Os caçulas são difíceis de lidar. Normalmente mimados pelos pais e maltratados pelos irmãos mais velhos, eles fazem de tudo para chamar atenção.
Com a Saveiro é assim. Nascida depois de Gol, Voyage e Parati, ela sempre quis ser diferente, mas a rígida educação alemã nunca permitiu isso. Pelo menos até 2017, quando a Volkswagen resolveu que era hora de a picape ser independente. Eis o resultado: pela primeira vez em mais de três décadas, a Saveiro ganhou identidade própria.
As mudanças foram mais profundas (e perceptíveis) do que as feitas em Gol e Voyage. Na frente, grade e faróis ficaram maiores, o capô foi redesenhado e o para-choque ganhou traços inspirados no novo Tiguan.
Atrás, as alterações foram mais discretas, limitando-se a lanternas parecidas com as da Amarok e maçaneta da caçamba embutida no logotipo. Dos SUVs conceituais, como o T-ROC, veio a cor Azul Ravenna, exclusiva da Cross.
Na média, a Saveiro também ficou 32 mm mais alta, por conta da suspensão elevada e pneus maiores. Assim, todas as versões estão mais parecidas com a Cross.
A carroceria renovada combina com o interior repaginado do Gol, marcado pelos traços horizontais e melhor acabamento (painel mais macio, menos rebarbas nos plásticos).
Como o hatch, a Saveiro investe na conectividade, oferecendo quatro tipos de centrais multimídia, que permitem até espelhar a tela do celular e acessar aplicativos.
Tantas modificações têm um propósito bem definido. Além da necessidade de reduzir a vantagem da líder Fiat Strada, a VW tinha outra preocupação.
“Sabendo que outras marcas lançariam produtos novos (Renault Oroch e Fiat Toro), decidimos criar uma picape com personalidade mais forte em vez de mais um produto derivado do Gol”, admitiu Guilherme Knop, supervisor de design da VW.
Além da cara nova, a linha 2017 traz a inédita versão básica Robust, disponível apenas com cabine simples (R$ 43.530).
As versões Trendline (a única disponível com os três tipos de cabine) e Highline continuam em linha, mas ainda não foi desta vez que o veterano motor EA-111 1.6 de 104/101 cv foi trocado pelo moderno EA-211 1.6 16V (que equipa apenas a Cross) de 120/110 cv.
O preço básico da Saveiro Cross com cabine dupla (sem opcionais) é de assustadores R$ 80.690, um pouco mais que a Strada Adventure CD (R$ 78.690).
Com a cor metálica Azul Ravena das fotos e o pacote de equipamentos Connect (com central Discover Media e rodas aro 15), o valor da Saveiro chega a R$ 84.041. Já a Strada na cor Vermelho Alpino e com o sistema Locker pula para R$ 82.880.
Mas será que esse pacote de novidades é suficiente para a Saveiro conseguir superar sua rival? Para começar, 11 anos separam as atuais gerações de Strada e Saveiro. Enquanto a picape da Fiat estreou em 1998 (passando por cinco reestilizações), a Saveiro está entre nós desde 2009, com duas mudanças de lá para cá.
Para esconder o peso da idade, a Fiat apostou em encher a Strada de soluções inéditas na categoria, como o bloqueio eletrônico do diferencial Locker, o câmbio automatizado Dualogic e principalmente a cabine dupla, que ganhou a terceira porta em 2013.
Pode não ser bonita, mas a porta extra é um item de enorme conveniência, ao facilitar o acesso ao banco de trás.
De todas as inovações, porém, o bloqueio do diferencial (que na Saveiro dispensa acionamento por botão) e a cabine dupla já foram adotadas pela VW, sendo que a marca decidiu manter a carroceria com duas portas, abandonada pela Fiat há quase três anos.
Pelo menos uma semelhança elas têm: o diminuto espaço na parte traseira da cabine, suficiente apenas para dois adultos viajarem com relativo conforto.
Se na praticidade a Strada leva a melhor, a Saveiro dá o troco na ergonomia. É mais fácil se sentir à vontade na picape da VW, que oferece todos os comandos à mão e a posição de dirigir de automóvel.
O estilo de guiar da Strada, mais elevado, lembra um SUV, o que pode agradar a quem gosta desse tipo de veículo. Mas o motorista, dependendo da estatura, fica com os joelhos altos demais e a cabeça próxima do teto.
A Saveiro também ganha pontos nos detalhes, como o acabamento mais cuidadoso e a tampa da caçamba com amortecedores embutidos, que a deixa mais leve e permite um fechamento suave.
Com projeto mais atual, a Saveiro traz recursos de segurança inexistentes na Strada, como auxiliar de partida em rampa, ABS com função off-road (que permite um leve travamento das rodas para acumular terra e facilitar a frenagem) e controle de estabilidade.
Também oferece de série uma central multimídia mais completa, com direito a espelhamento da tela do celular – na Strada, o item é mais simples e vendido à parte. Na pista de testes, a picape da VW teve uma leve desvantagem em desempenho, mas venceu em frenagem e consumo.
Não há dúvida de que, apesar da idade avançada, a Strada ainda tem fôlego no mercado. No acumulado de 2017, ela vendeu 54.863 unidades – trata-se da picape mais emplacada do país, só que 95,2% das vendas são diretas, não no varejo.
A Saveiro vende menos (42.409 unidades), mas é bom a líder não baixar a guarda, pois a concorrente provou ser capaz de desbancá-la no comparativo das versões mais caras.
