 atual.
Motorização
Tecnicamente, o conjunto mecânico de ambos os modelos é o mesmo. Eles levam o conhecido 1.6 THP (turbo de alta pressão e injeção direta) com 24,5 mkgf de torque a apenas 1.400 rpm, acompanhado do câmbio manual de seis marchas. A diferença está no combustível que cada um consome: o 208 é flex e, por isso, entrega 173/166 cv com etanol/gasolina, enquanto o DS 3 pode ser abastecido apenas com gasolina e rende 165 cv.
A vantagem do DS está na função Overboost, que aumenta o torque para 26,5 mkgf entre a terceira e a sexta marcha por alguns instantes, bastando para isso que o acelerador seja pressionado até o fundo.
Ao volante
A diversão está garantida em ambos os modelos, mas eles mostram pequenas diferenças que podem (e muito) influenciar na hora da compra. Os dois têm desempenho exemplar: com gasolina (combustível que nivela a diferença de potência entre os dois), o 208 GT leva 8,2 segundos para ir de 0 a 100 km/h e 30 s para chegar aos 1.000 metros — tudo isso com as médias de consumo de 10,6/14,2 km/l em ciclo urbano/rodoviário.
Mesmo um pouco mais pesado, o DS 3 faz as respectivas provas em 7,6 e 28,4 segundos e com as médias de 11,4 e 16,9 km/l. Ou seja, mais rápido e econômico que o rival. Nas retomadas, porém, o 208 GT levou pequena vantagem em todas as medições.
O DS 3 nasceu para ser um hot hatch: tem apenas duas portas, espaço reduzido, suspensão rígida e fica mais próximo do chão. Isso resulta em muita diversão na estrada, com acelerações e retomadas rápidas (e com um belo ronco saído dos escapamentos), além de estabilidade exemplar em curvas. No entanto, os ajustes esportivos cobram seu preço na cidade. É preciso ter cuidado com buracos, valetas e lombadas, tanto pelos amortecedores de curso reduzido, quanto pela altura do carro em relação ao solo.
Por dentro, os bancos com grandes abas laterais seguram bem o corpo e reforçam a posição esportiva de guiar. Mas não pense em dar carona para mais de uma pessoa: quem vai atrás sofre com o pouco espaço (lateral e de altura) e a pequena área envidraçada. O porta-malas tem 280 litros. A ergonomia é boa, especialmente pela nova central multimídia, que agrupa um maior número de funções e elimina botões do painel (o do volume foge à regra e fica na parte inferior do painel, próximo do câmbio).
Em contrapartida, o 208 nasceu de um hatch compacto com quatro portas e um pouco mais de porta-malas (285 l). Ou seja, leva ao menos quatro pessoas sem sacrifícios. Ao volante, o modelo repete as acelerações fortes e a direção leve e precisa do DS 3. As diferenças aparecem na posição de dirigir, mais elevada, e nas curvas. Ele não passa a mesma sensação de estar colado ao asfalto como o primo rival, culpa da suspensão, que tem a mesma altura das versões convencionais e amortecedores apenas recalibrados. Isso, em acordo com pneus mais altos, reforça seu lado mais prático, menos incômodo no uso diário.
Pós-venda
Neste quesito a disputa é acirrada, mas o 208 GT leva mais uma pelo menor valor do pacote de revisões até 60.000 km e no maior número de concessionárias. No caso dele, são R$ 4.054 no total das seis revisões básicas — a Peugeot disponibiliza ainda o modo “recomendado”, com maior número de inspeções e manutenções, mas também mais caro (e sem necessidade real). São 188 concessionárias, sendo grande parte delas em locais compartilhados com a Citroën, com espaços físicos de vendas diferentes, mas a mesma oficina para as duas marcas.
Apesar de agora fazer parte da DS, uma marca à parte no Grupo PSA, a venda e as manutenções do DS 3 são feitas nas 127 concessionárias Citroën espalhadas pelo país. O pacote de revisões é mais caro em relação ao do 208 e soma R$ 5.440 até os 60.000 km.
Veredicto
Eles podem parecer quase o mesmo carro quando analisamos a mecânica e a filosofia. No entanto, as diferenças vão além do desempenho dos esportivos. O DS 3 tem público mais restrito e atende apenas aos sem filhos, mas entrega visual exclusivo. O 208 GT pode ser confundido, pelos mais leigos, com a versão de entrada do vizinho (o que não desmerece seu belo visual).
Contudo, entrega um desempenho semelhante ao do DS, com mais espaço, mais equipamentos de série e cobrando bem menos. Com isso, o Peugeot vence o comparativo, principalmente se a sua escolha for pautada por critérios mais racionais. O que nem sempre é o caso em se tratando de esportivos, claro.
DS 3 | Peugeot 208 GT | |
---|---|---|
ACELERAÇÃO | ||
0 a 100 km/h: | 7,6 s | 8,2 s |
0 a 1000 m: | 28,4 s | 29,1 s |
VELOCIDADE MÁXIMA*: | 219 km/h | 218 km/h |
RETOMADAS | ||
De 40 a 80 km/h (em 3ª): | 5 s | 4,5 s |
De 60 a 100 km/h (em 4ª): | 6,2 s | 5,7 s |
De 80 a 120 km/h (em 5ª): | 8,3 s | 8,2 s |
FRENAGENS | ||
60/80/120 km/h a 0: | 14,9/25,3/60 m | 15/26,1/60 m |
CONSUMO | ||
Urbano: | 11,4 km/l | 10,6 km/l |
Rodoviário: | 16,9 km/l | 14,2 km/l |
* Dados do fabricante |
DS 3 | Peugeot 208 GT | |
---|---|---|
Preço inicial: | R$ 92.900 | R$ 83.990 |
Motor: | gas., diant., transv., 4 cil., 16V, injeção direta, 77 x 85,6 mm, 1.598 cm³, 9,5:1, 165 cv a 6.000 rpm, 24,5 mkgf a 1.400 rpm (26,5 mkgf com Overboost) | flex, diant., transv., 4 cil., 16V, injeção direta, 77 x 85,6 mm, 1.598 cm³, 10,5:1, 173/166 cv a 6.000 rpm, 24,5 mkgf a 1.400 rpm |
Câmbio: | manual, seis marchas, tração dianteira | manual, seis marchas, tração dianteira |
Suspensão: | McPherson (diant.) e eixo de torção (tras.) | McPherson (diant.) e eixo de torção (tras.) |
Freios: | discos ventilados (diant.) e discos sólidos (tras.) | discos ventilados (diant.) e discos sólidos (tras.) |
Rodas e pneus: | liga leve, 205/45 R17 | liga leve, 205/50 R17 |
Dimensões: | comprimento, 394,8 cm; altura, 148,3 cm; largura, 171,5 cm; entre-eixos, 246,4 cm; peso, 1.240 kg; porta-malas, 280 l; tanque de combustível, 50 litros | comprimento, 397,5 cm; altura, 147,2 cm; largura, 170,2 cm; entre-eixos, 254,1 cm; peso, 1.196 kg; porta-malas, 285 l; tanque de combustível, 55 litros |