Cinco carros que saíram de linha no Brasil, mas têm novas gerações lá fora
Astra, Corsa, C3, Fiesta e Clio são alguns dos modelos que saíram de linha por aqui, mas seguem vivos na Europa
Por muito tempo a indústria brasileira viveu sob o manto da proibição das importações. As quatro fabricantes instaladas, Chevrolet, Fiat, Ford e Volkswagen, não sentiam o peso da concorrência e mantinham seus automóveis em linha por longos anos.
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No entanto, com a abertura do mercado, em 1991, durante o breve governo de Fernando Collor, o cenário mudou e as marcas instaladas tiveram que botar a mão na massa. Foi assim que muitos modelos criados lá fora passaram a ser fabricados por aqui. Uma parte deles já virou história por aqui, mas continuam firmes e fortes em seus mercados de origem.
O fracasso, ou apenas a desistência de um modelo em nosso mercado, se deve a diferentes fatores. Eles podem ser de ordem regulatória ou financeira. Em tese, um carro morre no Brasil quando ele não pode ser mais produzido, como foi o caso do Volkswagen Gol (G4), assim como o Fiat (Uno) Mille. Deixaram de ser fabricados por não atender exigências de segurança.
O segundo fator é de ordem econômica. Na primeira geração, o carro vai bem, mas quando vira lá fora, geralmente ele fica mais caro para produzir. Isso porque o tempo em linha em mercados como o europeu é mais curto do que em mercados emergentes ou menos desenvolvidos. Isso sem contar que toda mudança de geração é acompanhada de inovações tecnológicas, sejam de comodidade, segurança ou eficiência, que tornam a produção mais complexa.
Assim, a solução tupiniquim, que surgiu nos últimos 20 anos, consiste em esticar a vida útil ao máximo e depois substituir por um produto regionalizado. Um bom exemplo é a dança das cadeiras entre o Clio e o Sandero.
Dessa forma, resolvemos listar 10 modelos que ganharam as linhas de montagens brasileiras, mas não conseguiram acompanhar seus pares estrangeiros e, pelo menos no Brasil, viraram história.
Chevrolet Astra
O Astra chegou ao Brasil em 1994, importado da Europa, assim como o Calibra e também o Tigra. Em 1998, a GM decidiu fabricar por aqui a segunda geração. Primeiramente era oferecido apenas com carroceria duas portas, que lhe conferia um visual moderno.
Seus motores eram os velhos 1.8 de 110 cv e 2.0 de 116 cv, combinados com caixa de cinco marchas. O modelo chegou a receber uma versão sedã, que se posicionava abaixo do Vectra, além de um hatch quatro portas.
Curiosamente, em 2007, a GM apresentou o Vectra GT, que era o Astra de terceira geração, assim como o Vectra de 2006 era o Astra Sedan europeu. O velho Astra e o pseudo-Vectra ficaram em linha até 2011.
Lá fora o Astra seguiu seu caminho e de certa forma, bem próximo do Brasil, pois a quarta geração do médio compartilha a mesma plataforma do Cruze (D2XX), que até hoje é feito na Argentina. Atualmente o modelo se desvinculou totalmente da GM, montado sobre a plataforma EMP2, desenvolvida pela PSA.
Chevrolet Corsa
Outro modelo da General Motors oriundo das europeias Opel/Vauxhall que chegou na primeira metade dos anos 1990 para concorrer com os importados. Na Europa o Corsa surgiu em 1982 e mudou em 1993, ganhando um desenho arredondado, que seguia a tendência da época.
Em 1994 ele estreou por aqui. Era o carro que a GM precisava para concorrer no segmento de populares com motor 1.0, que recolhiam IPI reduzido. Desde 1992, a opção da Chevrolet era o enfadonho Chevette Junior.
Essa geração ainda contou com motores 1.4 e 1.6. O Chevrolet Corsa ainda recebeu carrocerias quatro portas, sedã, perua e picape. O destaque ficou por conta da versão esportiva GSi, com seu motor 1.6 de 108 cv.
Em 2002, a General Motors apresentou a segunda geração do Corsa, que seguia a terceira do Velho Mundo, lançada em 2000. Agora não havia carroceria duas portas ou perua – para o lugar desta, nascia o monovolume Meriva, que atendia a onda das minivans por aqui. O Corsa Pick-Up se transformou na Montana. Em 2011 o Corsa se aposentou para a chegada do Agile.
Mas na Europa o Corsa recebeu esteroides. O compacto manteve sua carroceria duas portas. Em 2007 ganhou a edição OPC, com motor 1.6 turbo de 192 cv, que fazia do nosso Corsa SS uma piada de mau gosto.
Hoje, o Corsa está em sua sexta geração com direito a versão elétrica. O modelo foi um dos primeiros produtos da união com a PSA e utiliza a plataforma EMP1, do 208.
Citroën C3
O Citroën C3 chegou ao mercado brasileiro em 2003, um ano após sua estreia na Europa. Por lá, o compacto sucederia o Saxo. Por aqui, marcava a expansão da francesa como fabricante, na unidade de Porto Real (RJ). Foi o segundo produto da marca do duplo chevron feito por aqui. Antes dele, apenas o monovolume Picasso.
