VW Virtus Exclusive quer ser luxuoso como o Santana EX, mas consegue?
O melhor Santana da primeira geração foi a inspiração do novo Virtus Exclusive, mas será que ele faz jus ao sedã de 33 anos atrás?
A Volkswagen tirou o pé no segmento de sedãs médios no Brasil faz alguns anos. Hoje só vende o Jetta GLI, uma versão esportiva com 231 cv, por R$ 239.390. Mas aproveitou a reestilização do Virtus para tentar fazer dele o substituto dos Jetta com motor 1.4 TSI. Mas a inspiração para isso foi o velho Santana.
A Volkswagen transformou o Virtus GTS, que passou bem longe de ser um sucesso de vendas, no Virtus Exclusive. A proposta é entregar uma esportividade mais sóbria, com as mesmas rodas aro 18 de antes, mas agora pintadas de cinza, assim como os frisos e as capas dos retrovisores. Os logotipos, porém, são pretos.
Talvez esteja aí a prometida inspiração no Volkswagen Santana EX, lançado no início de 1990 e que foi a melhor versão da primeira geração do Santana no Brasil. Certamente, também foi a mais cara da sua história. Tudo devido a uma série de equipamentos que só ele tinha.
No Santana EX, a moldura dos vidros, retrovisores e frisos eram cinza e a parte superior dos para-choques vinha na cor grafite. Também tinha grade exclusiva, com três filetes, molduras sob as portas e vidros laterais e traseiro verdes. Ainda tinha um grande aerofólio traseiro com uma terceira luz de freio integrada. O Virtus tem um pequeno spoiler preto.
Há 33 anos, o requinte da versão também vinha de elementos que hoje são banais entre carros compactos como o próprio VW Virtus, como as lanternas escurecidas, a antena no teto (o Santana EX usava uma tampa plástica para fechar o buraco da antena telescópica no para-lama) e até as rodas estilo BBS aro 14, com pneus 185/60 HR 14 Pirelli P-600. Elas eram tão ou mais imponentes que as aro 18 de hoje.
Cabine foca no acabamento
O “EX” do Santana vem de “Executivo” e sua proposta também estava em aumentar o requinte na cabine. Havia travamento central, vidros elétricos e bancos Recaro que, como opcional, poderiam receber couro argentino na cor cinza. O painel de dois tons tinha toque macio na parte superior.
O quadro de instrumentos com iluminação vermelha inspirava alguma esportividade e parecia visualmente integrado ao rádio toca-fitas e aos comandos do ar-condicionado. É curioso notar que esse efeito se repete no Virtus, mas com um quadro de instrumentos digital (que pode ganhar grafismos vermelhos no modo Sport) e com a tela de 10 polegadas da central multimídia VW Play – que dispensou o CD Player que ficava no porta-luvas.
E se reparar bem, os controles táteis do ar-condicionado digital também são de arrastar. É preciso passar o dedo no local certo para mudar a velocidade do vento e a única zona de temperatura. É o presente repetindo o passado. Mas na falta de nichos para colocar fitas cassete, há um porta-objeto com carregador sem fio para smartphones.
O requinte do Virtus Exclusive é um tanto quanto duvidoso. Os plásticos do acabamento são duros e o máximo que fizeram foi colocar um vinil com costuras cinza numa faixa do painel. Os bancos não são revestidos de couro, mas de um material sintético com costuras duplas que até é de série, mas é mais quente. Por outro lado, as saídas de ar-condicionado traseiras nem sequer existem no Jetta.
Motores de esportivos
Quem espera mais conforto no Virtus Exclusive pode se decepcionar, pois mantiveram o mesmo acerto firme da suspensão do Virtus GTS. Na verdade, nem sequer retiraram um dispositivo que faz a parede corta-fogo e o parabrisas vibrarem para forjar um ronco falso do motor.
Por sinal, o motor é o mesmo 1.4 TSI de 150 cv e 25,5 kgfm, compartilhado com o Polo GTS, assim como o câmbio automático de seis marchas. O desempenho é bom, com 0 a 100 km/h em animadores 9,4 s, garantindo consumo de de 11,7 km/l na cidade e 16,5 km/l na estrada. Na verdade, anda mais e gasta menos que o antigo Jetta 1.4.
