Peugeot 208 GT x Renault Sandero R.S.: a batalha da França
Recém-chegado, o turbinado Peugeot 208 GT quer ser uma receita alternativa de hot hatch barato ao aspirado Renault Sandero R.S.
A França é apaixonada pela gastronomia. Lá nasceram clássicos famosos no mundo todo, como o steak tartare e o crème brûlée. Mas os franceses também dominam outra receita como ninguém: a dos hot hatches.
A Renault entrou para o clube em 1976 com o 5 Alpine e até hoje faz sucesso com versões nervosas do Clio. Já a Peugeot retrucou em 1983 com o 205 GTi, apontado como um dos melhores hatches esportivos da história.
No Brasil, ambas estão bem representadas: o Sandero R.S. veio primeiro e agora o 208 GT se junta à briga. Mas qual deles será o mais saboroso?
Cada marca segue um estilo diferente. Assim como a nouvelle cuisine, a Peugeot aposta em ingredientes leves e soluções simples combinados a uma apresentação de encher os olhos.
O 208 ganhou o eficiente motor THP 1.6 flex de até 173 cv e a caixa manual de seis marchas utilizados no 2008. A suspensão foi recalibrada (mas não rebaixada) e o sistema de freios ganhou discos nas quatro rodas (com diâmetro e espessuras maiores).
O estilo naturalmente esportivo do 208 foi realçado no GT, que já traz a reestilização da linha 2017. A grade frontal tem detalhes em vermelho e a traseira possui um aerofólio pronunciado e saída dupla de escapamento, de onde sai um ronco encorpado e discreto.
Por dentro, o GT ganhou volante em couro com costuras vermelhas, pedaleiras e detalhes cromados.
A Renault adota uma receita mais clássica: motor grande em carro pequeno. Enquanto a Peugeot elaborou uma receita saborosa já servida em seu cardápio, a Renault chamou os chefs da Renault Sport para dar mais sabor a um prato trivial.
O R.S.tem suspensão rebaixada, molas mais rígidas e barras estabilizadoras reforçadas. O motor 2.0 16V flex foi remapeado e ganhou um novo coletor de admissão para render 150 cv.
Os para-choques são exclusivos, assim como as rodas de aro 17, ponteira dupla de escapamento e aerofólio. O interior é mais chamativo que o do 208, com bancos esportivos em dois tons, volante menor e detalhes em vermelho pela cabine. Mas o acabamento ruim lembra que estamos em um Sandero.
Na pista de testes, sempre com gasolina, o 208 bateu o Sandero em todas as provas, mas sem a superioridade esperada para um carro 23 cv mais potente.
Apenas no tempo de 0 a 100 km/h é que o GT deixou seu rival bem para trás (8,2 contra 10 segundos), enquanto nas retomadas ele foi em média 0,5 segundo mais ágil.
Em compensação, só o Sandero tem o seletor de modo de condução R.S. Drive. Ao toque de um botão, o modo Sport deixa o acelerador mais arisco, muda o som do escapamento e mantém o giro do motor elevado. Já o modo Sport+ desliga todas as assistências eletrônicas.
Nenhum dos hot hatches faz feio na hora de acelerar. O 208 GT tem uma posição de guiar bastante esportiva, a suspensão bem acertada faz a carroceria inclinar pouco nas curvas e o ESP é mais permissivo que no Sandero.
O R.S. segue um caminho parecido, embora a Renault carregue mais na pimenta. Quem curte uma tocada mais agressiva vai preferir o Sandero. Além do visual mais insinuante, a direção mais direta aliada ao ronco grave desafiam o bom senso do motorista em qualquer situação.
Os dois hatches só se afastam no preço. Por R$ 65.500, o Sandero R.S. é um dos esportivos mais baratos do país – o modelo das fotos traz rodas aro 17, um opcional que custa R$ 1.000.
Enquanto isso, o 208 GT fica tabelado em R$ 84.490. A diferença de vinte mil reais é considerável, mesmo com o maior refinamento e conjunto mecânico mais moderno do Peugeot.
Assim como uma mesma receita feita por dois chefs resulta em pratos diferentes, Peugeot e Renault oferecem resultados distintos. Se o 208 passa despercebido até ser provocado, o R.S. quase implora para andar no limite, incitando o motorista o tempo todo.
Como um prato temperado com especiarias saborosas, o R.S. satisfaz mais por entregar sensações inesperadas para um Sandero. Tudo isso sem sustos na hora de pagar a conta depois do jantar.
Avaliação do editor
Motor e Câmbio – Adotado em vários modelos da PSA, o motor THP faz o 208 acelerar com vigor – e é mais moderno (e econômico) que o2.0 do Sandero.
Dirigibilidade – Direção mais direta e suspensão bem calibrada: o R.S. convida o motorista a andar forte. Já o GT parece um 208 comum – pelo menos até acelerar.
