Comparativo: VW Virtus GTS tem preço de Jetta, mas é tão bom quanto?
Sedã esportivo tem mesmo motor e quase o mesmo preço de um Jetta Comfortline. Mas propostas são bem diferentes, então veja qual entrega mais
Sedãs costumam não ser tão atraentes quanto carros esportivos como cupês, hatches ou mesmo peruas. Tanto que a existência do VW Virtus GTS foi muito contestada internamente, na fábrica.
Basicamente, o três-volumes esportivo só saiu do papel graças a José Carlos Pavone, chefe de design da marca no país e “pai” do projeto.
Controverso ou não, o fato é que ele nasceu: com a mesma frente, as mesmas rodas e a mesma estilização de cabine do irmão Polo GTS, mais uma traseira discretamente incrementada com lanternas escurecidas, defletor do para-choque e régua na tampa do porta-malas em preto-brilhante.
E com o status de primeiro sedã da Volkswagen a receber a sigla esportiva intermediária entre o GT e o GTi.
Só que a brincadeira terá um preço: R$ 104.940 mais R$ 1.570 por pintura metálica (como o Cinza Platinum da unidade que ilustra esta reportagem) e R$ 2.160 pelo pacote opcional que inclui sistema de som Beats (quatro alto-falantes, dois tweeters, amplificador e subwoofer). Total: R$ 108.670.
A etiqueta assustou potenciais compradores e logo levantou a lebre: por esse valor, não é mais negócio levar para casa um Jetta?
Afinal, o sedã médio da marca parte de R$ 99.990 e vem equipado com o mesmo conjunto motriz: motor 1.4 turbo flex de 150 cv e 25,5 mkgf aliado a câmbio automático de seis marchas. É por isso que criamos este comparativo.
Entretanto, a versão escolhida do Jetta foi a intermediária Comfortline 250 TSI, mais parelha ao Virtus GTS no pacote de equipamentos.
Quando reunimos os dois modelos, tal configuração custava apenas R$ 5.000 a mais do que seu primo menor. Alguns dias depois, porém, a Volkswagen reajustou seu valor para R$ 114.990, chegando a R$ 121.690 com teto solar (opcional) e cor metálica.
Apesar da nova diferença de até R$ 13.000, será que ainda vale a pena cogitar um Jetta? É o que veremos.
Comportamento dinâmico
As propostas, obviamente, são diferentes.
Apesar de surpreendentemente macio para um esportivo, o GTS possui calibração mais esportiva de suspensão em relação aos demais Virtus – carga de molas e amortecedores revista, barra estabilizadora de maior diâmetro e eixo traseiro mais rígido.
Suas respostas de acelerador e direção também são diferentes e, em modo Sport, a assistência elétrica da direção interfere de maneira muito sutil, tornando-a deveras dura para os padrões regulares.
Na estrada, esse acerto torna o sedã compacto muito divertido e instigante. Quando o uso é urbano, porém, a calibração esportiva cobra seu preço, deixando o Virtus menos confortável.
É aqui que o Jetta demonstra seu valor: com direção mais leve, suspensões mais macias e pneus com perfil ligeiramente mais alto, o modelo médio proporciona uma experiência muito mais confortável e suave de rodagem na cidade.
Ao mesmo tempo, os dados de desempenho são praticamente iguais: na pista de testes, ele levou alguns poucos décimos de segundo a mais para cumprir as provas de aceleração e retomada.
Na aferição de 0 a 100 km/h, por exemplo, a diferença foi só de 0,2 s. Aliado a isso, o consumo é surpreendentemente melhor em ciclo urbano.
Mais um sinal de que, para quem sai pouco da cidade, o Jetta talvez seja uma opção mais adequada. Até manobrar com ele parece tão fácil quanto com o Virtus, apesar das dimensões maiores e do 0,3 cm extra de diâmetro de giro.
Mas é preciso reiterar: especialmente em rodovias, ele não oferecerá uma experiência tão empolgante de dirigir nem uma conexão tão próxima entre homem e veículo quanto a do Virtus.
Na cabine, o Jetta é superior não somente por oferecer mais espaço (afinal, são quase 4 cm de ganho em entre-eixos e 5 cm em largura), mas também porque possui acabamento com materiais mais nobres no painel e nas guarnições das portas dianteiras, além de freio de estacionamento elétrico e teto solar como opcional.
Mas o Virtus GTS tem suas vantagens. Seu quadro de instrumentos é 100% digital de série, enquanto o primo traz mostradores analógicos com um pequeno computador de bordo monocromático ao centro, solução vista até em um Up!.
E só o Virtus possui bancos dianteiros esportivos, assim como saídas de ar e encostos de cabeça ajustáveis na fileira traseira – o Jetta, surpreendentemente, traz encostos fixos e costurados.
O opcional com som Beats é outro elemento exclusivo do sedã compacto.
Peças mais em conta
Mas esse sistema de áudio tem seu ônus. O subwoofer rouba um bom pedaço do volume do porta-malas.
