Mustang Mach 1 tem visual clássico e mais potência, mas não é mais rápido
Única versão do Mustang vendida no Brasil, o Mach 1 mantém vivo um motorzão V8 aspirado de quase 500 cv e que assusta os desavisados
Em plena era de motores turbinados ou elétricos, o Mustang Mach 1 é um dos últimos modelos a manter um tradicional motor V8 aspirado. Para deixar isso ainda mais visceral, ele herda elementos dos poderosos Bullitt, Shelby GT350 e GT500, ficando ainda mais potente.
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Criado em 1969 para ser uma versão entre o Mustang GT e o Shelby, o Mach 1 tem como essência reunir elementos mecânicos e visuais de outras configurações mais poderosas e exclusivas do muscle car. Depois de seu lançamento, há 52 anos, o modelo teve uma atualização em 1974 e outra em 2003 — a última antes da que apresentamos agora.
Além da mecânica, o visual do modelo reúne diversos elementos clássicos ou emprestados de outros Mustang. Na dianteira, ele ganha uma faixa preta central com a borda em tom contrastante, que pode ser laranja, vermelho ou branco, de acordo com a cor da carroceria. No caso da carroceria azul, como a unidade testada, o detalhe é branco.
A inscrição Mach 1 na ponta da faixa central lembra que este não é qualquer Mustang e mantém a mesma tipografia do modelo de 1969. O grande destaque, porém, fica na grade do cupê. Ela adota apliques circulares que remetem aos faróis auxiliares também da primeira geração da série.
O para-choque tem desenho mais limpo em relação à versão Black Shadow, com aberturas maiores, enquanto o difusor de ar na base vem do Bullitt. Os faróis são os mesmos, com iluminação em LED, mas não há mais os faróis de neblina também em LED. Neste, a peça dá lugar às luzes de posição e de seta, ambas halógenas.
De lado, o modelo repete o grafismo do capô com uma faixa preta e branca que, lembrando, varia de acordo com a cor do carro. As rodas são de 19 polegadas e têm novo desenho, até mais simples do que as disponíveis em demais mercados. Os raios bem abertos, porém, deixam os belos conjuntos de freios Brembo bem aparentes.
Atrás, o Mach 1 também passou por algumas mudanças, como a adoção de um aerofólio bem mais discreto em relação ao do Mustang Black Shadow e o nome da versão em destaque na porção central, pintada de preto. Na parte de baixo, o difusor é novo, com formas triangulares, e as ponteiras das quatro saídas de escape são cromadas e emprestadas do Shelby GT500.
Bem acabado e tecnológico, mas nada familiar
O interior do Mach 1 também muda em alguns detalhes, mas continua com ótimo acabamento e uma sofisticação que não é comum nos muscle cars. Os bancos são de couro preto com uma faixa horizontal no encosto, que acompanha a combinação das faixas da carroceria.
O painel adota a faixa central com um material de aspecto metálico, algo como um aço escovado, e uma plaqueta que identifica o número da unidade em questão. Entretanto, o Black Shadow, vendido anteriormente, parecia expressar mais refinamento e esportividade com bancos revestidos de Alcantara e o painel com uma estampa de fibra de carbono.
Todos os equipamentos do modelo são de série, não há nenhum pacote opcional. Assim, ele oferece seletor de modos de condução, sistema de som premium da Bang & Olufsen, quadro de instrumentos digital configurável e central multimídia com Android Auto e Apple CarPlay.
A central, apesar de moderna, tem visual antiquado e respostas que poderiam ser mais rápidas. