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Longa Duração: o desmonte do Hyundai Creta

Um desmonte completo para revelar os mais íntimos segredos de um automóvel com mais de 60.000 km rodados

Por Péricles Malheiros
Atualizado em 9 nov 2018, 17h13 - Publicado em 25 set 2018, 14h33
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  • Hyundai Creta completa os 60.000 km de testes no Longa Duração (Xico Buny/Quatro Rodas)

    Quase oito anos atrás, em dezembro de 2010, o i30 2.0 – primeiro Hyundai avaliado no Longa Duração – era desmontado. E a estreia foi boa, com o hatch médio se despedindo tecnicamente aprovado, apesar de a rede ter dado alguns deslizes e de cobrar preços muito altos por peças e serviços.

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    Depois, em dezembro de 2013, foi a vez do HB20 1.6, o primeiro modelo da marca coreana fabricado no Brasil, em Piracicaba (SP). Apesar de uma evidente evolução da rede autorizada – e de uma nova aprovação pós-desmonte –, deslizes das concessionárias e pequenas falhas técnicas foram anotadas.

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    Agora, chegou a vez do Creta. Será que o SUV compacto conseguiu manter o ritmo de evolução da marca dentro do Longa Duração?

    Confiável e confortável, o Creta sempre foi bastante requisitado para viagens (Paulo Campo Grande/Quatro Rodas)

    Os barulhos na suspensão ficaram no i30. O vidro traseiro direito só travou no HB20. No Creta, as duas únicas queixas relevantes surgiram logo no início da jornada, ambas meros incômodos.

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    Um barulho na traseira (um chicote elétrico solto dentro da tampa traseira, devidamente reposicionado na rede autorizada) e a dificuldade de fechamento das portas (que a rede nunca conseguiu resolver, mas o tempo de uso tratou de atenuar).

    As visitas programadas à rede Hyundai correram sem maiores problemas até os 30.000 km. Mas a parada para a quarta revisão abalou nossa confiança justamente quando a expectativa era maior, afinal havíamos escolhido justamente a concessionária-modelo da marca em São Paulo, a Caoa Premium Services.

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    O SUV rodou por diferentes estados do Brasil: SP, RJ, MG, GO, PR, SC e DF (Acervo/Quatro Rodas)

    Atendentes cordiais e um café da manhã típico de hotel de luxo à disposição dos clientes aumentaram a boa impressão. No entanto, ao submetermos o Creta à vistoria do nosso consultor, Fabio Fukuda – todos os carros de Longa são verificados imediatamente após cada passagem pela rede autorizada –, descobrimos que o filtro de ar do motor não havia sido trocado.

    Contatamos a técnica da Caoa, que nos respondeu: “Não tinha o filtro em estoque. Mas dei um desconto para compensar a falta da peça”, como se isso justificasse o fato de terem negligenciado a substituição do item sem sequer se dar ao trabalho de nos deixar cientes.

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    Visual sóbrio e profusão de concorrentes não destaca o Creta nas ruas
    O modelo marcou o retorno da gasolina como combustível oficial do Longa Duração (Christian Castanho/Quatro Rodas)

    Mais tarde, na revisão dos 50.000 km, a concessionária Sevec, de Curitiba (PR), descobriu outra mancada da mesma Caoa Premium, dessa vez, no filtro do ar-condicionado. “O que está no seu carro não é de Creta. A concessionária que fez a revisão antes de nós, por engano, colocou um filtro de HB20”, disse o técnico da Sevec.

    Com o Creta, reafirmamos um ponto sempre notado no Longa Duração: nada como um extenso convívio para conhecer um carro em todos os seus detalhes.

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    Foi somente a partir dos 30.000 km que nos chamou a atenção, por exemplo, a retroiluminação restrita ao botão do vidro dianteiro esquerdo, no conjunto de teclas agrupadas na porta do motorista – os demais, ficam na escuridão.

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    Nada grave, mas uma economia que destoa de uma versão top de linha, como é o nosso Creta Prestige 2.0.

    Chave em tom marrom combina com o revestimento da mesma cor
    Chave em tom marrom combina com o revestimento da mesma cor (Christian Castanho/Quatro Rodas)

    As constantes viagens também nos levaram a perceber um detalhe um tanto desagradável na dinâmica. A cerca de 110 km/h, o câmbio alterna entre quinta e sexta marchas o tempo todo, comprometendo o nível de ruído interno e o consumo.

    Na lista de eventos excepcionais, apenas o atropelamento de uma banda de rodagem de pneu de caminhão, solta na estrada, que acabou danificando o para-choque dianteiro.

