O quarto maior grupo automotivo do mundo foi formado no último sábado (16). A Stellantis é a empresa resultante da fusão entre os grupos FCA e PSA, e passa a englobar 20 marcas (entre fabricantes de automóveis, autopeças e prestadoras de serviços) atuantes em mais de 130 países.
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Da PSA, há Opel, Peugeot, DS, Citroën e Vauxhall, enquanto a FCA tem Fiat, Jeep, Ram, SRT, Chrysler, Alfa Romeo, Maserati, Dodge e Lancia. De tão abrangente, a Stellantis só ficará atrás de Volkswagen, Toyota e da aliança Renault-Nissan-Mitsubishi.
Somadas as marcas da FCA e da PSA, foram 7,907 milhões de carros vendidos em 2019 em todo o mundo, número maior que o da GM (7,718 milhões).
FCA e PSA deterão cada 50% do novo grupo, sendo que os acionistas da Fiat Chrysler receberão uma cota extra de dividendos no valor de 5,5 bilhões de euros.
Carlos Tavares era CEO da PSA e assume como CEO da Stellantis. De acordo com ele, o objetivo desta fusão vai além da economia em escala, mas também passa por otimizar o desenvolvimento e a aplicação de novas tecnologias, seja para a produção de carros elétricos ou para o desenvolvimento de sistemas autônomos.
A empresa tem hoje 29 modelos eletrificados a venda ao redor do mundo e planeja lançar 10 novos modelos até o fim de 2021. Contudo, a meta é chegar em 2025 com pelo menos uma versão eletrificada de cada carro global que suas marcas lançarem.
É bom frisar a parte do “carro global”. Para o Brasil, os efeitos da criação do novo grupo serão melhor vistos no compartilhamento de motores a combustão e eletrônica dos carros (onde a FCA tem projetos mais avançados) e no compartilhamento de plataformas (onde a PSA já explorava o conceito de plataformas modulares em vários segmentos).
A economia em escala com o compartilhamento de componentes e fornecedores é estimada em 5 bilhões de euros por ano. E a promessa da empresa é alcançar isso sem o fechamento de fábricas, ainda que a capacidade ociosa global seja um problema a ser enfrentado.
Contudo, informações não oficiais dão conta que algumas marcas podem ser encerradas, caso de Chrysler e Lancia: ambas tem apenas um carro atualmente, o Chrysler Pacifica e o Lancia Ypsilon (vendido apenas na Itália).
Carlos Tavares ainda comentou sobre o fechamento das fábricas da Ford no Brasil. “Como vimos, um fabricante de automóveis anunciou na semana passada o fechamento de todas as suas fábricas no Brasil. Quando uma empresa toma essa decisão, a proposta não deve ser feita a empresas. Deve ser feita aos governos. Porque chega um momento em que não se consegue mais”, disse.
Depois, Tavares assegurou que a Stellantis terá autonomia suficiente para continuar operando. “Mas o que aconteceu na semana passada é um alerta de que há um limite. Os governos devem decidir: querem ter uma indústria automotiva ou não? Na Stellantis estamos dispostos a oferecer mobilidade segura, limpa e acessível. Mas chega um momento em que os ventos contrários são muito fortes”.
Como ficam Jeep, Fiat, Peugeot e Citroën no Brasil?
Com essa fusão, a Stellantis passa a ter três fábricas no Brasil, Betim (MG), Goiana (PE) e Porto Real (RJ). Há outras duas na Argentina: El Palomar produz o Peugeot 208 e Córdoba está encarregada do Fiat Cronos. De acordo com Carlos Tavares, FCA e PSA juntas representam 17% do mercado da América Latina. “Conseguimos ser muito competitivos”, completa.
Se a PSA não está nos melhores dias no Brasil, com apenas 26.944 veículos vendidos em 2020 (contra 321.852 unidades da Fiat e 110.167 da Jeep no mesmo período), ela seria responsável por somar outros 1,38% de participação aos 22,45% de participação de Jeep e Fiat considerando comerciais leves. 23,83% do mercado Brasileiro em 2020 seria da Stellantis.
