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Longa Duração: o desmonte do Nissan Kicks

Nosso SUV chega aos 60.000 km e encerra seu teste. Confiabilidade e robustez estão comprovadas. Só falta a Nissan cuidar da rede - há trabalho pela frente

Por Péricles Malheiros Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO
Atualizado em 24 jan 2018, 16h41 - Publicado em 7 dez 2017, 17h22
Kicks chega aos 60.000 km: é hora do desmonte total para análise das peças
Kicks chega aos 60.000 km: é hora do desmonte total para análise das peças (Xico Buny/Quatro Rodas)

Acabou. Com pouco mais de 60.000 km no hodômetro, o Kicks se despede de nós. O convívio de um ano e dois meses deixou dois pontos muito bem definidos: 1) o Kicks é robusto e confiável; 2) a rede autorizada Nissan se mostrou frágil e pede cuidado por parte do consumidor.

A jornada do SUV começou em setembro de 2016. Estreou com elogios pela cuidadosa entrega técnica feita pela concessionária paulistana Sinal. Infelizmente, essa foi uma das poucas alegrias que a rede Nissan nos proporcionou.

Perto dos 8.000 km, a primeira manifestação de um problema que nos acompanhou até os 60.000 km: a morte súbita do motor logo após a partida, em dias frios. Pior: ainda hoje, relatos semelhantes são encontrados na internet.

Em dias frios, o motor liga, mas morre
Em dias frios, o motor liga, mas morre (Christian Castanho)

Na época, três concessionárias (Tokio, Carrera e Sinal) assumiram ter conhecimento de casos parecidos.

Recomendaram algumas artimanhas na hora da partida – como esperar alguns segundos antes de começar a rodar – reconhecendo que a falha era comum a outros modelos da marca que, como o Kicks, haviam incorporado o sistema de partida a frio por aquecimento do combustível, em detrimento do obsoleto tanquinho de gasolina.

A segunda revisão poderia ter virado um caso de polícia. Em Varginha (MG), a concessionária Orient respeitou o preço sugerido pela Nissan no site, mas em nossa vistoria pós-revisão, detectamos que os filtros de cabine e de ar do motor ainda tinham nossas marcações antifraude.

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Revisão em Minas Gerais foi um fiasco
Revisão em Minas Gerais foi um fiasco – na foto, estávamos à caminho de Varginha, onde a revisão foi realizada (Silvio Gioia/Quatro Rodas)

Ou seja, não tinham sido trocados, apesar de constarem na nota fiscal. Para piorar, a Orient executou errado o rodízio de pneus, deixou o cárter e o filtro de óleo completamente sujos de lubrificante e a abraçadeira do filtro de combustível mal fixada.

Alegando que o carro era de empresa e que a equipe de gestão de frota questionava a execução da revisão, ligamos para a Orient e pedimos uma revisão do caso.

“Tenho certeza de que entregamos tudo o que foi cobrado”, disse a técnica que havia cuidado do nosso Kicks. Em São Paulo, tivemos de recorrer a outra autorizada e pagar de novo pela execução dos procedimentos previstos na segunda revisão.

EXPLORAÇÃO DA BORRACHA

Nas demais revisões, pequenos problemas, como necessidade de retorno para execução e correção de serviços. Até quando seguiu o estipulado pela Nissan, a rede foi porta-voz de más notícias.

Por um fino e minúsculo pedaço de borracha (que oculta o parafuso da base do puxador de porta), ouvimos a cotação de R$ 71 – no mês seguinte à publicação da informação, a Nissan entrou em contato para comunicar que havia promovido uma mudança que baixou o preço da peça para R$ 25.

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Esta borrachinha custa R$ 71, na autorizada. É sério!
Esta borrachinha custa R$ 71, na autorizada. É sério! (Silvio Gioia/Quatro Rodas)

Mas é preciso fazer justiça, apesar dos graves deslizes da rede, nosso Kicks se comportou muito bem ao longo do teste. A única vez que precisamos chamar um guincho foi em novembro de 2016, por causa de uma simulação de pane que fizemos para testar a agilidade do serviço de emergência dos fabricantes dos carros da frota de Longa.

