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Desmonte do Mitsubishi Outlander revela SUV mais forte que sua suspensão

Primeiro Mitsubishi a passar pelo Longa Duração, o Outlander é japonês legítimo. Agora desmontado, reforça a boa fama dos carros do seu país natal

Por Henrique Rodriguez Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO
15 abr 2021, 04h01
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  • QR 743 DESMONTE OUTLANDER ABRE 01 - Cópia
    Carro grande tem mais peças, mas foi difícil achar alguma em mau estado (Fernando Pires/Quatro Rodas)

    O código de honra dos samurais diz que a vida é limitada, mas o nome e a honra podem durar para sempre. O Mitsubishi Outlander teve a oportunidade de construir seu nome e sua reputação na jornada de 60.000 km do Longa Duração com a responsabilidade de ser o primeiro do seu clã, ou melhor, da sua fabricante, a ser submetido ao maior teste da imprensa automotiva brasileira. E olha que Lancer e ASX chegaram a ser cogitados em outras oportunidades, no passado.

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    Essa dúvida acabou quase que por acaso. Uma das áreas de promoção da Editora Abril havia comprado algumas unidades do Outlander diretamente com a fábrica e decidimos arriscar um pedido: “Podemos ficar com um deles para o teste de Longa Duração?” Deu certo.

    O Mitsubishi Outlander HPE-S com motor 2.2 turbodiesel é o mais caro da família e bem abrangente do ponto de vista do teste, por suas características técnicas como ter um dos bem-afamados motores diesel da marca japonesa; a carroceria monobloco como os ASX, Outlander Sport e Eclipse Cross; um completo pacote de assistências eletrônicas que ainda chamam atenção entre os SUVs médios; e o sistema de tração integral da Mitsubishi. Além, claro, de permitir acompanhar de perto o trabalho das concessionárias autorizadas.

    Não quer dizer que não há como comparar o Outlander com outros carros que passaram pelo teste. Nosso Mitsubishi chegou no fim de 2019 justamente como substituto para o Jeep Compass 2.0 turbodiesel, que ainda hoje é um dos SUVs com motor a diesel mais vendidos do Brasil. O Outlander é uma das poucas alternativas a ele.

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    chassi outlander
    Carroceria monobloco passou intacta pelo teste e revelou excelente isolamento (Fernando Pires/Quatro Rodas)

    Em outras palavras, já estávamos habituados – e até mal-acostumados – às vantagens dos motores diesel, como o bom torque (distribuído às quatro rodas por meio de um sistema de tração integral), a grande autonomia e a disposição para a estrada.

    Mesmo assim, o Outlander se destacou pela suavidade do conjunto mecânico. As vibrações e o ruído do motor são bem isolados e não houve nenhuma reclamação para o funcionamento do câmbio automático de seis marchas, só uma ressalva para a falta de trocas sequenciais na alavanca – ainda que existam borboletas atrás do volante com a mesma função. Só para lembrar, o câmbio automático de nove marchas do Compass precisou ser reprogramado para parar de dar tranco nas trocas.

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    A atuação do sistema de tração do Outlander também mostrou seu valor. Uma de suas provas mais ousadas foi encarar um circuito próprio para 4×4 e surpreender donos de jipes realmente capacitados para o desafio. A maior preparação para o Outlander é a possibilidade de bloqueio do diferencial central, visto que seus pneus são de asfalto e o vão livre do solo é de modestos 19,1 cm. Mérito todo do Mitsubishi.

    Peças do motor mitsubishi Outlander
    (Arte/Quatro Rodas)

    O convívio com o Outlander foi especialmente tranquilo. Quase não houve gastos extras ou mesmo acidentais. Os únicos imprevistos, na verdade, foram quebras de dois clipes dos cintos de segurança que os prendem quando a terceira fila de assentos está rebatida no assoalho. Nem sequer houve pneus furados ou substituição: a vida útil dos Goodyear Eagle LS foi exatamente a duração do nosso teste.

    De incidentes, vale lembrar dos sustos pregados pelo sistema de frenagem autônoma de emergência na primeira metade do teste, quando eventualmente freava o carro sem motivo aparente e gerava um risco de colisão traseira.

    Mas o piloto automático adaptativo era eficiente, assim como o alerta de colisão e o alerta de mudança involuntária de faixa. Só o assistente de farol alto automático que às vezes jogava luz alta inadvertidamente, por não ter identificado outro carro à frente ou no sentido contrário.

