Tiramos a camuflagem e desvendamos o T-Cross, próximo SUV da VW
O modelo marca o contra-ataque da fabricante no segmento de SUVs. E nós revelamos todas as suas armas
Há quase seis anos a Volkswagen convocou o Neymar no Salão do Automóvel de São Paulo para mostrar um novo conceito de SUV, batizado de Taigun. O utilitário compacto parecia marcar a estreia da marca na parte de baixo do segmento que mais cresce no mundo. Só que, como o atacante brasileiro, a ofensiva da VW na categoria não aconteceu. Até agora.
O inédito T-Cross chega em 2019 com a promessa de liderar a onda de lançamentos da Volks para quem é fã de utilitário esportivo, acha o Tiguan muito caro ou só quer um aventureiro com posição de dirigir elevada.
QUATRO RODAS teve a oportunidade de guiar na Alemanha algumas unidades camufladas pré-série da versão europeia do modelo, mas pudemos ver a versão final do T-Cross – que será bem próxima das projeções que mostramos aqui.
Também detalhamos tudo o que se sabe sobre a novidade, a diferença entre versões (aqui ele terá só motores TSI), os equipamentos e a faixa de preço.
A começar pelo espaço interno: o T-Cross que será feito em São José dos Pinhais (PR) e na China tem um entre-eixo 8,6 cm maior que a versão europeia, feita na Espanha. Com isso, ele chega aos 2,65 metros de entre-eixos, superando HR-V (2,61 m) e Creta (2,59 m), apesar de ser mais curto.
Turbinado
Outra diferença, esta exclusiva para o Brasil, está na oferta de versões, composta só por motores TSI, de 128 cv (1.0) e 150 cv (1.4), com opção de câmbio manual de cinco marchas para os pacotes iniciais e automático de seis marchas nos demais.
A fábrica paranaense até produzirá uma versão 1.6 16V aspirada do T-Cross, mas ela será vendida apenas em outros países da região, como Argentina e Chile.
Um ponto que a Volkswagen fez questão de destacar é que o T-Cross brasileiro terá ESP e seis airbags de série (indisponível até para o Polo/Virtus, dotados de quatro bolsas).
Por aqui também teremos opção de teto solar panorâmico, inexistente na Europa, e opção de pintura em dois tons, como no Nissan Kicks. E executivos da marca anteciparam que o modelo nacional terá oito opções de cores, uma redução pequena diante da paleta de 12 tons da Europa.
É verdade que provavelmente três ou quatro cores serão diferentes variações de cinza e preto, mas pelo menos o T-Cross terá um nível de customização raro nesse segmento.
O interior, por exemplo, poderá receber elementos em diferentes tons, como acontece com o Polo europeu. Uma ousadia é a adoção de um elemento de ligação que simula uma lanterna contínua sobre a tampa do porta-malas.
Mas, ao menos no protótipo que vimos sem camuflagem, essa solução não agradou aos jornalistas presentes. A sensação é que não estamos diante de um VW, e o excesso de plástico preto brilhante na peça não resultou em uma solução tão elegante como no Peugeot 3008.
A cabine, por outro lado, segue uma linha mais conservadora, apesar das peças coloridas na parte superior.
Não pudemos fotografar o painel, mas ele é muito similar ao encontrado no Polo (confira na projeção abaixo), com direito a sistema multimídia com tela de 8 polegadas, painel digital nas versões topo de linha e suporte para celular no painel.
O posicionamento dos conectores no console à frente do câmbio também melhorou, ficando mais para fora – mas ainda sem iluminação, como há no EcoSport e Renegade.
A ousadia interior fica por conta dos equipamentos que serão oferecidos. As opções incluem faróis de led com facho alto automático e sistema de estacionamento automático capaz até de estacionar em vagas de 90º entrando de frente – algo especialmente útil em supermercados.
O controlador de velocidade adaptativo com frenagem automática e assistente de manutenção de faixa, no entanto, podem não vir ou serem oferecidos apenas na versão mais cara.
Culpa do pneu
Por falar em fazer compras, o porta-malas do modelo nacional será menor. Na Europa o compartimento vai entre 385 e 455 litros de volume, dependendo do posicionamento do banco traseiro, que tem encosto e assento ajustável.
Já o SUV nacional vai variar entre 345 e 390 litros (números estimados pela própria VW, pois o valor final será confirmado após a homologação).
A diferença se dá por um velho vilão dos porta-malas brasileiros: o estepe. “Não usaremos no T-Cross nacional um estepe temporário ou o compressor com selante. Por conta disso, o pneu de tamanho maior irá roubar parte do espaço no porta-malas”, explica José Loureiro, gerente executivo de desenvolvimento de veículos na Volkswagen do Brasil.
Se o compartimento de bagagem, com volume modesto (mas dotado de assoalho regulável, como no Virtus) e estreito, pode não empolgar as famílias, o mesmo não pode ser dito do espaço interno, sobretudo o traseiro.
Mesmo mais curta, a versão europeia já entrega conforto de sobra para dois adultos. As duas fileiras de assento foram elevadas, mas a posição mais alta dos bancos posteriores acabam criando a “visão de cinema”. Quem for atrás também terá bom espaço para a cabeça, difusor do ar-condicionado e duas entradas USB.
A espuma do banco das unidades avaliadas não era tão macia e o comprimento do assento pode incomodar quem tiver pernas mais compridas. Esses detalhes, porém, podem ser modificados na versão nacional.
Outra coisa que mudará será o câmbio automático: sai a caixa robotizada de sete marchas e dupla embreagem e entra o tradicional automático de seis marchas presente em quase toda a gama da Volks brasileira.
