Renault, Nissan e Mitsubishi anunciaram um plano de metas que focará no desenvolvimento de veículos elétricos, com catálogo amplo previsto para o ano de 2030. A aliança, como as próprias empresas se referem a sua parceria, apresentou diversas propostas inovadoras para o futuro, que buscam também compartilhar tecnologias entre si.
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O projeto dá continuidade a estratégia Leader-Follower (ou Líder-Seguidor), apresentada em maio de 2020, onde a uma das três marcas lidera algum projeto, enquanto as outras duas dão o suporte necessário. No fim, todas as três poderão se beneficiar dos mesmos produtos desenvolvidos, com economia de escala.
O foco está no desenvolvimento sustentável. Até 2030 as empresas pretendem lançar 35 novos veículos elétricos, o que segundo elas constituiria na “maior gama de modelos elétricos do mundo”, todos baseados em cinco plataformas diferentes. O investimento para isso, está na casa dos 23 bilhões de euros nos próximos cinco anos.
“Esses são investimentos massivos, que nenhuma das três empresas poderia fazê-los sozinha. Juntos, estamos fazendo a diferença para um novo futuro global e sustentável, para a Aliança se tornar carbono neutro até 2050”, disse Jean-Dominique Senard, Presidente do Conselho da Aliança.
Compartilhamento de plataformas e tecnologias
As empresas da Aliança criaram a metodologia “diferenciação inteligente”, que define nível de compartilhamento de tecnologias entre cada modelo específico. Dessa forma, são criados parâmetros para o uso comum de plataformas, plantas de produção, segmentos e motorização.
Ou seja, seguindo o exemplo dado pela Aliança, Nissan Qashqai e X-Trail, Mitsubishi Outlander e Renault Austral compartilharão da mesma plataforma (exclusiva para os segmentos C e D) com um futuro SUV de sete lugares a caminho. Isso permitirá que cada uma das marcas possa focar na diferenciação de design e carroceria e outros aspectos individuais para atender melhor às demandas dos seus clientes e mercados.
Atualmente, 60% dos modelos das três marcas compartilham plataformas entre si. A meta é aumentar para 80% do total combinado de 90 veículos até o ano de 2026. O pontapé inicial para essa iniciativa é o crescimento da participação da Mitsubishi na Europa, com a chegada de dois novos modelos que usam plataformas da Renault, entre eles o novo ASX.
Como o foco é na eletrificação, a Aliança já prepara 35 novos modelos totalmente elétricos, dos quais 90% utilizarão cinco plataformas em comum, cobrindo a maior parte dos mercados em todas as grandes regiões. São elas: CMF-AEV (base do Dacia Spring), KEI-EV (para veículos ultracompactos), LCV-EV (para furgões; base do Renault Kangoo e Nissan Town Star), CMF-EV (equipará mais de 15 modelos até 2030; base do Nissan Ariya e Renault Megane E-tech) e CMF-BEV (será lançada em 2024 e utilizada pela Renault, Nissan e Alpine).
O novo Renault R5 e um veículo desenvolvido pela Nissan compartilharão da plataforma CMF-BEV. O compacto japonês, que substituirá o Nissan Micra, exemplifica bem o sistema de compartilhamento das empresas, tendo projeto desenvolvido pelos japoneses e produção no polo industrial Renault ElectriCity, localizado no norte da França.
A CMF-BEV promete uma redução de 33% nos custos de produção e 10% de consumo de energia se comparada com o Renault Zoe. Na pista, a Aliança diz que a plataforma oferecerá 400 km de autonomia e “incríveis performances aerodinâmicas”. Ao todo, as empresas estimam que essa plataforma será base para 250.000 carros produzidos por ano. Só não será mais popular que a CMF-EV, que estará presente em cerca de 1,5 milhões de veículos por ano.
Novas baterias para novas plataformas
Se as plataformas serão compartilhadas, as baterias também serão. As empresas começarão a trabalhar com os mesmos parceiros de negócios, buscando reduzir os custos das baterias em até 50%, em 2026, e 65% até 2028. A estratégia será encabeçada pela Renault e Nissan, que terão o mesmo fornecedor de baterias nos mercados-chave.
Isso resultará em um aumento de produção, que segundo a Aliança chegará em 220 gWh de baterias até 2030. Somado a isso, as três empresas também vão trabalhar juntas (com liderança da Nissan) no desenvolvimento e produção de baterias de estado sólido (SSB).
Essa tecnologia de bateria, segundo as marcas, terá o dobro de densidade de energia em comparação com as baterias de íons de lítio líquidos atuais e reduzirá pela metade o tempo de recarga dos veículos.
O objetivo é produzir as baterias ASSB em massa até 2028. Em seguida, a Aliança tentará diminuir os custos de produção para U$ 65, assim equiparando ao dos veículos a combustão.
Aumento na infraestrutura
Um dos principais problemas dos veículos elétricos está na infraestrutura para carregá-los, e o roadmap da Aliança também tem planos de investimento para isso.
A Mobilize Power Solutions será a parceira responsável pelo fornecimento de serviços, incluindo o desenvolvimento do projeto, instalação, manutenção e gestão otimizada da infraestrutura de recarga e todos os serviços relacionados. Porém, não foi divulgado quanto será destinado especificamente para infraestrutura, nem mesmo como e onde serão feitas as instalações.
Recentemente, a Aliança também assinou contrato com a Ionity, uma rede de estações de carregamentos de alta potência. Isso irá garantir aos proprietários tarifas preferenciais em toda a rede da empresa na Europa.
Conectividade e tecnologia
A conectividade também será aumentada, como forma de beneficiar o compartilhamento de tecnologias entre as marcas. Por isso, a Aliança pretende ampliar o funcionamento do Alliance Cloud. Esse sistema permite a troca de dados e informações, além de receber atualizações de software pelo ar (over the air).
Atualmente, a Aliança afirma que 3 milhões de veículos já estão conectados pelo sistema. A meta é aumentar para mais de 5 milhões de carros com o Alliance Cloud sendo produzidos por ano, totalizando 25 milhões de veículos em circulação.
Na área de softwares e hardwares, a Aliança é dona de 100% dos seus programas e componentes responsáveis por controlar as baterias do veículo. Seguindo essa linha, a Renault está liderando o desenvolvimento de uma arquitetura eletrônica e elétrica centralizada comum, para convergir aplicações de hardware e software com o objetivo de oferecer o máximo de benefícios e um nível otimizado de performance.
Isso dará origem ao primeiro full software defined vehicle (veículo totalmente definido por software, em tradução livre). Esse tipo de veículo, como o nome sugere, tem seus sistemas e funções ativados por programas de computador, ou seja, são basicamente um dispositivo eletrônico sob rodas.
Essa inovação permite que os carros recebam atualizações de software pelo ar de maneira otimizada, podendo encontrar e corrigir falhas de maneira mais rápida e efetiva, assim reduzindo os custos com manutenção e aumentando o valor de revenda. Outro benefício é a comunicação do veículo com o ecossistema digital, permitindo a comunicação direta com diversos aparelhos eletrônicos.
O aumento da conectividade também facilitará a troca de tecnologias entre as marcas. Como foi anunciado, a intenção é que, até 2026, 10 milhões de veículos em circulação de 45 modelos diferentes estejam equipados com sistema de condução autônoma. Provavelmente que as três marcas usarão o ProPILOT da Nissan, ou então alguma variação baseada em sua tecnologia.