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    Peças do motor e carroceria mitsubishi Outlander
    (Arte/Quatro Rodas)

    Se o Outlander acabou conquistando nossa confiança, o mesmo não se pode dizer da rede Mitsubishi. As revisões caras (o serviço de 50.000 km foi o mais caro: R$ 1.780) podem ser explicadas pelo preço das peças de um carro fabricado no Japão, mas o preço fixo poderia ser menor sem a inclusão de flush (R$ 90 na revisão dos 20.000 km) para a limpeza interna do motor ou de aditivo para o combustível (R$ 130 aos 50.000 km). Na revisão dos 30.000 km, feita na concessionária Brabus, o flush foi oferecido como um serviço à parte por, pasmem, R$ 400 e aos 50.000 km o filtro do ar-condicionado foi instalado ao contrário. Vale lembrar que na Mitsubishi as revisões ainda são semestrais, não anuais.

    Gasto elevado inevitável foi o da troca das pastilhas de freio traseiras e da retífica dos discos traseiros aos 40.000 km. Foi a primeira vez que um carro teve intervenção no conjunto de freios traseiros antes das pastilhas dianteiras chegarem ao fim da vida útil. O serviço custou R$ 1.345 e acabou resultando na troca dos discos por outros que originalmente eram de outro carro. Geralmente a recomendação é a troca por discos novos.

    Algumas coisas nós conseguimos perceber ao longo do teste, outras só aparecem agora com o completo desmantelamento do carro. Então vamos por partes.

    Peças de atenção mitsubishi Outlander
    (Arte/Quatro Rodas)
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    “Fiz uma última rodagem com o carro antes da desmontagem para deixar o motor em sua temperatura normal de trabalho e detectei trepidação no pedal de freio e barulhos na suspensão traseira ao passar por valetas que induzissem a torção na carroceria”, explica o técnico Fábio Fukuda. “Com o motor ainda quente, executei testes de pressão de óleo do motor e de compressão dos quatro cilindros do motor e todos os valores se mantiveram dentro do esperado pela fabricante”.

    Diesel vs. Gasolina

    Na comparação com o Citroën C4 Cactus (desmontado em novembro de 2020), gastamos R$ 5.712 e 543 litros a menos com o Outlander em 60.000 km. É a vantagem do diesel, que é mais barato e rende mais que a gasolina: média global de 12,1km/l no Mitsubishi e 10,9 km/l no Citroën.

    A desmontagem seguiu para as rodas, revelando os conjuntos de freio. Discos e pastilhas dianteiros, ainda originais, estavam surpreendentemente com as respectivas espessuras dentro dos padrões, mas o desvio lateral de 0,20 mm no disco dianteiro esquerdo e 0,13 no dianteiro direito revelaram a causa da trepidação: discos empenados.

    Partimos para a suspensão. Na dianteira, encontramos bieletas com folga acima do normal, mas os mancais da barra estabilizadora apresentavam ainda mais desgaste. Contudo, sem folgas excessivas. As demais buchas e rótulas do conjunto McPherson estavam perfeitas, assim como os terminais da direção.

    Peças de atenção mitsubishi Outlander
    (Arte/Quatro Rodas)
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    Seguindo para a traseira, encontramos os mancais de barra estabilizadora desgastados e desta vez, sim, com folga excessiva. Era justamente a fonte do barulho, junto com as pequenas bieletas traseiras também desgastadas.

    “Essa folga era o que causava o movimento estranho da traseira percebido pelo meu pai (o mecânico Yutaka Fukuda) por volta dos 50.000 km”, explica Fábio. No fim das contas, os amortecedores eram inocentes na história e chegaram ao final do teste sem vazamentos ou desgastes axiais. Só os pratos das molas traseiras é que revelaram desgaste, com suas borrachas bem marcadas e prestes a romper em alguns pontos.

    CORAÇÃO MECÂNICO

    O motor 4N14 (2.2) só é usado no Outlander aqui no Brasil, mas é da mesma família do 4N15 (2.4) que equipa a picape L200 e o SUV Pajero Sport, então vale ficar bem atento ao que vem por aí.

    Peças Mitsubishi Outlander Longa Duração (40)
    Cabeçote do motor (Renato Pizzuto/Quatro Rodas)

    Lançada em 2010, essa família de motores (4N1) tem comando de válvulas variável na admissão e no bloco de alumínio. Se por um lado isso obriga uma taxa de compressão menor (14,9:1 neste 2.2, quando um motor diesel pode chegar aos 18:1), leva vantagem no peso total.