O Kicks teve o segundo melhor desempenho (33 minutos para a chegada do guinho), perdendo só para o Fiat Mobi (32 minutos), mas se saindo melhor que os luxuosos Audi A3 (35) e Chevrolet Cruze (50).

Mobi, Kicks, A3 e Cruze: quem foi atendido em menos tempo?
Kick teve o segundo melhor desempenho na simulação de pane que fizemos em 2016 (Marcus Camargo)

Outro exercício com toda a frota foi feito em janeiro de 2017. Nele, apuramos o valor da cópia de uma chave original. Fique atento com a do seu Kicks, pois, na época da reportagem, ela saía, em média, R$ 1.518 na rede Nissan.

No uso, um consenso: apesar da carroceria SUV, o Kicks nasceu para viver na cidade. Nem estrada é muito a praia dele, já que a suspensão alta, o peso baixo e a direção leve demais causam certo desconforto.

Por outro lado, controles de estabilidade e tração atrelados a monitores de balanço da carroceria garantem a segurança, que, diga-se, nunca foi questionada pelos usuários.

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Assim como a ausência de piloto automático, o tanque de combustível, com capacidade para só 41 litros, é outro ponto que limita a vida na estrada – rivais como Duster, HR-V, EcoSport e Renegade, todos já testados no Longa Duração, têm tanque com volume entre 50 e 60 litros.

DESPEDAÇADO

Feito um breve resumo da vida do Kicks entre nós, é chegada a hora do desmonte. Ao chegar à oficina Fukuda Motorcenter, o volante foi logo assumido por Fabio Fukuda, consultor técnico de QUATRO RODAS e responsável pelos desmontes.

Após um curto roteiro, uma avaliação parecida com a do restante da equipe: “O carro parece ótimo, com bem poucos ruídos”, disse. Antes da desmontagem, medição de pressão de óleo, combustível e de pressão de compressão dos cilindros. Tudo folgadamente dentro dos limites estipulados pela Nissan.

Até os freios, que não sofreram nenhum tipo de intervenção ao longo dos 60.000 km, chegaram bem: “Esse é um dos benefícios de uma carroceria leve. Pastilhas, discos, lonas e tambores estavam com medidas ainda longe das medidas-limite informadas pela marca”, destaca Fukuda.

Muito embora tenha rodado basicamente sobre asfalto – o que, muitas vezes, representa uma condição tão severa quanto o uso off-road -, o Kicks provou ter um conjunto de suspensão parrudo.

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“Buchas de bandejas, pivôs, terminais. Tudo sem folgas, desgaste ou sinais de deformação”, diz Fukuda, que também não encontrou irregularidades na caixa de direção.

CARVÃO CONTROLADO

Desmontado, o motor foi elogiado: “O baixo índice de carbonização explica os bons números de pressão de compressão. Tanto o coletor de admissão quanto a cabeça dos pistões estão limpos. Apenas as válvulas mostram uma leve impregnação de carvão”, explica Fukuda.

Cilindros, pistões e virabrequim passaram com louvor nas análises dimensionais. O excelente estado do óleo do câmbio (isento de limalha e com cheiro e coloração normais) tornou desnecessária a abertura da caixa automática CVT.

Carroceria, acabamento e sistema elétrico chegaram ao fim do teste em perfeito estado, aumentando ainda mais a lista de destaques positivos do SUV.

Resultado: o Kicks se despede do Longa Duração tão carregado de elogios quanto o Honda HR-V. Já a desatenta e ineficiente rede Nissan ainda tem muito o que melhorar para ficar à altura do Kicks.

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Aprovadas

Zona de proteção

Desmonte Kicks
(Xico Buny/Quatro Rodas)

Com bancos e carpete retirados, vimos que a “infiltração” encontrada era apenas de poeira e outras pequenas sujeiras que caíram pelo vão do banco traseiro e junto aos trilhos dos dianteiros.

Nenhum sinal de invasão de poeira ou água. A análise também inclui uma minuciosa inspeção visual em busca de trincas e, felizmente, nada de irregular foi encontrado.