A Volkswagen afirma que o bagageiro do Virtus GTS tem a mesma capacidade das demais versões, 521 litros, tratando o reposicionamento da divisória para o estepe como um “ajuste variável de espaço”.
Na prática, não há como configurar a altura dessa divisória sem tirar o subwoofer, o que significa que os 510 l do Jetta acabam se mostrando mais realistas e generosos.
Por ser um projeto de custo menor e produzido localmente, o Virtus GTS tem uma cesta de peças mais comedida. Tirando os faróis full-led, herdados do Polo GTi europeu, os demais itens são todos mais em conta que os do Jetta, modelo importado do México.
Amortecedores, pastilhas de freio, para-brisa e lanternas traseiras do sedã médio custam quase ou mais que o dobro do preço do compacto.
Já o retrovisor é mais de cinco vezes mais caro. Se serve de consolo, a cotação de seguro do Jetta é bem mais barata, (provavelmente porque, na versão GTS, o Virtus é visto como um carro com maior probabilidade de se envolver em acidentes). Além disso, curiosamente a VW subsidia as três primeiras revisões do Jetta, mas não as do Virtus GTS.
Enfim, o Virtus GTS diverte mais ao volante, mas, para quem procura puramente por esportividade, já existe o Polo GTS, com carroceria hatch.
Os principais predicados de um sedã – espaço, conforto e porta-malas – são supridos com mais eficácia pelo Jetta, abdicando muito pouco do desempenho e com custos de aquisição e manutenção um pouco maiores, mas não inacessíveis para quem está disposto a gastar mais de R$ 100.000 em um automóvel.
Veredicto
O Virtus diverte mais, mas o Jetta é mais equilibrado e coerente com sua proposta. Mesmo com o recente aumento de R$ 5.000, a diferença de preço ainda é pouca para o salto de qualidade proporcionado pelo Jetta Comfortline.
Teste – Virtus GTS
Aceleração
0 a 100 km/h: 9,1 s
0 a 1.000 m: 30 s – 177,4 km/h
Velocidade máxima: 210 km/h*
Retomada (em D)
40 a 80 km/h: 4,09 s
60 a 100 km/h: 4,85 s
80 a 120 km/h: 5,96 s
Frenagens
60/80/120 km/h – 0 m: 14/25,7/57,2 m
Consumo
Urbano: 11,7 km/l
Rodoviário: 17,4 km/l
Seu bolso
Cotação de seguro: R$ 3.824,97
Cesta de peças: R$ 7.930,92**
Ficha técnica – Virtus GTS
- Preço: R$ 108.670
- Motor: flex, dianteiro, longitudinal, 4 cilindros, turbo, injeção direta, DOHC, 16V, 1.395 cm³; 74,5 x 80 mm, 10:1, 150 cv a 4.500 rpm, 25,5 mkgf a 1.500 rpm
- Câmbio: automático, 6 marchas; tração dianteira
- Suspensão: McPherson (dianteira)/eixo de torção (traseira)
- Freios: disco ventilado (dianteiro) e sólido (traseiro)
- Direção: elétrica; diâmetro de giro, 10,9 m
- Rodas e pneus: liga leve, 205/50 R17
- Dimensões: comprimento, 448,2 cm; largura, 175,1 cm; altura, 147,2 cm; entre-eixos, 265,1 cm; vão livre do solo, 14,9 cm; peso, 1.260 kg; tanque, 52 l; porta-malas, 521 l
Teste – Jetta Comfortline
Aceleração
0 a 100 km/h: 9,3 s
0 a 1.000 m: 30,2 s – 176,6 km/h
Velocidade máxima: 210 km/h*
Retomada (em D)
D 40 a 80 km/h: 3,98 s
D 60 a 100 km/h: 5,03 s
D 80 a 120 km/h: 6,47 s
Frenagens
60/80/120 km/h – 0 m: 14,6/26/59,6 m
Consumo
Urbano: 12,7 km/l
Rodoviário: 17 km/l
Seu bolso
Cotação de seguro: R$ 2.124,50
Cesta de peças: R$ 9.688,73**
Ficha técnica – Jetta Comfortline
- Preço: R$ 121.690
- Motor: flex, dianteiro, longitudinal, 4 cilindros, turbo, injeção direta, DOHC, 16V, 1.395 cm³; 74,5 x 80 mm, 10:1, 150 cv a 4.500 rpm, 25,5 mkgf a 1.500 rpm
- Câmbio: automático, 6 marchas; tração dianteira
- Suspensão: McPherson (dianteira)/eixo de torção (traseira)
- Freios: disco ventilado (dianteiro) e sólido (traseiro)
- Direção: elétrica; diâmetro de giro, 11,2 m
- Rodas e pneus: liga leve, 205/55 R17
- Dimensões: comprimento, 470,2 cm; largura, 179,9 cm; altura, 147,4 cm; entre-eixos, 268,8 cm; vão livre do solo, 13,8 cm; peso, 1.331 kg; tanque, 50 l; porta-malas, 510 l
*Dado de fábrica
**Cotação sem para-choque dianteiro