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Roubo bilionário, tráfico: como os carros de luxo chegam à Coreia do Norte

Não importa se a logística demanda aviões e navios por cinco países ou um calote milionário por 46 anos, o país sempre dá um jeitinho

Por Gabriel Aguiar
28 abr 2020, 16h34
Mercedes-Benz S600 Pullman Guard de Kim Jong-un, da Coreia do Norte
Mercedes-Benz S600 Pullman de Kim Jong-un, ditador da Coreia do Norte (The New York Times/Reprodução)

Não é só o mistério em torno do estado de saúde do Kim Jong-un, ditador da Coreia do Norte, que desperta curiosidade ao redor do mundo.

Afinal, como um país embargado pode comprar a limusine blindada Mercedes-Benz S600 Pullman Guard para uso do chefe de estado?

De acordo com o The New York Times, a operação de transporte levou seis meses e envolveu cinco países até a chegada à República Popular Democrática (risos) da Coreia.

Mas, até agora, ninguém descobriu como o veículo foi comprado – e a Mercedes-Benz nega a venda.

Mercedes-Benz S600 Pullman Guard
Modelo teve produção limitada destinada apenas a clientes selecionados (Divulgação/Mercedes-Benz)
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Tanta burocracia se deve ao fato de que, desde 2006, o país asiático vive sob sansão de artigos de luxo por decisão da ONU.

É claro que há parceiros comerciais, como China e Rússia, só que a reportagem norte-americana alerta que 90 países burlaram as limitações até 2017.

Mercedes-Benz S600 Pullman Guard
Capacidade é para até cinco passageiros, além do motorista- (Divulgação/Mercedes-Benz)

Utilizando como base apenas materiais de domínio público, o periódico chegou à conclusão de que a limusine saiu do porto de Roterdã, na Holanda, e partiu em navio até a cidade chinesa de Dalian.

É a partir deste momento que a logística se mostra ainda mais surpreendente.

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Mercedes-Benz S600 Pullman Guard
Modelo foi criado em comemoração aos 80 anos dos veículos blindados da marca- (Divulgação/Mercedes-Benz)

Após ficar cerca de um mês parado em território chinês, o contêiner carregado com o S600 de Kim Jong-un segue a Osaka, no Japão, país que vive sob constantes ameaças do ditador, e segue até Busan, na Coreia do Sul – vizinho que segue em guerra com os norte-coreanos.

Mercedes-Benz S600 Pullman Guard
Motor V12 5.5 tem 517 cv de potência e 84,6 kgfm de torque (Divulgação/Mercedes-Benz)

Após subir a bordo de um navio com bandeira do Togo e seguir rumo ao porto de Nakhodka, no extremo leste da Rússia, o contêiner (assim como a própria embarcação) desapareceu dos radares por 18 dias.

E, quando o navio reapareceu, a carga já não estava mais a bordo.

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Mercedes-Benz S600 Pullman Guard
Blindagem resiste a granadas e possui lança-chamas sob o veículos (Divulgação/Mercedes-Benz)

Segundo o The New York Times, o veículo desembarcou em território russo sob os cuidados de uma empresa sediada nas Ilhas Marshall e só então seguiu seu destino rumo ao território mais fechado do mundo, por meio dos aviões da companhia aérea norte-coreana Air Koryo.

Volvo na Coreia do Norte
Volvo cobra a Coreia do Norte há 46 anos pelos veículos roubados (Motorpasión/Reprodução)

Essa história pode até parecer bizarra – e preocupante, considerando que essa logística pode servir para comercializar materiais bélicos e arsenal nuclear –, mas talvez não chegue aos pés do dia no qual Kim Il-sung, falecido pai do atual ditador, roubou 1.000 carros da Volvo.

Volvo na Coreia do Norte
Veículos ainda são utilizados no país asiático como táxi (Motorpasión/Reprodução)
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Isso porque o então chefe supremo da nação asiática convenceu os suecos que o crescimento anual do PIB norte-coreano chegou aos 25% na década de 1960 e decidiu realizar a compra de um lote do sedã 144 GL.

Pior que esse otimismo, somente o pagamento em minérios.

Volvo na Coreia do Norte
Inicialmente, a frota deveria servir ao alto escalão do partido no país (Motorpasión/Reprodução)

Com a previsão de valorização de cobre e do zinco para os anos seguintes à negociação, esse até parecia um bom negócio.

Os veículos chegaram à Coreia do Norte em 1974 e, desde então, as extrações nas minas continuam apenas nos planos. Assim, o calote já tem 46 anos.

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É bem provável que o fabricante sueco tenha desistido de receber o pagamento da dívida, que, no ano de 2014, superava 300 milhões de euros (R$ 1,8 bilhão) com correções e juros.

Por outro lado, aqueles carros que chegaram para os altos escalões do partido ainda servem como táxi por lá.

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