A marca irá oferecer o T-Cross 1.0 TSI com câmbio manual de cinco marchas, mas essa é uma versão restrita a entusiastas dos três pedais. Não que isso seja um problema.
São grandes as chances do T-Cross manter o bom casamento do motor TSI com o câmbio automático convencional, como já acontece no Polo. A força extra propiciada pelo etanol virá a calhar no modelo brasileiro, que será cerca de 50 kg mais pesado.
Firmeza alemã
Mas, mesmo assim, não espere um desempenho de abrir os olhos: em nosso contato com as versões 1.0 manual e automática não houve modo de condução, que inclui quatro perfis, que transforme o T-Cross 200 TSI em um carro capaz de acompanhar 2008 THP e Creta 2.0.
Para eles, haverá a versão 1.4 250 TSI, que não estava disponível para teste. O motor 1.0 turbo é suficiente para a maior parte do tempo, e arrancadas são feitas sem vibrações excessivas e com constante entrega de torque.
A suspensão usa a receita clássica: McPherson e eixo de torção atrás. A boa notícia fica por conta dos freios, sempre a disco nas quatro rodas. No protótipo o conjunto era um pouco duro, mesmo com pneus de perfil mediano (205/55 R17).
Mas o modelo nacional deve ganhar uma calibração mais macia sem perder a ótima resposta da direção elétrica. O isolamento acústico é adequado, mas as unidades avaliadas apresentavam ruído aerodinâmico excessivo acima dos 100 km/h na região dos retrovisores e base da coluna A.
O T-Cross pode não surpreender no mercado como foi com o retilíneo Renegade ou o espaçoso Creta. Mas ele pegou as virtudes de seus rivais sem repetir a maioria dos seus erros. O latifúndio no banco traseiro é o suficiente para agradar até quem for mais alto, e o pacote de tecnologias compensa o visual conservador.
Claro que tudo isso depende de um preço atraente. Se o T-Cross orbitar de R$ 75.000 a R$ 110.000, ele pode dar trabalho aos líderes do segmento. Mas, se a VW abusar da etiqueta, o SUV pode ser como o Neymar na Copa: ter inúmeros talentos, mas ser lembrado apenas por seus erros.
Ficha técnica – T-Cross 200 TSI *
- Preço: R$ 75.000 (estimado)
- Motor: gasolina, dianteiro, transversal, três cilindros em linha, 12V, turbo, injeção direta, 999 cm3, 115 cv de 5.500 rpm*, 20,4 mkgf de 2.000 rpm*
- Câmbio: automatizado, dupla embreagem, sete marchas, tração dianteira
- Suspensão: McPherson (diant.) /Eixo de torção (tras.)
- Freios: disco ventilado (d) / disco (t)
- Direção: elétrica
- Pneus: 205/55 R17 (unidade avaliada)
- Dimensões: compr., 410,7 cm; larg., n/d; alt., 155,8 cm; entre-eixos, 256,3 cm; peso, n/d; tanque, n/d; porta-malas, 345 l a 390 l
* Valores estimados
T-Cross e seus rivais
T-Cross (Europa) | T-Cross (Brasil) | Jeep Renegade | Hyundai Creta | Honda HR-V | |
Comprimento (M) | 4,11 | 4,19 | 4,23 | 4,27 | 4,29 |
Altura (M) | 1,56 | 1,57 | 1,70 | 1,63 | 1,59 |
Entre-eixos (M) | 2,56 | 2,65 | 2,57 | 2,59 | 2,61 |
Porta-malas (L) | 385 a 455 | 345 a 390 | 320 | 431 | 437 |
Futuro aventureiro
A Volkswagen pretende tirar o atraso no segmento de SUVs com uma onda mundial de lançamentos nas mais diferentes faixas de tamanho e preço. Por aqui, isso vai se refletir em quatro novos modelos – todos com a plataforma MQB e suas variantes – e readequações na linha Tiguan.
O complexo e caro Touareg, porém, não vai chegar à nova geração por aqui, deixando para a irmã Audi a faixa de preço acima dos R$ 300.000.
- CUV AO
PREÇO: R$ 60.000 a R$ 70.000
COMPRIMENTO: 4,0 metros (estimado)
O sucessor espiritual do CrossFox chega em 2020 usando uma versão ainda mais curta da MQB, chamada de A00. A base também será usada no novo Gol.
- T-Cross
PREÇO: R$ 75.000 a R$ 110.000
COMPRIMENTO: 4,19 metros
A versão alongada especificamente para mercados emergentes irá passar dos seis dígitos nos pacotes mais caros com o motor 1.4 250 TSI usado no Golf.
- Tarek/Tharu
PREÇO: R$ 110.000 a R$ 140.000
TAMANHO: 4,40 metros (estimado)
O modelo virá da Argentina em 2020 com a mesma plataforma do Tiguan, mas será posicionado estrategicamente com um alvo específico: Jeep Compass.
- Tiguan
PREÇO: R$ 140.000 a R$ 180.000
TAMANHO: 4,70 metros
A versão de cinco lugares do modelo deve sair de cena para abrir espaço ao Tarek. A concorrência interna também fará com que o Tiguan ganhe mais equipamentos.
- Atlas Cross Sport
PREÇO: R$ 180.000 a R$ 300.000
TAMANHO: 4,84 metros (conceito)
A carroceria de cinco lugares com perfil de cupê do enorme Atlas irá substituir em 2019 o caro Touareg no topo da gama de SUVs da Volkswagen no país.