Desblindagem do carro ganha espaço, mas pode sair mais caro que blindar
Processo de desblindagem tem se tornado frequente, mas é um serviço complexo e tão caro quanto a blindagem. Veja se vale a pena
Medo e sensação de insegurança continuam a fazer parte da rotina da sociedade brasileira. Mas, na contramão desse sentimento – e dos índices de criminalidade –, tem gente que quer se livrar de uma proteção: a blindagem de carros.
Ao mesmo tempo que o segmento cresce entre 20 e 25% ao ano, um movimento de “desblindagem” começa a ganhar relevância. Só que esse processo de reversão não é nada simples. Tampouco barato.
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A desblindagem é até recente, mas a demanda por esse serviço tem se tornado comum. São donos de modelos seminovos blindados que querem devolver as características originais do carro, seja pelo peso extra que afeta o desempenho e o consumo, seja pelo custo elevado do seguro, pela dificuldade de revender o carro, uma vez que um blindado tem menor procura ou simplesmente pela falta de manutenção da blindagem.
Sim, veículo à prova de bala deve fazer revisões periódicas a cada 15.000 km, em média, especialmente dos vidros.
Porém, nada é tão simples quanto o prefixo “des” sugere. O processo de desblindagem é mais complicado até do que a blindagem em si. É preciso desfazer soldas e reforços que o veículo recebeu em partes da carroceria, como tampas do capô e do porta-malas, e em componentes, como freios e suspensão. Ou seja, o carro que foi adaptado corretamente terá todos os parâmetros alterados novamente.
Além disso, a lataria pode ter sido reforçada com placas de aço, que são coladas e aparafusadas – no caso de o material ser aramida é mais simples, pois é apenas colado. Além de desaparafusar, será preciso encontrar um meio de “tapar” ou esconder os vestígios que vão ficar.
Há pontos ainda mais críticos para o serviço de reversão. As portas são preparadas para receber os vidros grossos. Ao colocar janelas normais e finas, ficarão frestas nas portas, que terão de ser readaptadas – é preciso ter equipamento adequado e mão de obra especializada para tal. Em alguns modelos de carros, no processo de retirada da blindagem é preciso até comprar portas e vidros originais.
“Há coisas que são difíceis de reverter, como o alargamento da porta, ou alguns cortes para o vidro que não vão encaixar. É um serviço complexo e que não é garantido que vai ficar perfeito”, alerta Marcelo Christiansen, presidente da Associação Brasileira de Blindagem (Abrablin).
QUATRO RODAS também ouviu diferentes especialistas do setor e engenheiros, e todos foram quase unânimes. Devido a essa complexidade, a desblindagem não é recomendada. Até porque nem todas as lojas de blindagem fazem o serviço. A reportagem entrou em contato com seis empresas do ramo, quatro em São Paulo e duas no Rio. Nenhuma delas fazia ou recomendava a reversão.
Conseguimos encontrar o serviço em dois estabelecimentos que fazem a retirada. Como clientes, pedimos um orçamento para desblindar um Volkswagen Jetta 2015 que tinha recebido a proteção 3A, a mais popular – mais de 90% dos automóveis blindados usam esse nível. Os atendentes deram preços entre R$ 50.000 e R$ 60.000. O detalhe é que a blindagem para o mesmo sedã ficaria entre R$ 45.000 e R$ 55.000.
Segundo Christiansen, conforme o modelo, só janelas originais podem custar mais caro que os vidros blindados produzidos aqui no Brasil. Ou seja, se o seminovo “protegido” que a pessoa quer é um negócio imperdível, é melhor manter a blindagem e só consertar o que precisar – como trocar os vidros.
Mas se a pessoa estiver disposta a pagar e desblindar de qualquer jeito, a recomendação é procurar, de preferência, a mesma loja na qual foi feita a proteção. Ou então buscar empresas renomadas e com boa reputação no mercado, e com equipamentos certos para fazer o serviço.
O Denatran informa que qualquer modificação das características de um veículo deve ser precedida de autorização do órgão de trânsito, conforme determina o art. 98 do Código de Trânsito Brasileiro. Nesse aspecto, as modificações permitidas são aquelas previstas na Tabela do Anexo da Resolução Contran nº 292/2008, com redação dada pela Portaria Denatran nº 38, de 2018.
A retirada de blindagem está prevista no item 7 dessa tabela e requer a obtenção de um Certificado de Segurança Veicular (CSV) emitido por uma instituição técnica licenciada após o veículo ser submetido a uma inspeção técnica de segurança veicular. Além disso, deve ser retirada do campo Observações do CRV e do CRLV a informação de que o veículo é blindado.
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