O jogo pode mudar quando a VW estender o eficiente motor 1.6 16V ao restante da gama. Quando isso ocorrer, a Fiat terá sérios motivos para se preocupar.
Avaliação do editor
Motor e Câmbio – Embora a Strada não desagrade, o câmbio de engates precisos e o motor 1.6 EA-211 fazem a Saveiro se sobressair.
Dirigibilidade – Fácil de manobrar e mais estável nas curvas, a Saveiro lembra um automóvel. A direção da Strada é pesada para uma picape do seu porte.
Segurança – Apenas a Saveiro tem ESP e ABS com função off-road; além dos itens obrigatórios, a Strada só acrescenta o EBD.
Seu bolso – Nenhuma delas é uma pechincha, mas a Saveiro entrega mais segurança e conforto que sua rival por um preço quase igual.
Conteúdo – Ambas são equivalentes na lista de itens de série e nos opcionais, embora a Saveiro tenha mais recursos eletrônicos.
Vida a bordo – Falta espaço na cabine das duas picapes, mas apenas a Strada oferece a comodidade da terceira porta.
Qualidade – O plástico de qualidade regular domina o interior de ambas, mas a Saveiro tem encaixes mais precisos do que a Strada.
Veredicto QUATRO RODAS
Apesar de líder de mercado e da exclusiva terceira porta, a Strada já sente o peso da idade, especialmente frente a uma rival mais moderna e com motor mais econômico. Melhor em conforto, preço, conectividade e segurança, a Saveiro acabou levando a melhor.
Teste de pista (com gasolina)
Saveiro Cross | Strada Adventure | |
---|---|---|
ACELERAÇÃO | ||
de 0 a 100 km/h: | 12,4 s | 12,3 s |
de 0 a 1.000 m: | 34,1 s – 148,2 km/h | 33,8 s – 151,6 km/h |
VELOCIDADE MÁXIMA: | 178 km/h | 179 km/h |
RETOMADAS | ||
de 40 a 80 km/h (3ª) | 8,2 s | 8 s |
de 60 a 100 km/h (4ª) | 14,1 s | 11,2 s |
de 80 a 120 km/h (5ª) | 24,4 s | 22,9 s |
FRENAGENS | ||
de 60 / 80 / 120 km/h a 0: | 14,4 / 26,2 / 59,7 m | 16,5 / 28 / 65,4 m |
CONSUMO | ||
Urbano: | 9,9 km/l | 9,1 km/l |
Rodoviário: | 15,5 km/l | 11,8 km/l |
RUÍDO INTERNO | ||
Neutro / RPM máximo: | 41,3 / 70,2 dBA | 42,6 / 75 dBA |
80 / 120 km/h: | 65,4 / 73,4 dBA | 63,4 / 70,6 dBA |
AFERIÇÃO | ||
Velocímetro real a 100 km/h: | 96,6 km/h | 90 km/h |
Rotação do diferencial a 100 km/h em 5ª marcha: | 2.800 rpm | 2.500 rpm |
SEU BOLSO | ||
Preço: | R$ 80.690 | R$ 78.690 |
Garantia: | 3 anos | 1 ano |
Concessionárias: | 636 | 600 |
Ficha Técnica
Saveiro Cross CD | Strada Adventure CD | |
---|---|---|
Motor: | flex, diant., 4 cil., 16V, 1.598 cm³, 76,5 x 86,9 mm, 11,5:1, 120/110 cv a 5.750 rpm, 16,8/15,8 mkgf a 4.000 rpm | flex, diant., 4 cil., 16V, 1.747 cm³, 80,5 x 85,8 mm, 11,2:1, 132/130 cv a 5.250 rpm, 18,9/18,4 mkgf a 4.500 rpm |
Câmbio: | manual, 5 marchas, tração dianteira | manual, 5 marchas, tração dianteira |
Direção: | hidráulica, 12,3 m (diâmetro de giro) | hidráulica, 11,3 m (diâmetro de giro) |
Suspensão: | McPherson (diant.), eixo de torção (tras.) | McPherson (diant.), eixo rígido (tras.) |
Freios: | discos ventilados (diant.), discos sólidos (tras.) | discos ventilados (diant.), tambor (tras.) |
Pneus: | 205/60 R15 (diant.) | 205/60 R16 |
Peso: | 1.119 kg | 1.253 kg |
Peso/potência: | 9,3 / 10,1 kg/cv | 9,5/9,6 kg/cv |
Peso/torque: | 66,6 / 70,8 kg/cv | 66,3/68,1 kg/mkgf |
Dimensão: | comprimento, 449,7 cm; largura, 173 cm; altura, 151,2 cm; entre-eixos, 275 cm; tanque de combustível, 55 l | comprimento, 447,1 cm; largura, 174 cm; altura, 164,8 cm; entre-eixos, 275,3 cm; tanque de combustível, 58 l |
Equipamentos de série: | ar-condicionado, assistente de partida em subidas, banco do motorista com ajuste de altura, capota marítima, central multimídia, controle de estabilidade, direção hidráulica, freios ABS com EBD, protetor de caçamba, rodas de liga leve, sensor de estacionamento traseiro, vidros e travas elétricas, volante multifuncional. | alarme, ar-condicionado, banco do motorista com ajuste de altura, bússola e inclinômetros, capota marítima, coluna de direção com regulagem de altura, computador de bordo, direção hidráulica, freios ABS com EBD, retrovisores com luzes de seta, protetor de caçamba, rodas de liga leve, sensor de estacionamento traseiro, vidros e travas elétricas. |