Se em vendas a participação das marcas legadas pela PSA é pequena, elas podem crescer com ajuda das marcas que eram do grupo FCA.
Motores compartilhados
Os novos motores 1.0 3-cilindros e 1.3 4-cilindros GSE (Firefly) turbo, que estreiam em 2021 nos Jeep Renegade, Jeep Compass e no SUV do Argo (projeto 363) são cotados para equipar não só o novo Peugeot 208 como também o Projeto Smart Car, nova família de carros de entrada da Citroën. E isso poderia acontecer já em 2022 e combinados com câmbio CVT.
Uma vantagem é que os motores GSE-Firefly são mais compactos que o 1.6 aspirado da PSA e também são fabricados no Brasil. A Peugeot precisou adaptar a plataforma do novo 208 para poder usar o velho 1.6 16V por aqui e o motor 1.2 THP (turbo com injeção direta) não foi usado por ser importado. Usar os motores Fiat nas versões aspiradas e turbo seria um bom caminho a seguir.
Curiosamente, Peugeot, Citroën, Fiat e Jeep usam no Brasil o mesmo câmbio automático Aisin de seis marchas em seus modelos. Contudo, os novos motores seriam combinados com novas transmissões CVT, também da fabricante japonesa que pertence ao grupo Toyota.
A FCA também vinha trabalhando para ter internet 4G da TIM para carros da Fiat e Jeep, e isso poderia se estender a carros de Peugeot e Citroën.
Fiat e Jeep poderiam tirar vantagem das plataformas de Citroën e Peugeot. A plataforma modular CMP, que estrou no Brasil com o novo Peugeot 208 e que também estará no Citroën Smart Car traz grandes vantagens na rigidez, no peso e no comportamento dinâmico, além de ter nascido pensada para ser adotada por carros com motores a combustão e elétricos.
Viabilização de novos modelos
A plataforma CMP seria um bom ponto de partida para uma futura segunda geração dos Fiat Argo e Cronos, por exemplo.
As próximas gerações dos Jeep Renegade, Compass e da Fiat Toro poderiam adotar outra plataforma modular, a EMP2. Esta está voltada para carros médios como o Peugeot 3008 (importado da França), mas também é usada nos furgões Peugeot Expert e Citroën Jumpy (montados no Uruguai). O volume de produção poderia viabilizar a produção de carros maiores da PSA, baseados nesta plataforma, no Brasil.
Isso, na verdade, é só um exemplo de como o volume de vendas da Fiat e da Jeep poderia garantir volume de vendas a ponto de permitir que Peugeot e Citroën voltem a ter uma gama de produtos maior. O ponto mais delicado entre tudo isso seria posicionar modelos de tantas marcas que exploram os mesmos segmentos, ainda que Peugeot e Citroën já tenham estratégias complementares.
Em veículos comerciais, há algumas particularidades. A picape média Peugeot Landtrek, que será lançada no Brasil em 2022, será posicionada acima das Fiat Strada e da nova Toro, mas abaixo das RAM 1500 e 2500.
Os furgões Citroën Jumpy e Peugeot Expert atuam em uma fatia de mercado que a Fiat não explora, mas a Fiat Ducato (importado do México) nada mais é do que uma versão anterior das Citroën Jumper e Peugeot Boxer, que já foram reestilizados e chegam da Itália. A parceria entre as três marcas para produzir vans é bem antiga.
E se a imagem das marcas francesas for um problema, a Stellantis também detém a Opel, que mantém vivos nomes que fizeram história no Brasil, como Corsa, Astra e Zafira, já com o futuro traçado sobre as plataformas da Peugeot e da Citroën. Mas, por enquanto, a estreia da Opel no Brasil não passa de suposição.
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