    Para driblar o orçamento de R$ 1.700 da rede Hyundai, buscamos a oficina independente Shida, especializada em reparação de capas plásticas de para-choque, que orçou o conserto em R$ 700. Finalizado o serviço, não gostamos da qualidade – e a economia acabou não compensando.

    Para-choque dianteiro danificado: troca por 1.700 ou recuperação por R$ 700 (Renato Pizzuto/Quatro Rodas)

    E foi assim o nosso convívio com o Creta: tranquilo de dar gosto ao longo de 60.000 km. Mas será que o SUV repetiu essa boa performance no desmonte? Vamos às respostas.

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    De peito aberto

    Após uma breve rodagem para obtenção das impressões derradeiras e para colocar os sistemas do Creta em temperatura de trabalho, nosso consultor, Fabio Fukuda, iniciou as medições estáticas.

    Para as pressões de óleo e combustível, a Hyundai indica como nominais, respectivamente, 14,22 psi e entre 42,6 psi e 52,6 psi. Aos 60.000 km, nosso carro apresentou 14,5 psi e 43,51 psi. Estava tudo certo também com a pressão de compressão dos cilindros, um dos principais indicativos da saúde de um motor.

    Versão Prestige 2.0 é a mais completa: bancos dianteiro são ventilados
    Versão Prestige 2.0 é a mais completa: bancos dianteiro são ventilados (Christian Castanho/Quatro Rodas)

    O material técnico da Hyundai estipula as pressões de 185 psi como nominal e 164 psi como mínima, com tolerância de 15 psi de diferença entre os cilindros. Por padrão, são feitas três medições em cada cilindro.

    Os cilindros 1 e 4 mostraram média de 205 psi, com 195 psi no 2 e 201,66 psi no 3. Ou seja, até aqui, tudo na mais perfeita ordem.

    Nos freios, todas as medições (espessura de discos e pastilhas, diâmetro interno de tambores e desvio lateral) estavam dentro dos limites tolerados pela marca coreana.

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    Os pneus também chegaram bem aos 60.000 km, mas, neste caso, nenhuma surpresa, afinal um par foi trocado logo após os 30.000 km, em virtude de uma unidade, rasgada por uma pedra de canto vivo.

    À época, optamos pela substituição numa loja independente, por R$ 1.260 o par – em nossa cotação na rede Hyundai, a média foi de R$ 2.560.

    Pneu foi rasgado pouco após os 30.000 km (Péricles Malheiros/Quatro Rodas)

    Fukuda elogiou muito a suspensão. “É um dos sistemas mais íntegros que já desmontei. Não encontrei nem uma borracha sequer com o mínimo sinal de desgaste. Bieletas, barras axiais, terminais de direção, pivôs, coxins dos amortecedores e buchas de bandeja estavam sem folgas excessivas, o que explica o trabalho silencioso da suspensão.”

    Estava escrito

    Como antecipou a medição de pressão de compressão dos cilindros, a desmontagem completa confirmou que o motor estava em plena forma.

    Virabrequim, cilindros, anéis de compressão: todas as medições realizadas revelaram números seguramente distantes dos limites tolerados pela marca coreana. Todos os componentes foram submetidos também a uma criteriosa inspeção visual.

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    Na carroceria não havia corrosão, trincas ou perda de eficiência nos pontos de vedação (Xico Buny/Quatro Rodas)

    “Mais do que os números obtidos, o estado das superfícies impressiona. As paredes dos cilindros, por exemplo, exibem marcas bem definidas do brunimento, que são uma espécie de microrriscos usinados para melhorar a lubrificação. Se ainda levarmos em conta o baixíssimo índice de material carbonizado presente nas válvulas e na cabeça dos pistões, a avaliação final do motor é excelente. Este do Creta está, sem dúvida, entre os melhores e mais limpos já desmontados no Longa Duração”, diz Fabio Fukuda.

    Sobre o câmbio automático, nosso técnico disse: “Como de praxe, fizemos a análise do lubrificante da transmissão. Sem registro de falhas de funcionamento nem sinal de material metálico particulado e com odor e textura normais, não havia por que fazer a desmontagem”.

    Não havia o mínimo sinal de invasão de poeira ou água (Xico Buny/Quatro Rodas)

    Quanto à cabine, Fukuda fez novos elogios: “Travas e presilhas de alta pressão e em quantidade e posicionamento corretos explicam o baixo nível de ruído interno. A vedação foi excelente. Não encontramos nenhum sinal de poeira ou água abaixo do carpete ou no porta-malas”.

