BMW i5 e Mercedes-Benz EQE revivem duelo clássico, na era da eletricidade
Com estratégias tecnológicas diferentes, BMW i5 e Mercedes EQE fazem um confronto para definir qual dos dois tem a melhor solução energética
A eterna luta entre as marcas premium alemãs agora está acontecendo também nos segmentos dos elétricos, depois de décadas se enfrentando com motores a combustão. A disputa continua acirrada, mas agora é silenciosa. Este novo capítulo tem, de um lado, o BMW i5 eDrive40, e, de outro, o Mercedes EQE 350.
São versões – com o perdão da palavra – mais “simples” da linha, e com apenas um motor elétrico. Mesmo assim, na faixa dos 80.000 euros (R$ 422.719), na Europa. O duelo expõe uma diferença fundamental entre os dois modelos de luxo.
Enquanto o Mercedes usa a plataforma MEA, desenvolvida para automóveis elétricos, a BMW foi mais conservadora e utiliza a arquitetura CLAR, empregada nos seus modelos com motores de combustão.
Isso interessa aos mortais? Sim, porque o caminho tomado pela fabricante de Munique prejudica a experiência a bordo, como o enorme túnel central que se ergue do piso na parte traseira da cabine. No BMW também há menos espaço livre entre os bancos dianteiros, já que a área ali foi concebida para acomodar o volumoso câmbio dos modelos, sejam movidos a gasolina ou a diesel.
Visualmente, ambos seguem as linguagens atuais de design das respectivas marcas. O i5 exibe sua grade mais vertical e elevada, e um perfil típico de sedã de três volumes, enquanto o rival aposta na linha em arco adotada para a família de sedãs EQ. Gosto não se discute, mas parece que o BMW consegue passar uma imagem mais sóbria do que o Mercedes.
Por outro lado, uma vantagem do traço aerodinamicamente mais apurado do Mercedes é o coeficiente de arrasto mais baixo (um valor recorde de 0,20, ante 0,23 do BMW), o que beneficia o rendimento.
Por dentro, encontramos nos dois modelos a redução de botões físicos, com grande parte dos comandos acessíveis por meio de telas digitais. A dupla oferece dois monitores, um para a instrumentação e outro para tudo o que diz respeito à central multimídia.
No BMW, temos duas telas horizontais lado a lado (de 12,3 e 14,9 polegadas, respectivamente). No Mercedes, há uma horizontal para 12,3” e uma vertical de 12,9”, separadas. A qualidade geral dos materiais é de bom nível, mas o BMW perde em alguns aspectos: não há revestimento emborrachado nos porta-objetos das portas dianteiras nem porta-revistas nas costas dos bancos dianteiros.
O Mercedes recebe melhor
Os dois acomodam cinco adultos com algum conforto. O BMW tem 2 cm adicionais em altura atrás, mas ambos podem transportar ocupantes com 1,85 metro sem grandes problemas.
Já em espaço para pernas a supremacia é do Mercedes (85 cm, ante 81 cm no BMW), graças ao entre-eixos mais longo. Embora o BMW seja 12 cm mais longo no comprimento total (5,06 m), o Mercedes leva clara vantagem na distância entre-eixos. São 3,12 m, ou 13 cm a mais que o i5.
Nos dois, o piso é mais alto, por causa das baterias no assoalho, e ambos têm os assentos traseiros mais elevados do que os dianteiros, melhorando a visibilidade de quem vai ali. Quanto ao porta-malas, o i5 leva a melhor (490 l, ante 430 l do EQE), além de dispor de uma abertura de carga mais larga. Embora os dois tenham encostos traseiros rebatíveis, no i5 a operação só pode ser feita pelo porta-malas.
Os dois protagonistas desse confronto usam um único motor elétrico, montado sobre o eixo posterior, o que faz deles modelos de tração traseira. O i5 eDrive40 dispõe de 340 cv de potência e 43,8 kgfm de torque, enquanto o EQE 350 responde com menos potência e mais torque: 292 cv e 57,6 kgfm.
Em ambos, as acelerações e retomadas são muito rápidas. A BMW divulga 0 a 100 km/h em 6 segundos. A Mercedes divulga o tempo de 6,4 segundos, na mesma prova. Uma das razões para a diferença pode estar na relação peso/potência: 6,5 kg/cv no BMW e 8,1 kg/cv no Mercedes.
O i5 é 150 kg mais leve. No alemão da Baviera, uma pequena borboleta à esquerda do volante faz com que a resposta do motor seja ainda mais forte enquanto o motorista estiver pisando fundo no acelerador. O conterrâneo de Stuttgart dá o troco na velocidade máxima. Ele chega a 210 km/h, contra 193 km/h do BMW. Neste caso, a aerodinâmica do Mercedes ajuda.
O BMW agrada ao motorista
Números à parte, em termos de comportamento dinâmico o BMW se impõe. O chassi do BMW faz com que o motorista se sinta sempre mais ligado à estrada, fruto de um eixo dianteiro mais incisivo e que permite melhor controle dos movimentos verticais e transversais da carroceria, ainda que neste último caso seja importante ressaltar a presença dos pneus mais esportivos no i5, mais largos na traseira e de perfil menor.