    “Na desmontagem, me chamou atenção como é fácil retirar os dutos dos injetores, mas os conectores de pressão precisam ser substituídos após cinco retiradas”, pondera Fukuda. Ao sacar o cabeçote, encontramos as câmaras de combustão limpas para o que se espera de um motor diesel, mesmo que tenha passado os 60.000 km queimando apenas diesel S10. Sinal de que as velas aquecedoras (de cerâmica, com performance melhor) estavam em bom estado e da boa estanqueidade do motor.

    Peças Mitsubishi Outlander Longa Duração (40)
    Virabrequim saiu sem qualquer marca de desgaste (Renato Pizzuto/Quatro Rodas)

    Seguindo a desmontagem, não encontramos nenhum desgaste no virabrequim, em suas bronzinas de mancais e nas bielas. O que sinaliza que ter defasagem angular entre os tempos do motor ajudou a reduzir os atritos, mas também é preciso destacar que as bronzinas superiores das bielas têm tratamento diferenciado, que pode ser distinguido pela coloração própria, para ter maior resistência a desgaste prematuro provocado pelo turbo (que, neste caso, é de geometria variável e também foi encontrado em perfeito estado).

    folha corrida mitsubishi outlander
    (Arte/Quatro Rodas)

    A boa percepção continua na análise dos pistões e da parede dos cilindros, com todos os parâmetros dentro do especificado pelo fabricante para um motor novo. “Percebi um acúmulo de sujeira apenas entre o topo do pistão e o primeiro anel raspador, onde não compromete o funcionamento do motor”, apontou Fukuda.

    Sem problemas relatados no uso do carro, o câmbio automático de seis marchas W6AJA, compartilhado com o Outlander V6, teve seu fluido lubrificante analisado. O mesmo foi feito com os diferenciais e com a caixa de transferência da tração integral. Com coloração normal e sem sinais de impurezas que pudessem indicar problemas, os mantivemos lacrados.

    Em resumo, o conjunto mecânico do Mitsubishi Outlander deu um show de durabilidade.

    A estrutura do SUV também mostrou uma qualidade superior. Todos os painéis plásticos da carroceria e do interior foram encontrados bem fixados e sem quaisquer sinais de deformação, algo que já esperávamos pela falta de relatos de barulhos de acabamento. Também não notamos sinais de infiltração de água ou poeira dentro do habitáculo, um mérito das boas vedações esperadas de um carro que eventualmente terá incursões no fora de estrada ao longo de sua vida útil.

    Além dos chicotes bem presos, os terminais elétricos estavam íntegros e sem sinais de oxidação. “Tomadas de passagem bem localizadas facilitaram muito o nosso trabalho de desmontagem”, destaca a equipe da Fukuda Motorcenter.

    folha corrida mitsubishi outlander
    (Arte/Quatro Rodas)

    O Mitsubishi Outlander não é um SUV com chassi de longarinas, é monobloco. Mesmo assim, a robustez de sua estrutura nos surpreendeu muito. Nosso teste mostrou que o que ainda o distancia de um SUV raiz é o desgaste da suspensão.

    Por ter tração integral, está mais propenso ao uso em terrenos acidentados que um SUV com tração 4×2, o que poderia agravar ainda mais as folgas encontradas. Por conta do porte e do peso (1.717 kg), os freios poderiam ser, também, mais robustos, visto que o teste de 60.000 km representa apenas uma fração da vida útil de um carro tão forte como este Outlander demonstrou ser.

    Veredicto – Após se mostrar um carro confiável no uso e ter vários pontos de destaque na desmontagem, com poucos sinais de atenção e nenhuma falta grave, o Mitsubishi Outlander está aprovado no Longa Duração. Só ficam as ressalvas para os altos custos de manutenção e a atuação da rede Mitsubishi.

    Ficha técnica – Mitsubishi Outlander HPE-S Diesel

    Versão: 2.2 Turbodiesel HPE-S
    Motor: 4 cilindros, dianteiro, transversal, 16V, 165 cv a 3.500 rpm, 36,7 mkgf a 7.500 rpm
    Câmbio: Automático de 6 marchas, tração 4×4
    Seguro: R$ 3.750 (Perfil Quatro Rodas)
    Revisões: Até 60.000 km – R$ 8.404
    Combustível: Diesel S10

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    CAPA 743
    (Arte/Quatro Rodas)
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