Conhecida pelo luxo, Bugatti já tentou fazer carros baratos – e fracassou
Racional e cheio de tecnologias, o modelo seria resposta ao pós-guerra na Europa, mas não resistiu à morte de Ettore Bugatti
É bem provável que, ao falar de Bugatti, você lembre de carros superesportivos – e BEM caros. Mas sabia que, para sobreviver à Segunda Guerra Mundial, a empresa quase produziu um rival para o nosso conhecido (e modesto) Volkswagen Fusca?
Com a fábrica de Molsheim, na França, completamente destruída pelos conflitos na Europa, o próprio Ettore Bugatti supervisionou o desenvolvimento de um pequeno conversível projetado pelo filho Roland, à época com 25 anos, na capital Paris.
Batizado Type 68, o modelo seguia a receita do Fiat 500 “Topolino” – considerado um ícone da indústria automotiva italiana –, com espaço para duas pessoas e motor pequeno. Mas somente um protótipo foi construído pela empresa entre 1945 e 1946.
É claro que essa aposta pela racionalidade, bem diferente da tradição com veículos luxuosos e carros de corrida, não foi por acaso: além do mercado europeu devastado pelo pós-guerra, a Bugatti estava endividada e precisava se tornar rentável.
O Type 68 recebeu motor de quatro cilindros igualmente revolucionário (e pequeno). Com só 318 cm³, o protótipo trazia recursos pouco comuns, como cabeçote 16V com duplo comando de válvulas, compressor mecânico e bloco de alumínio.
Com apenas um terço do tamanho do motor utilizado pelo Chevrolet Joy, o Bugatti tinha 48 cv de potência – significa que, se tivesse 1.000 cm³, renderia 151 cv. Isso para mover só 762 kg, quase o mesmo peso do Renault Kwid na versão pelada.
Para completar o conjunto mecânico, Ettore Bugatti planejava um sistema de transmissão de duas marchas com conversor de torque e uma opção com embreagem eletromagnética. Para não revelar detalhes nos testes, o sistema foi instalado em uma moto.
Ao longo da década de 1940, o fabricante ainda criou outros três motores – um semelhante ao primeiro, mas com 370 cm³ e apenas 8V, enquanto os demais eram dois-tempos, também sobrealimentados –, além de diversas opções de carroceria.
Com a morte do patriarca em 1947, o desenvolvimento do modelo de entrada perdeu força e acabou engavetado pelo filho Roland Bugatti, que assumiu o controle da marca, e pelo diretor Pierre Marco. No lugar, lançaram o Type 101, criado sobre a base do Type 57.
O protótipo original apresentou defeito no sistema de câmbio e acabou encostado no galpão da Bugatti, assim como todos os esboços do Type 68. Com o primeiro fim da empresa, na década de 1950, o modelo acabou no acervo do museu Cité de L’Automobile.
Ainda há uma unidade remanescente, que não foi finalizada a tempo pela Bugatti, mas acabou montada décadas depois por restauradores, conforme os projetos originais. E diferentemente da primeira versão, o Type 68 B tem carroceria fechada.
Essa segunda opção foi inspirada no clássico 57 SC Atlantic, considerado um dos veículos mais bonitos já feitos pela marca. É claro que há diferenças de tamanho e proporções, mas detalhes como os rebites aparentes na carroceria foram mantidos.
Não pode ir à banca comprar, mas não quer perder os conteúdos exclusivos da edição de maio da Quatro Rodas? Clique aqui e tenha o acesso digital.