Enquanto o BMW veio com pneus 255/35 na frente e 285/30 atrás (e rodas de 21”), o Mercedes estava equipado com pneus 255/45 e rodas de 19”.
A direção do BMW é também mais comunicativa, ainda que a do Mercedes seja mais direta. Os dois têm volantes pequenos (36 cm de diâmetro) e um aro relativamente grosso, ajudando a ter uma boa empunhadura.
O i5 apresenta suspensão traseira pneumática de série, sistema que é opcional no EQE. O eixo traseiro direcional do BMW faz com que as rodas posteriores virem até 2,5 graus, para ajudar a encurtar o diâmetro de giro em baixas velocidades e melhorar a estabilidade em altas.
É um melhor compromisso do que os 4,5 a 10 graus disponíveis opcionalmente (de acordo com a versão) no EQE. É certo que, nesse caso, o ganho em manobras é sempre superior, mas perde-se em linearidade da condução. O i5 responde às frenagens de forma mais imediata, enquanto no Mercedes a desaceleração é muito limitada nos primeiros 25% de curso do pedal.
Na ausência de ruídos de motor a combustão, os sons sintetizados que ecoam nas cabines soam quase sempre como naves espaciais ou ursos com sérios problemas de digestão (especialmente no caso do Mercedes). Mas é possível desligá-los.
Tendo em conta que o BMW é o que proporciona mais prazer ao volante, causa alguma estranheza a decisão dos engenheiros bávaros de não colocar borboletas atrás do volante para gerir a intensidade da recuperação de energia pela desaceleração, ao contrário do Mercedes.
Nos dois modelos existem três níveis de recuperação, além do modo adaptativo/automático. O BMW dispõe de uma posição “B” (brake), que permite a condução com “um pedal”. Nessa condição, o i5 praticamente dispensa o uso do pedal de freio, porque, quando se tira o pé do acelerador, o carro para.
A bateria do EQE 350 tem maior capacidade. São 90,6 kWh utilizáveis, ante 81,2 kWh no i5, o que explica a autonomia mais dilatada. Segundo os dados homologados, o EQE vai de 567 a 654 km sem necessidade de recarga, ante os 499 a 582 km do concorrente de Munique. A Mercedes também oferece garantia de fábrica mais extensa para as baterias: 10 anos/250 mil km, contra 8 anos/160 mil.
O i5 deve chegar ao Brasil este ano, enquanto a Mercedes não revela os planos para o EQE 350 (a empresa oferece por aqui o EQE 300). Neste confronto, faltou levar os carros para medições em nossa pista. Mas, pelo que foi mostrado aqui, o Mercedes se saiu melhor por mais modernidade no projeto.
Veredicto – BMW i5 eDrive 40
A plataforma que serve aos modelos a combustão gera inconvenientes. Mas ter suspensão pneumática e eixo direcional, de série, na traseira, é uma vantagem. E, ao contrário do rival, já tem data para chegar ao Brasil.
Veredicto – Mercedes-Benz EQE 350
O EQE embarca mais efetivamente nos conceitos da eletrificação, começando pela plataforma, passando pela aerodinâmica e chegando à garantia mais longa das baterias. Não tem planos de ser vendido aqui.
Ficha técnica – BMW i5 eDrive 40
Preço: 80.100 euros
Motor: elétrico, traseiro, 340 cv, 43,8 kgfm
Bateria: íons de lítio, 81,2 kWh (úteis)
Câmbio: automático, 1 marcha, tração traseira
Direção: elétrica (eixo traseiro direcional)
Suspensão: duplo A (diant.), multilink (amortecimento pneumático) (tras.)
Freios: disco ventilado nas quatro rodas
Pneus: 235/35 R21 (diant.); 285/30 R21 (tras.)
Dimensões: comprimento, 506 cm; largura, 190 cm; altura, 151,5 cm; entre-eixos, 299,5 cm; peso, 2.205 kg; porta-malas, 490 litros
Desempenho*: 0 a 100 km/h, 6 s; velocidade máxima, 193 km/h; autonomia (WLTP), 582 km
*Dados de fábrica
Ficha técnica – Mercedes-Benz EQE 350
Preço: 76.900 euros
Motor: elétrico, traseiro, 292 cv, 57,6 kgfm
Bateria: íons de lítio, 90,6 kWh (úteis)
Câmbio: automático 1 marcha, tração traseira
Direção: elétrica
Suspensão: duplo A (diant.), braços múltiplos (tras.)
Freios: disco ventilado nas quatro rodas
Pneus: 255/45 R19
Dimensões: comprimento, 499,6 cm; largura, 210,3 cm; altura, 151 cm; entre-eixos, 312 cm; peso, 2.355 kg; porta-malas, 430 litros
Desempenho*: 0 a 100 km/h, 6,4 s; velocidade máxima, 210 km/h; autonomia (WLTP), 654 km
*Dados de fábrica