Suspensão

Desmonte Kicks
(Silvio Gioia/Quatro Rodas)

Todo o conjunto de suspensão foi aprovado. Nas bandejas, as buchas, os terminais e os pivôs sem sinais de desgaste ou folga excessiva ajudam a explicar a ausência de ruídos na cabine.

Bieletas também trabalhavam justas, unindo a barra estabilizadora aos amortecedores. Estes chegaram aos 60.000 km sem nenhum sinal de vazamento ou comportamento irregular. As molas, sem sinais de batida entre os elos, também foram aprovadas.

Válvulas

Desmonte Kicks
(Silvio Gioia/Quatro Rodas)

O índice de material carbonizado encontrado nas válvulas pode ser considerado normal para a elevada quilometragem. Mas teria sido ainda melhor se os retentores tivessem impedido com mais eficiência o escorrimento de lubrificante pela haste das válvulas de admissão. No Honda HR-V, o índice de carvão encontrado nas válvulas foi ainda menor.

Estado de novo

Desmonte Kicks
(Silvio Gioia/Quatro Rodas)

A pressão de compressão mínima tolerada pela Nissan é 145 psi, mas o valor mais baixo aferido durante o desmonte foi 185 psi. Em um motor novo, o valor considerado normal pela fábrica é 188,6 psi. Ou seja, o cilindro com menor pressão de compressão do nosso Kicks estava com a saúde parecida com a de um motor zero-quilômetro.

Coxins

Desmonte Kicks
(Silvio Gioia/Quatro Rodas)

Em rotação de marcha lenta, mal dava para perceber que o motor estava ligado. Mérito dos coxins, que impediam a transmissão das vibrações na cabine.

Pastilhas de freio

Desmonte Kicks
(Silvio Gioia/Quatro Rodas)

Raros são os carros que encaram o Longa Duração sem trocar ao menos as pastilhas dianteiras. O Kicks não passou por nenhum serviço nos freios e, ainda assim, tinha condições de chegar aos 70.000 km com as peças originais.

Atenção

Sistema de alimentação e ignição

Desmonte Kicks
(Silvio Gioia/Quatro Rodas)

Demos especial atenção às peças do sistema de alimentação e ignição. Bicos injetores, corpo de borboleta, velas, resistências de aquecimento do combustível.

Não encontramos nada que explicasse o desligamento súbito do motor em dias frios, um mal que a rede Nissan nunca conseguiu pôr fim. “Isso é preocupante, pois a inexistência de um fator que explicasse o problema pode significar uma falha ou limitação do projeto”, explica Fabio Fukuda.

Veredicto Quatro Rodas

Edição de dezembro de 2012, desmonte do Versa: neste mesmo espaço, dissemos que “a rede ofereceu um serviço aquém da boa fama dos japoneses”.

Quase cinco anos depois, a conclusão é a mesma, mas com um atenuante. Enquanto o Versa teve problemas no câmbio, motor e suspensão, o Kicks sai de cena tecnicamente elogiado e aprovado com louvor.

Linha do tempo (clique nos links para ler as matérias)

  • Setembro/2016: chegada à frota. O Kicks entrou logo após a saída de um outro SUV compacto, japonês e com câmbio CVT, Honda HR-V.
  • Outubro/2016: na primeira viagem longa, de 2.500 km, o tanque pequeno, a ausência de piloto automático e de um simples apoio de braço central deixaram claro que o Kicks é, de fato, um SUV urbano.
  • Novembro/2016: para testar a agilidade do serviço de remoção das fábricas, simulamos uma pane na frota. O atendimento da Nissan só não foi mais ágil do que o da Fiat.
  • Janeiro/2017: chaves presenciais facilitam a vida no dia a dia, mas são caras. Foi o que vimos ao apurar o quanto custava uma nova chave para cada carro da frota. A do Kicks saía por até R$ 1.658.
  • Março/2017: a Nissan orçou em R$ 71 um pedaço de borracha fina tipo EVA pouco maior do que uma moeda de R$ 1. Pouco tempo depois, a marca entrou em contato para informar a remarcação da etiqueta para R$ 25.
  • Julho/2017: novo teste conjunto. Dessa vez, o Kicks esnobou os outros carros da frota com seu sistema multicâmeras de visão 360 graus.
  • Agosto/2017: em estrada de cascalho, o lado aventureiro do Kicks: a boa altura em relação ao solo e a suspensão de curso longo foram elogiados.
  • Setembro/2017: a passagem por um buraco gerou uma bolha no pneu. Pagamos R$ 872 para colocar um novo no lugar.
  • Outubro/2017: na simulação de venda no mercado de usados, ouvimos uma boa oferta. Mas foi preciso garimpar.

