Teste: Ford Mustang GT V8, ele já está entre nós
O primeiro flerte do pony car com o Brasil foi em 1994, mas era só um passeio. Agora, 24 anos depois, ele enfim passa a ser oficialmente importado para cá
O dólar custava menos de R$ 1, Forrest Gump levou milhões ao cinema, falecia o tricampeão Ayrton Senna, nascia a Seleção brasileira tetracampeã.
Era 1994, ano em que o estande da Ford no Salão do Automóvel exibia pela primeira vez o Mustang, um reluzente cupê vermelho na versão GT com motor 5.0.
É 2018. Num autódromo no interior de São Paulo, em evento oficial da Ford, separamos uma unidade vermelha do Mustang. Versão GT. Motor 5.0.
O encontro era para a Ford pagar a sua dívida de quase 30 anos ao anunciar que o Mustang, finalmente, passa a fazer parte da lista de modelos importados oficialmente para o Brasil.
Maurício Greco, diretor de marketing da Ford, diz: “A paixão do brasileiro pelo Mustang é tanta que há cerca de 2.000 unidades registradas que foram trazidas de maneira independente”.
Mas, apesar do sobrenome igual, o novo GT 5.0 é muito superior ao seu ancestral.
Agora, o Mustang é o tipo de esportivo que você pode passear com o filho pequeno (atrás, onde há ganchos Isofix para assentos infantis) e a esposa grávida (no confortável banco dianteiro, com direito a couro e ventilação com aquecimento e resfriamento).
Mas digo isso não apenas pelo conforto dos bancos, mas pelo comportamento dinâmico: no modo mais manso de condução, a suspensão trabalha suave, as trocas de marchas mantêm a rotação do motor abaixo de 2.000 rpm e o escape silencia.
Mas com todo o respeito à família brasileira: o Mustang é um mito da esportividade, não uma minivan. Sendo assim…
Para adequar o apetite do cupê ao ambiente e ao estado de espírito do piloto, há seis modos de condução predefinidos: Normal, Esportivo, Esportivo +, Pista, Drag e Neve.
Há ainda um modo extra, no qual o piloto personaliza o nível de velocidade de resposta ou grau de intrusão do câmbio, acelerador, ABS, ESP, direção, suspensão e escapamento.
Estranhamente, no evento de apresentação, a Ford vetou o uso dos modos mais quentes, bem como do recurso para aquecimento de pneus, Line Lock, que ativa os freios dianteiros para segurar o carro enquanto os pneus traseiros viram fumaça.
Os puristas podem espernear, mas o fato é que o Mustang perdeu aquela característica de cavalo indomável das gerações anteriores.
O auxílio da eletrônica trouxe docilidade, especialmente a partir de 2015, quando a sexta geração foi apresentada. Naquele ano, o Mustang ganhou suspensão traseira de múltiplos braços, no lugar do eixo rígido.
Agora, o modelo 2018 conta com amortecedores MagneRide, adaptativos, com rigidez de trabalho alterada em função de sensores capazes de ler a condição da pista mais de 1.000 vezes por segundo.
Sob condução normal, a suavidade do novo conjunto de suspensão faz esquecer que se está a bordo de um esportivo calçado com enormes pneus 255/40 na dianteira e 275/40 na traseira, ambos montados em rodas aro 19.
Na pista, o cupê tende a esparramar mais nas curvas longas que esportivos alemães, por exemplo. Mas ele responde rápido aos movimentos do volante e, principalmente, do pedal do acelerador.
Pudera, afinal o V8 5.0 Coyote de terceira geração entrega nada menos que 466 cv de potência e 56,7 mkgf de torque. Esqueça os nada eficientes veoitões americanos. O Coyote G3 tem muita tecnologia.
Para começar, há um par de comandos no cabeçote (um para as válvulas de admissão e outro para as de escape) por bancada, ambos variáveis. Para máxima eficiência, dois sistemas de injeção: indireta (no coletor de admissão) e direta (na câmara de combustão).
O câmbio, outro estreante da linha 2018, dá um show à parte. São nada menos que dez marchas nessa caixa automática que é fruto de uma parceria inusitada: entre as arquirrivais Ford e GM.
Rápida nas trocas e com funcionamento silencioso, ela extrai todo o potencial do V8.
O despertar da força
Quem mora em prédio com garagem no subsolo e já deu a partida em um esportivo sabe bem que o estrondo não raramente faz disparar o alarme dos carros vizinhos. A Ford também sabe.
Além de personalizável em função do modo de condução, o sistema de escape pode ser silenciado quando o motor é acordado. Pelo volante, é possível escolher uma faixa de horário em que a partida do motor ocorra da forma mais silenciosa possível.
Na análise estética, dá para afirmar que o facelift fez um bem enorme ao Mustang, sobretudo na dianteira.
O modelo 2018 mostra para-choques mais recortados, com direito a tomada de ar para os freios, grade inferior com spoiler evidenciado e conjunto ótico com led nos faróis principais e auxiliares.
Fato comum em esportivos, a placa dianteira polui bastante o visual. Mais que estilo, as formas sinuosas denotam genuína preocupação com a aerodinâmica, como prova também o assoalho com placas defletoras para ordenar o fluxo de ar sob o carro.
Cuidados típicos de um esportivo cuja máxima é limitada eletronicamente a 250 km/h.
Por falar em desempenho, em nossa pista, o Mustang GT acelerou de 0 a 100 km/h em 4,5 s, mais rápido que o Chevrolet Camaro, que fez 5,1 s.
Já a prova de 0 a 1.000 metros foi cumprida em 22,6s, fechando a medição a 240,9 km/h. Números como estes dão ao Mustang uma ficha comparável à de esportivos da Porsche, Audi, Mercedes e BMW.
De olho no Camaro V8 6.2 (de R$ 310.000 e 461 cv), o Mustang 2018 chega por R$ 299.900. E vem derrubando a ideia de que não há racionalidade na venda de esportivos.
Ele terá três anos de garantia, que passará a quatro se, no ato da compra, o cliente adquirir o pacote de quatro revisões (R$ 4.434), e para cinco anos se comprar a cesta com cinco revisões (R$ 5.571).
Segundo a Ford, toda a sua rede (365 concessionárias) terá condições técnicas de fazer as revisões, sendo que 36 estarão aptas a cuidar também de reparos mais extensos.
No esquema de pré-venda montado pela Ford, foram vendidas 230 unidades em três meses. De acordo com a marca, o lançamento e o início das vendas regulares estão programados para este mês (abril). Será o fim da vida mansa para o Camaro?
Passado e presente
Quem vê o Mustang hoje, todo musculoso e voltado para a alta performance, pode não imaginar que ele nasceu com a proposta de ser um modelo compacto – para os padrões americanos, claro – e fácil de dirigir, tanto pelas dimensões contidas como pela
dinâmica.
O sucesso foi imediato e, poucos anos depois, ele já era um dos símbolos do way of life americano.
O Mustang 2018 pertence à sexta geração, de 2015, desenvolvida para se adequar ao gosto de consumidores de mercados nunca antes explorados, como o europeu, asiático e, felizmente, brasileiro.