Seu desenho era uma releitura moderna do 2CV, com teto arqueado, como no clássico de 1948. Ele era equipado com motor 1.4 de 82 cv ou com 1.6 de 110 cv, que podia vier combinada com transmissão automática de quatro marchas. Unidades que eram compartilhadas com o Peugeot 206.
Essa geração ficou em linha até 2012, enquanto que na Europa, o C3 já tinha “virado” em 2009. Por aqui, a renovação só aconteceu em 2012, quando o modelo ganhou o motor 1.5 de 93 cv (uma atualização do antigo 1.4) e um pouco mais de fôlego no 1.6, que saltou para 122 cv.
O C3 ficou em linha no Brasil até 2021, quando simplesmente deixou de ser produzido. Na Europa, ele trocou geração em 2016, com visual mais aventureiro e destaque para o motor turbo 1.2 Puretech de 110 cv e 15 kgfm de torque, mas ainda a mesma plataforma do início do século.
No entanto, um novo Citroën C3 emergirá das cinzas por aqui. Trata-se de um modelo desenvolvido exclusivamente para mercados emergentes, e que agora vem sendo melhorado pela Stellantis às vésperas do lançamento.
O que se sabe é que o carrinho poderá contar com motores da família Firefly da Fiat. Inclusive tem sido flagrado constantemente em testes na unidade de Betim (MG).
Ford Fiesta
Se a GM sofria para tentar vender o “inanimado” Chevette Junior, a Ford também não teve dias felizes com o Escort Hobby 1.0, com seu motor de 52 cv. A solução foi importar da Espanha o Fiesta, a partir de 1995.
Equipado com o (malquisto) motor Endura 1.3 de 60 cv, esse carrinho foi substituído em 1996 pela quarta geração, que passou a ser montada em São Bernardo do Campo. Já em 2002, a quinta geração do Fiesta foi responsável pelo início das operações na planta de Camaçari (BA).
Essa geração ficou em linha por 12 anos e passou por duas reestilizações. Em 2011 passou a conviver com a sexta geração, com desenho inspirado no belíssimo conceito Verve. A princípio o novo Fiesta veio importado do México, mas ganhou cidadania brasileira em 2013.
O Fiesta seduziu o consumidor pelo estilo e seu motor 1.6 de 128 cv, que fazia dele um dos mais interessantes da praça. Ele chegou a ganhar uma versão 1.0 EcoBoost de 125 cv, em 2016. Mas o Fiesta foi golpeado pela chegada da terceira geração do Ka e também pelo trágico câmbio automatizado de dupla embreagem PowerShift.
Em fevereiro de 2019, o Fiesta saia de linha, como um spoiler do encerramento da atividade fabril da Ford, que aconteceria em janeiro de 2021.
Na Europa, o Fiesta seguiu seu caminho com muito mais vigor. A mesma sexta geração que por aqui engripou com a PowerShift, lá ganhou versão esportiva ST com motor 1.6 de 200 cv. Desde 2017, o Fiesta do Velho Mundo é oferecido em sua sétima geração, com direito a versão apimentada ST com motor 1.5 de 200 cv e 32 kgfm de torque. É inveja que fala?
Renault Clio
Mais um modelo que veio no embalo das “newcomers” que se instalaram no Brasil a partir da segunda metade dos anos 1990. O Clio estreou no Brasil primeiramente importado da Argentina, em 1996 e ganhou nacionalidade brasileira em novembro de 1999.
Moderninho, o Clio chegou com itens futuristas como air-bag e até mesmo para-lamas em material plástico. Ele era equipado com motores 1.0 de 59 cv e 1.6 de 90 cv.
A partir de 2007, o Clio perdeu espaço com a chegada do Sandero. Maior e desenvolvido pelo time de engenharia nacional, a versão dois volumes do Logan rebaixou o Clio a modelo de acesso.
Ainda sim, o carrinho ficou em linha por nada menos que 20 anos, deixando o mercado em 2019. Ele passou por três plásticas para disfarçar o peso da idade. E no final de sua carreira só restou o motor 1.0 de 80 cv.
E se por aqui o Clio (de segunda geração) durou uma encarnação, na Europa a fila andou bem mais rápido. Sem contar que por lá, o modelo ainda ganhou versões animalescas como Clio RS, com motor central V6 de 255 cv, que era o sucessor espiritual do R5 Turbo.
Em 2005, a geração brasileira já tinha sido aposentada nas ruelas estreitas do Velho Mundo. O Clio III tinha desenho moderno com versões duas e quatro portas, assim como uma perua. Destaque para a versão RS 2.0 de 204 cv, que rivalizava com o Peugeot 206 GTi.
Atualmente, o Clio está em sua quinta geração. Lançado em 2019, o modelo é uma espécie de Mégane em escala. Refinado, o modelo ganhou interior sofisticado, com direito a um imenso multimídia vertical de 9,3 polegadas, contado ao lado do quadro de instrumentos. Entre a lista de motores há a unidade 1.3 turbo de 130 cv e 24 kgfm de torque, além de versões a diesel e híbrida.
Clio, Astra, Corsa, C3 e Fiesta são exemplos de como o mercado brasileiro ainda é incapaz de andar de mãos dadas com o europeu. Seus pares de além-mar se tornaram muito sofisticados e proibitivos para o mercado brasileiro.