Grandes comparativos: os icônicos esportivos brasileiros dos anos 90
Fiat Uno 1.6 R, VW Gol GTS, Ford Escort XR3, Gol GTI e Chevrolet Kadett GSi foram à pista qual era o melhor esportivo nacional
Pocket rockets são os pequenos carros que as fabricantes transformam em versões com desempenho de esportivo. Eles vêm de longa data. Na década de 60, a Willys lançou o Gordini 1093, como motor mais potente.
Depois veio o Puma, até que as Quatro Grandes também passaram a ter seus minifoguetes no mercado: a Volkswagen atacava com os Gol GTS e GTi, a Fiat decolava com o Uno 1.6R, a Ford disparava com o Escort XR3 e a General Motors voava nas ruas com o Kadett GSi.
Comparados aos modelos básicos, eles ganharam melhoramentos como aerofólios, rodas de liga leve, relação de marchas mais curta, maior capacidade volumétrica do motor, novos comandos de válvulas, suspensão dura e freios mais eficientes.
Na edição de julho de 1992, QUATRO RODAS juntou esses cinco carrinhos para mostrar qual era o campeão no custo-benefício e, claro, prazer ao dirigir.
Mais barato de todos os esportivos nacionais, o Uno 1.6R também era muito ágil. Na prova de retomada de 40 a 100 km/h, por exemplo, fez o tempo de 18,97 segundos, ficando atrás somente do Gol GTi.
“O motor 1.6 de apenas 1 600 cm³, a álcool e com o velho carburador, produz 86 cv e 13,8 mkgf de torque máximo, o maior entre os motores nacionais dessa cilindrada”, dizia a reportagem.
O Uno foi muito bem em tiros curtos (2,64 segundos de 0 a 40 km/h), mas decepcionou um pouco quando precisou de mais fôlego. De 0 a 100 km/h, demorou 11,8 segundos e só ficou à frente do Escort XR3. Também chegou em último na máxima, com a média de 164,7 km/h.
Como segurança é um item obrigatório para quem gosta de acelerar, a Fiat providenciou para o compacto suspensão mais rígida, amortecedores pressurizados, rodas de 5,5 polegadas de tala (as convencionais eram de 5) e freios a disco ventilados na dianteira.
Custo-benefício campeão
“A Fiat escorrega em incoerências. Nos opcionais, oferece sistema de ar-condicionado quente/frio, mas não dá nenhuma opção de sistema de som. Todos os outros esportivos já saem de fábrica ou oferecem como opcional sistema de som sofisticado”, apontava a reportagem.
Apesar do despojamento, o Uno 1.6R era o único com cinto de três pontos para os dois passageiros de trás.
O segundo foguete a ir para a plataforma de lançamento foi o que apresentou o melhor custo-benefício: o Gol GTS.
Custando, à época, Cr$ 1,3 milhão a mais que o Uno (cerca de R$ 2 400 em valores de hoje), o hatch da Volks obteve a melhor marca no 0 a 100 km/h entre os carros com carburador (11,21 segundos) e registrou as melhores medições de frenagem com travamento das rodas – lembranças de um tempo em que freios ABS eram raridade no país.
Sem travamento, acabou atrás somente do irmão GTi. Na prova de velocidade máxima, não pôde bater GTi, Kadett (os dois movidos a gasolina e com injeção eletrônica) e Escort XR3. Mesmo assim, não deu vexame, porque a média de 169,1 km/h não ficou muito aquém dos concorrentes.
Demanda em alta
A QUATRO RODAS visitou quatro concessionárias Volkswagen em São Paulo e apenas uma tinha o modelo para pronta entrega.
A explicação para a procura superar a oferta era que o GTS já vinha com um pacote de equipamentos completo, que incluía ar quente, desembaçador, lavador e limpador de vidro traseiro, relógio digital, retrovisores externos com controle interno, vidros elétricos, trava elétrica nas portas, rodas de liga leve com pneus de perfil baixo e bancos Recaro.
O Escort XR3 (já com o motor AP 1.8 da Volks na época da Autolatina) estava prestes a passar por uma reestilização, mas ainda curtia a reputação de um dos esportivos mais cobiçados do país. E era o único com suspensão de regulagem eletrônica, como equipamento opcional. “Acima dos 80 km/h, um computador enrijece os amortecedores pressurizados e cola o carro no solo”, explicava a reportagem.
O modelo, porém, apresentou desequilíbrio na traseira em frenagens mais fortes. Vindo a 100 km/h, com travamento nas rodas, precisou de 53,1 metros para chegar à imobilidade, espaço inferior apenas ao do Uno.
Ele também pecou na aceleração de 0 a 100 km/h. Foi o mais lento de todos, com o tempo de 12,11 segundos. Depois que embalou, alcançou a maior máxima entre os três esportivos com carburador (172,3 km/h).
Além da suspensão eletrônica, o XR3 tinha em sua lista de opcionais direção hidráulica, ar-condicionado, som e bancos Recaro, com regulagem de altura e lombar e nos apoios laterais. Mas a reportagem encontrou em várias concessionárias Ford o esportivo com todos esses itens pelo preço da versão básica, o que alavancava seu custo-benefício.
Passados quatro anos de seu lançamento (em 1988), o Gol GTi, com motor AP-2000i, continuava massacrando os rivais em desempenho.