    Finalizados os 60.000 km e feito o desmonte, o Creta se despede do Longa Duração aprovado com louvor e deixando claro que, sim, a Hyundai segue evoluindo em qualidade.

    PEÇAS APROVADAS

    Paredes dos cilindros

    Paredes dos cilindros (Silvio Gioia/Quatro Rodas)

    Sem sinais de vazamento de óleo, o motor foi desmontado. “As paredes dos cilindros parecem novas. Duro acreditar que se trata de um bloco com 60.000 km já rodados”, disse nosso técnico, Fabio Fukuda.

    Válvulas

    Válvulas (Silvio Gioia/Quatro Rodas)

    Mesmo em motores mais avançados, com turbo e injeção direta, é raro encontrar um nível tão baixo de carvão nas válvulas.

    Retentores de válvulas

    Retentores de válvulas (Silvio Gioia/Quatro Rodas)

    Problema comum no desmonte, a falência dos retentores de válvulas passou longe do cabeçote do motor do Creta. Felizmente.

    Pistões

    Pistões (Silvio Gioia/Quatro Rodas)

    A cabeça dos pistões repete o que se viu nas válvulas: baixíssimo índice de acúmulo de material carbonizado.

    Amortecedores

    AmortecedoresIsentos de sinais de vazamento oufolga axial na haste, os amortecedores chegaram em plena forma ao fim do teste.

    Molas

    Conjunto de molas (Silvio Gioia/Quatro Rodas)

    Molas cansadas são fáceis de se detectar: se tiverem sinais de batida entre os elos, é hora da troca. As do Creta estavam como novas.

    Bandeja de suspensão

    Bandeja de suspensão (Silvio Gioia/Quatro Rodas)

    Bucha, pivô e terminal das duas bandejas trabalhavam justos, sem folga. As borrachas estavam em estado de novas.

    VEREDICTO QUATRO RODAS

    O Creta se despede com a melhor avaliação de todos os tempos. Nenhum componente, parte ou sistema deu sinais de subdimensionamento. Pelo contrário: o desmonte revelou um carro com 60.000 km com saúde de novo. Já a rede ainda carece de mais cuidado por parte da fábrica.

    Linha do tempo (clique nos links para ler as matérias)

    Folha Corrida

    Tabela de preço

    Quilometragem

    Combustível

    Manutenção (revisão/alinhamento)

    Extras (essenciais)

    Extras (acidentais)

    Custo por 1.000 km

    Ocorrências

    520 km Dificuldade para fechar as portas
    549 km Barulho na tampa do porta-malas
    24.391 km Conserto de dois pneus furados
    31.463 km Pneu cortado por uma pedra de canto vivo
    31.947 km Substituição de um par de pneus

    Testes de pista (com gasolina)

    1.021 km 60.005 km Diferença
    Aceleração de 0 a 100 km/h 10,8 s 10,4 s 3,7%
    Aceleração de 0 a 1.000 m 32,1 s / 161,2 km/h 31,8 s / 161,8 km/h 0,93% / 0,37%
    Retomada de 40 a 80 km/h 4,5 s 4,5 s  –
    Retomada de 60 a 100 km/h 5,8 s 5,9 s – 1,72%
    Retomada de 80 a 120 km/h 7,4 s 7,2 s 2,7%
    Frenagens de 60 / 80 / 120 km/h a 0 16,6 / 29 / 65,9 m 15,9 / 27,9 / 65,1 m 4,22% / 3,79% / 1,21%
    Consumo urbano 8,7 km/l 9,7 km/l 11,49%
    Consumo rodoviário 12,7 km/l 12,7 km/l  –

    Ficha técnica – Hyundai Creta

    Rivais do Creta que já passaram pelo Longa Duração

    Nissan Kicks: desmontado em dezembro de 2017

    Kicks chega aos 60.000 km: é hora do desmonte total para análise das peças
    Longa Duração: desmonte do Nissan Kicks (Xico Buny/Quatro Rodas)

    Custo por 1.000 km

    Jeep Renegade: desmontado em dezembro de 2016

    Longa Duração - desmonte do Jeep Renegade
    Longa Duração: desmonte do Jeep Renegade (Xico Bunny/Quatro Rodas)

    Custo por 1.000 km

    Honda HR-V: desmontado em dezembro de 2016

    Desmonte - Honda HR-V
    Longa Duração: desmonte do Honda HR-V (Marco de Bari/Quatro Rodas)

    Custo por 1.000 km

    Ford EcoSport: desmontado em janeiro de 2014

    Longa Duração: desmonte do Ford EcoSport (Marco de Bari/Quatro Rodas)

    Custo por 1.000 km

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