Ocorrências

  • 6.716 km: motor falhando logo após a partida
  • 14.597 km: lâmpada do farol de neblina queimada
  • 15.238 km: motor morre logo após a partida
  • 21.398 km: revisão dos 20.000 km é refeita
  • 28.020 km: motor morre logo após a partida
  • 35.381 km: rangido na tampa do porta-malas
  • 35.757 km: motor morre logo após a partida
  • 41.343 km: motor morre logo após a partida
  • 59.500 km: dificuldade de partida em dia frio

FOLHA CORRIDA

Tabela de Preço

  • Em setembro de 2016 – R$ 91.840
  • Atual (modelo usado) – R$ 82.105
  • Atual (modelo novo) – R$ 98.390

Quilometragem

  • Urbano: 13.892 km (23,1%)
  • Rodoviário: 46.363 km (76,9%)
  • Total 60.255 km

Combustível

  • Utilizamos: 7.300 litros de etanol
  • Em reais: R$ 19.611,62
  • Consumo médio: 8,3 km/l

Manutenção (revisão/alinhamento)

  • 10.000 km – Itavema – R$ 411/R$ 199
  • 20.000 km – Orient e Carrera – R$ 953/R$ 250
  • 30.000 km – Fuji – R$ 419/R$ 160
  • 40.000 km – Sinal – R$ 565/R$ 170
  • 50.000 km – Oca – R$ 419/R$ 131

Extras

  • Lâmpada – R$ 64
  • Pneu – R$ 872

Custo por 1.000 km

  • Combustível – R$ 325,48
  • Revisões – R$ 45,92
  • Alinhamento – R$ 15,10
  • Extras – R$ 15,53
  • Total – R$ 402,03

Testes de pista (com etanol)

994 km 60.002 km Diferença
Aceleração de 0 a 100 km/h 12 s 11,7 s +2,56%
Aceleração de 0 a 1.000 m 34 s / 152,6 km/h 33,8 s / 151,6 km/h + 0,59% / – 0,66%
Retomada de 40 a 80 km/h (em D) 5,4 s 5,1 s + 5,88%
Retomada de 60 a 100 km/h (em D) 7,3 s 6,8 s + 7,35%
Retomada de 80 a 120 km/h (em D) 9,3 s 9,4 s – 1,06%
Frenagens de 60 / 80 / 120 km/h a 0 17 / 28,9 / 67,7 m 18,2 / 29,9 / 67,8 m – 6,59% / – 3,34% / – 0,15%
Consumo urbano 8,8 km/l 9,1 km/l + 3,30%
Consumo rodoviário 10,5 km/l 11,1 km/l + 5,41%

 

Ficha técnica – Nissan Kicks SL 1.6 2016/2017

  • Motor: flex, dianteiro, transversal, 4 cilindros em linha, 1.598 cm³, 16V, 78 x 83,6 mm, 10,7:1, 114/114 cv a 5.600 rpm, 15,5/15,5 mkgf a 4.000 rpm
  • Câmbio: automático, CVT, tração dianteira
  • Direção: elétrica, 3,1 voltas entre batentes, 10,2 m (diâmetro de giro)
  • Suspensão: independente, McPherson (diant.), independente, eixo de torção (tras.)
  • Freios: discos ventilados (diant.), tambores (tras.)
  • Pneus: 205/55 R17
  • Peso: 1.132 kg
  • Peso/potência: 9,93/9,93 kg/cv
  • Peso/torque: 73,03/73,03 kg/mkgf
  • Dimensões: comprimento, 429,5 cm; largura, 176 cm; altura, 159 cm; entre-eixos, 261 cm; porta–malas, 432 litros; tanque de combustível, 41 litros

 

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