Os números não mentiam: fez de 0 a 100 km/h em 10,34 segundos, retomou de 40 a 100 km/h em 16,98 — tempo bem menor que o dos outros —, percorreu 11,87 km/l (o segundo melhor custo por quilômetro rodado, atrás do Uno) e chegou a 176,7 km/h de velocidade máxima.
Os sinais de esportividade do GTi estavam por todos os lados. Tinha aerofólio, injeção eletrônica, rodas de liga, bancos Recaro com forração diferenciada, volante de couro e sistema de som digital.
Em movimento, a suspensão pedia amortecedores pressurizados, que aumentariam o conforto sem mexer na estabilidade. O GTi não foi o campeão de custo-benefício, mas era o mais esportivo.
Peso no bolso
Ter o custo-benefício mais vantajoso entre os esportivos nacionais era uma missão praticamente impossível para o Kadett.
Afinal, ele era o mais caro e na prova de consumo, que afeta diretamente o bolso do comprador, cravou 10,67 km/l, média bem inferior à do GTi, concorrente que também tinha motor 2.0 a gasolina e injeção eletrônica.
Em contrapartida, o Kadett destacou-se em conforto. Para começar, o painel agrupava um conjunto de instrumentos digitais, facilitando a leitura. O computador de bordo informava, entre seis funções, autonomia de combustível, consumo instantâneo e médio ou o tempo de viagem.
O motorista se acomodava no banco Recaro com acertos de altura e distância do assento e do encosto. O problema era que, para um carro esportivo, o GSi não mostrou toda sua força.
Na comparação direta com o Gol GTi, perdeu no 0 a 100 km/h (10,93 segundos), na retomada de 40 a 100 km/h (20,51 segundos), na frenagem de 80 km/h a 0 (33,7 metros) e na velocidade máxima (174,6 km/h).
Se não tinha o melhor rendimento nem oferecia custos menores ao seu dono, ao menos o Kadett se contentava em ser o pocket rocket mais confortável do Brasil.
Esses carros se diferenciam até pela forma como são conhecidos pelo público. Escort XR3 é apenas XR3. Gol GTi é GTi e pronto. Mas o que significam tais siglas? No Uno 1.6R, o R vem de Racing. No Gol, GTS é abreviatura de Gran Turismo Super e GTi quer dizer Gran Turismo injection. No Kadett, GSi significa Gran Sport injection. E, finalmente, o XR do Escort é a abreviatura de Experimental Research ou Extra Racing
julho de 1992
Teste QUATRO RODAS – julho de 1992
Uno 1.6R | Gol GTS | Escort XR3 | Gol GTI | Kadett GSi | |
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de 0 a 100km/h: | 11,82 s | 11,21 s | 12,11 s | 10,34 s | 10,93 s |
velocidade máxima: | 164,7 km/h | 169,6 km/h | 174 km/h | 176,7 km/h | 174,5 km/h |
frenagem de 80 km/h a 0: | 35,5 m | 29,3 m | 34 m | 29,6 m | 33,7 m |
consumo médio: | 9,58 km/l (álcool) | 8,53 km/l (álcool) | 8,77 km/l (álcool) | 11,87 km/l (gas.) | 10,67 km/l (gas.) |
preço (julho 1992): | Cr$ 48.500.000 | Cr$ 49.800.00 | Cr$ 61.300.000 | Cr$ 65.900.000 | Cr$ 78.100.000 |
preço (atualizado IPC-Brasil): | R$ 89.594 | R$ 91.995 | R$ 113.239 | R$ 121.737 | R$ 144.274 |
Uno 1.6R | Gol GTS | Escort XR3 | Gol GTI | Kadett GSi | |
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Motor: | dianteiro, transversal, 4 cilindros em linha, 1 581 cm³, 86,4 x 67,4 mm, carburador, 86 cv a 5.500 rpm, 13,8 mkgf a 3.000 rpm | dianteiro, longitudinal, 4 cilindros em linha, 1 781 cm³, 81 x 86,4 mm, carburador, 99 cv a 5.600 rpm, 14,9 mkgf a 3.600 rpm | dianteiro, transversal, 4 cilindros em linha, 1 781 cm³, 81 x 86,4 mm, carburador, 100 cv a 5.600 rpm, 15,6 mkgf a 3.200 rpm | dianteiro, longitudinal, 4 cilindros em linha, 1 984 cm³, 82,5 x 92,8 mm, injeção eletrônica, 112 cv a 5.600 rpm, 17,5 mkgf a 3.400 rpm | dianteiro, transversal, 4 cilindros em linha, 1 998 cm³, 86 x 86 mm, injeção eletrônica, 121 cv a 5 400 rpm, 17,6 mkgf a 3 000 rpm |
Câmbio: | manual de 5 marchas, tração dianteira | manual de 5 marchas, tração dianteira | manual de 5 marchas, tração dianteira | manual de 5 marchas, tração dianteira | manual de 5 marchas, tração dianteira |
Dimensões: | comprimento, 364 cm; largura, 154 cm; altura, 144 cm; entre-eixos, 236 cm; peso, 862 kg | comprimento, 384 cm; largura, 160 cm; altura, 137 cm; entre-eixos, 236 cm; peso, 960 kg | comprimento, 406 cm; largura, 164 cm; altura, 132 cm; entre-eixos, 240 cm; peso, 998 kg | comprimento, 385 cm; largura, 160 cm; altura, 135 cm; entre-eixos, 236 cm; peso, 997 kg | comprimento, 400 cm; largura, 166 cm; altura, 139 cm; entre-eixos, 252 cm; peso, 1 100 kg |