Mas o Virtus não tem aura de esportivo como o Santana EX, único que recebeu o mesmo motor 2.0 AP injetado que estreou no Gol GTI meses antes. Era um motor com 125 cv e 19,5 kgfm, mais modestos que os do 1.0 TSI do Virtus Highline (128 cv e 20,4 kgfm), mas sua combinação com o câmbio manual de cinco marchas do GTI. O câmbio automático de três marchas era opcional, mas pouco requisitado devido às suas limitações técnicas que condenavam a melhora no desempenho.
Este ainda foi o primeiro Volkswagen Santana com freios a disco ventilados nas rodas dianteiras (o Virtus tem disco sólido nas traseiras, diga-se) e também o primeiro com amortecedores a gás, que nos anos seguintes tornariam-se padrão na indústria.
Tudo isso combinado com a direção hidráulica progressiva resultavam em estabilidade, silêncio, suavidade e um conforto vindo da qualidade do ar-condicionado que realmente faziam o Santana EX ser um carro nacional distinto e muito diferente dos demais Volkswagen.
O Volkswagen Virtus Exclusive ainda tem equipamentos de segurança de última geração, como piloto automático adaptativo e frenagem de emergência. Mas não foge em nada ao padrão dos Volkswagen, tampouco traz algum equipamento inédito ou revolucionário. Pelo menos, custa relativamente barato.
Na verdade, toda a primazia técnica do Santana EX pesava muito no seu preço. Ele partia dos NCz$ 1.400.000 em fevereiro de 1990, ou 60% mais que o Santana GLS que já era um carro completo e caro. Convertendo a valores atuais pela inflação do IPC-SP, seu preço podia variar entre R$ 338.500 e R$ 445.900, dependendo dos opcionais.
Pelo menos nisso o VW Virtus Exclusive não se inspirou no Santana EX. O sedã compacto com pinta de médio custa R$ 150.990 e não tem opcionais. Por sinal, suas opções de cores também são limitadas: há branco, preto, cinza e prata. O veterano Santana ainda podia ter um tom de vinho e um azul – o mesmo do Gol GTI.
Ficha técnica – Volkswagen Santana EX
- Motor: gasolina, dianteiro, longitudinal, 4 cilindros em linha, 1984 cm³, injeção eletrônica, 125 cv a 5.800 rpm, 19,5 kgfm a 3.000 rpm
- Câmbio: manual de 5 marchas, tração dianteira
- Direção: hidráulica progressiva
- Suspensão: McPherson (dianteira) e eixo de torção com braços longitudinais tubulares(traseira)
- Freios: a disco ventilado (diant.) e tambor (tras.)
- Pneus: 195/60 HR 14
- Dimensões: comprimento, 453 cm; largura, 169 cm; altura, 140 cm; entre-eixos, 255 cm; peso: 1 150 kg
Teste QUATRO RODAS – Março de 1990
- Aceleração 0 a 100 km/h – 11,5 s
- Velocidade máxima – 168,5 km/h
- Frenagem 80 km/h a 0 – n/d
- Consumo – 8,84 km/l (cidade) e 11,99/12,90 km/l (estrada, a 100 km/h, carregado/vazio)
Ficha técnica – Volkswagen Virtus Exclusive
- Motor: flex, dianteiro, 4 cilindros, 16V, 1.395 cm³, 150 cv (etanol/gasolina) a 4.500 rpm (e) e 5.000 rpm (g), 25,5 kgfm a 1.500 rpm
- Câmbio: automático, 6 marchas, tração dianteira
- Direção: elétrica
- Suspensão: McPherson (dianteira) e eixo de torção (traseira)
- Freios: a disco (tras.) e disco ventilado (diant.)
- Pneus: 205/45 R18
- Dimensões: comprimento, 456 cm; largura, 175,1 cm; altura, 148 cm; entre-eixos, 265,1 cm; peso, 1.258 kg; porta-malas, 521 litros; tanque de combustível, 49 litros
Teste QUATRO RODAS – Outubro de 2023
- Aceleração 0 a 100 km/h – 9,4 s
- Velocidade máxima – 207 km/h*
- Frenagem 80 km/h a 0 – 24,5 m
- Consumo – 11,7 km/l (cidade) e 16,5 (estrada)
*Dado de fábrica com gasolina