Segurança – Ambos possuem ESP e controle de tração, mas o 208 tem seis airbags e o Sandero, apenas dois.
Seu bolso – Uma diferença de quase R$ 21.000 separa os dois, e deve ser decisiva para quem deseja um esportivo mas não tem tanto dinheiro sobrando.
Conteúdo – Já que o 208 é mais caro, nada mais natural do que ele ser mais recheado que o Sandero.
Vida a bordo – Se o interior do 208 é discreto demais e apertado para os mais altos, o Sandero tem espaço de sobra e visual exclusivo – como convém a um esportivo.
Qualidade – O acabamento ruim do Sandero R.S. contrasta com a montagem cuidadosa do 208 GT.
Veredicto QUATRO RODAS
O 208 GT é um hot hatch mais refinado, mas o Sandero R.S. leva a melhor por andar quase tanto quanto seu arquirrival e custar (bem) menos.
Teste de pista (com gasolina)
Peugeot 208 GT | Renault Sandero R.S. | |
---|---|---|
Aceleração de 0 a 100 km/h | 8,2 s | 10 s |
Aceleração de 0 a 1.000 m | 29,1 s – 178,3 km/h | 31,6 s – 163,8 km/h |
Velocidade máxima (dados de fábrica) | 218 km/h | 202 km/h |
Retomada de 40 a 80 km/h (em 3ª) | 4,5 s | 5,0 s |
Retomada de 60 a 100 km/h (em 4ª) | 5,7 s | 6,5 s |
Retomada de 80 a 120 km/h (em 5ª) | 8,2 s | 8,8 s |
Frenagens de 60 / 80 / 120 km/h a 0 | 15 / 26,1 / 60 m | 16 / 27,1 / 63,7 m |
Consumo urbano | 10,6 km/l | 8,6 km/l |
Consumo rodoviário | 14,2 km/l | 14 km/l |
Ruído interno (Neutro / RPM máximo) | 44,6 / 77 dBA | 43,7 / 76,7 dBA |
Ruído interno (80 / 120 km/h) | 65,8 / 70,6 dBA | 67,4 / 70,8 dBA |
Aferição do velocímetro real a 100 km/h | 97,8 km/h | 97,3 km/h |
Aferição da rotação do diferencial a 100 km/h em 5ª | 2.750 rpm | 3.000 rpm |
Aferição do volante | 3 voltas | 3,4 voltas |
Preço | R$ 84.490 | R$ 63.750 |
Garantia | 3 anos | 3 anos |
Concessionárias | 118 | 294 |
Ficha Técnica
Peugeot 208 GT | Renault Sandero R.S. | |
---|---|---|
Motor | flex, diant., transv., 4 cil., 16V, turbo, injeção direta, 1.598 cm³, 77 x 85,5 mm, 10,5:1, 173/166 cv a 6.000 rpm, 24,5 mkgf a 1.400 rpm | flex, diant., transv., 16V, 4 cil., 1.998 cm³, 82,7 x 93 mm, 11,2:1, 150/145 cv a 5.750 rpm, 20,9/20,2 mkgf a 4.000 rpm |
Câmbio | manual, 6 marchas, tração dianteira | manual, seis marchas, tração dianteira |
Direção | elétrica | elétrica, 10,6 m (diâmetro de giro) |
Suspensão | McPherson (diant.) / eixo de torção (tras.) | independente McPherson (diant.), eixo de torção (tras.) |
Freios | discos ventilados (diant.) / discos sólidos (tras.) | discos ventil. (diant.) / discos sólidos (tras.) |
Pneus | 205/50 R17 | 195/55 R16 (série), 205/45 R17 (opcional) |
Peso | 1.196 kg | 1.161 kg |
Peso/potência | 6,9/7,2 kg/cv | 7,7/8 kg/cv |
Peso/torque | 48,8 kg/mkgf | 55,5/57,4 kg/mkgf |
Dimensões | comprimento, 397,5 cm; largura, 170,2 cm; altura, 147,2 cm; entre-eixos, 254,1 cm; porta-malas, 285 l; tanque de combustível, 55 l | comprimento, 406,8 cm; largura, 173,3 cm; altura, 149,9 cm; entre- eixos, 259 cm; porta-malas, 320 l; tanque de combustível, 50 l |
Equipamentos de série | 6 airbags, acendimento automático dos faróis, ar digital bizona, assistente de partida em subidas, câmera de ré, central multimídia, controle de estabilidade, controle de tração, GPS, rodas de liga aro 17, piloto automático, sensor de chuva, sensores de estacionamento diant. e tras., teto solar panorâmico. | ar digital, assistente de partida em subidas, central multimídia, controle de estabilidade, controle de tração, GPS, indicador de troca de marcha, piloto automático, seletor de modos de condução, sensor de estacionamento traseiro, vidros elétricos nas quatro portas. |