Novo Nissan Versa compra briga interna com o Sentra, mas só até 2021
Com o Sentra 2021 atrasado por conta da covid-19, novo Versa ousa invadir território alheio na família Nissan
Em uma das passagens mais famosas da mitologia japonesa, a deusa-sol Amaterasu vive uma conturbada relação com seu irmão, e também deus, Susanoo. A briga familiar cresce e acaba atingindo todo o mundo, necessitando intervenção celestial para trazer paz à Terra.
Com a renovação de alguns dos seus modelos, a Nissan vive uma situação parecida entre o sedã compacto Versa, que foi temporariamente ‘promovido’ ao degrau de cima e começou a atrapalhar o irmão maior Sentra. Mas por pouco tempo.
O protagonista dessa história é a nova geração do Versa, que está mais atraente e muito mais equipado a ponto de seus preços cruzarem com os do Sentra. Pelo menos enquanto a nova geração do sedã médio não estreia no Brasil.
Essa confusão de datas, entretanto, não é culpa da fabricante japonesa — uma das milhões de empresas que vêm sofrendo com os danos e incertezas da covid-19. A montadora já havia anunciado o atraso do próprio Versa e o novo Sentra, também importado do México, estreia por aqui em 2021, mas só depois do novo Kicks.
Rivalidade interna
O novo Versa parte de R$ 72.990, na versão Sense MT, e chega a R$ 92.990 em sua variante de topo Exclusive CVT. E é aí que a briga interna começa.
O modelo mais caro traz câmbio CVT e outras comodidades, como faróis full-led e, principalmente, recursos de reação automática a situações de trânsito, colocando-o no grau 3 de direção autônoma conforme padrão da SAE International.
Mais próximos dele, os Sentra S (R$ 91.090) e Sentra SV (R$ 96.990) não trazem nada disso. Nem mesmo suporte ao Android Auto e Apple CarPlay que, estranhamente, só aparecem na variante SL do sedã médio.
O novo envelope de segurança se destaca ainda mais quando comparado ao atual Sentra SL, de R$ 108.990, que é o mais caro da linha e traz apenas monitoramento de pontos cegos e alertas de tráfego cruzado traseiro e colisão frontal — sem intervenção do carro em casos extremos, como há no Versa. Também é o único Sentra com seis airbags – que estão presentes em todas as versões do Versa.
Mesmo que o sedã médio tenha focado em mais robustez e melhor apresentação — aperfeiçoando isolamento acústico, acabamento e suspensão, por exemplo — detalhes como bancos que imitam couro podem irritar clientes mais exigentes. Entretanto, partida via botão, carregamento sem fio para celulares e chave presencial compensam outras minúcias e agora são itens de série em todos os Versa.
Se há um ponto, entretanto, em que o Nissan Sentra segue incomparável, é no seu motor 2.0 com 140 cv e 20 kgfm, que supera com folga o mediano 1.6 do novato, com 114 cv de potência e 15,5 kgfm de torque, compartilhados com o SUV Kicks. Com dimensões muito parecidas às do seu irmão mais novo, o Sentra também tem porta-malas mais generoso, com 503 litros — 37 de vantagem.
A variedade da linha Versa compra briga em frentes que vão de motoristas de aplicativos até consumidores exigentes, que não ligam para a pecha de ‘tiozão’ e priorizam conforto mais ‘premium’. Enquanto isso, o V-Drive aparenta estar mais voltado para vendas mais racionais, se posicionando como carro de entrada da Nissan.
Mas se o interesse for nas qualidades do Sentra, é bom correr: esta geração antiga do sedã já deixou de ser produzida no México. O que a Nissan vende no Brasil são unidades do último lote importados em 2019.
Consultada sobre essa concorrência interna, a Nissan ressaltou essa versatilidade (com o perdão do trocadilho) e, sem admitir ou negar intenções, reconheceu que seu novo sedã compacto vem incomodando o seguimento de cima.
E a nova geração do Sentra?
Previsto para o segundo trimestre de 2021, o novo Sentra deverá partir da faixa dos R$ 110 mil, se o dólar permitir. Não fugirá, portanto, da atual faixa de preço inicial dos sedãs médios. Assim, a fabricante japonesa terá escalonado bem seus dois modelos e terá ampla gama de versões para atender públicos diversos.
Na alegoria mitológica, o cruel Susanoo não se reconcilia com a irmã e é condenado ao mundo das trevas, saindo de cena em definitivo. A Nissan, entretanto, pode se apegar ao ditado muito popular na ilha japonesa de Okinawa que diz algo como “uma vez que nos encontrarmos, sempre seremos irmãos”, trazendo a paz de volta para casa.
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