Coronavírus ameaça levar produção de carros ao colapso em todo mundo
Assim como o tsunami de 2011 no Japão, vírus fere a cadeia produtiva automotiva na China. Desabastecimento preocupa fabricantes em todo o planeta
Não se iluda: apesar de o coronavírus ter origem na China, no outro lado do planeta, o efeito devastador do novo vírus é mundial. E a indústria automotiva é uma das que mais estão expostas à moléstia.
Acontece que uma enorme parte dos automóveis e componentes produzidos no país sai de unidades próximas à província de Hubei, o epicentro do coronavírus.
Mais de dois terços da cadeia produtiva de automóveis na China saem de 11 províncias, e Hubei é uma das principais. Além disso, fábricas localizadas em outros países e até continentes também são abastecidas por fornecedores chineses.
Diariamente, a mídia internacional noticia as providências que marcas de automóveis e fornecedores estão tomando na China para proteger seus empregados, mas como o risco de contágio é enorme, o fechamento integral de fábricas é inevitável.
A questão é: quanto tempo vai levar até a retomada da produção e até quando vão durar os estoques de partes e peças?
Por sorte, digamos assim, a explosão do coronavírus aconteceu às vésperas do Ano Novo chinês – o principal e mais longo feriado local – e, como faz todo ano, a indústria acelerou previamente a produção para abastecer seus estoques.
Ironicamente, fábricas de outros países podem estar em apuro maior, visto que o recesso de fim de ano já passou e elas já retornaram às atividades.
Para suprir a falta de reposição, grandes fabricantes estão tendo de apelar aos estoques.
Algumas consultorias do setor relatam que o tsunami que assolou o Japão em 2011, afetando globalmente o fornecimento de componentes eletrônicos, deixou uma lição que está sendo aplicada agora: a flexibilização da produção, que permite que um polo produtivo de determinadas peças seja rapidamente realocado.
Mas a questão é: caso a produção na China siga parada por muito tempo, quanto tempo a indústria global de automóveis conseguirá aguentar? Veja, a seguir, como o coronavírus está atingindo cada marca da cadeia produtiva de automóveis.
BMW | Parceira da local Brilliance, a BMW planeja retomar as atividades no dia 17. Isso se o governo local não decretar uma nova data de retorno |
Bosch | O Governo chinês determinou o fechamento de fábricas em algumas províncias até o dia 9 de fevereiro. Mas com o avanço da doença, o prazo pode ser prorrogado. A gigante alemã Bosch é um dos fornecedores de componentes elétricos e eletrônicos mais importantes do mundo |
Brembo | A fabricante de freios de alta performance diz que, por ora, o impacto não é relevante, pois toda a produção local é destinada às fábricas de automóveis da própria China e, como elas também estão paralisadas, os efeitos são minimizados |
Citroën e Peugeot | Assim como no Brasil, o Grupo PSA vende modelos das marcas Citroën e Peugeot na China. Os modelos saem de três fábricas feitas em parceria com a Dongfeng, estabelecidas em Wuhan, outra região de alta concentração de infectados pelo novo coronavírus. As três unidades permanecerão fechadas ao menos até dia 14 de fevereiro |
Fiat e Chrysler | Mike Manley, CEO do Grupo FCA, reconhece que a extensão do período de folga em função Ano Novo chinês por conta do surto do coronavírus poderá atrapalhar as atividades de ao menos uma das fábricas da FCA na Europa, caso a paralisação de fornecedores baseados na China perdure até o fim de fevereiro. |
Ford | A marca norte-americana segue otimista, dizendo que retomará a produção no dia 10 de fevereiro e nega que o surto da doença afetará sua performance local ou globalmente. Na China a Ford atua em parceria com a Changan |
General Motors | Determinou que suas equipes concentrem esforços em tempo integral para evitar o desabastecimento |
Honda | Como tem cerca de 30% das vendas e produção na China, em Wuhan, com parceria com a Dongfeng, a marca já sente o impacto dos fechamentos de fábricas. A suspensão das atividades vai perdurar até o dia 13 de fevereiro |
Hyundai e Kia | Com sete fábricas na Coreia do Sul e dependente de itens chineses básicos, como chicotes elétricos, o grupo já anunciou a parada de produção em algumas unidades. Cerca de 40% do que o grupo vende no planeta sai da Coreia. As fábricas da Hyundai/Kia na China só deverão voltar à ativa a partir de 17 de fevereiro |
Nissan | A marca japonesa atua na China por meio de uma joint-venture com a Dogfeng. Não há data fixada de retorno às atividades, apenas uma previsão: algum dia após 10 de fevereiro em Dalian e em algum dia após 14 de fevereiro em Hubei |
Suzuki | Apesar de não produzir nem vender carros na China, a marca diz que está em busca de fornecedores de outros países |
Tesla | Já estava tudo pronto para a aceleração de produção do Model 3, feito em Xangai, mas a chegada do coronavírus deve adiar o plano em sete ou dez dias. Mas não é só. A marca já assume que está avaliando se o desabastecimento de componentes Made in China atingirá a produção da unidade de Freemont, Califónia, nos Estados Unidos |
Toyota | Já reconhece que está olhando para os estoques globais com atenção redobrada. As fábricas do norte (Tianjin) e do sul (Guangdon) da China, permanecerão fechadas ao menos até o dia 16 de fevereiro |
Valeo | Com três fábricas em Wuhan, a francesa Valeo permanecerá fechada na China pelo menos até 13 de fevereiro, mas, por enquanto, diz que não está enfrentando nenhum grande problema por conta do avanço do coronavírus |
Volkswagen | De acordo com a agência de classificação de risco Standard & Poor’s, o Grupo Volkswagen é o mais exposto aos efeitos do coronavírus. Cerca de 40% do que o grupo vende no mundo é produzido na China, muito embora fora da província de Hubei. Ainda assim, com chegadas e partidas proibidas nos portos e aeroportos chineses, os prejuízos são inevitáveis |
Volvo | A marca sueca, que tem algumas fábricas na China em função de uma parceria com a Geely, fala em uma perda de ao menos duas semanas de vendas. No entanto, o fechamento positivo de 2019 em relação a 2018, com crescimento de 19% num mercado com encolhimento médio de 7,4%, permite à marca permanecer otimista no que se refere ao fechamento de 2020, segundo o CEO Hakan Samuelsson |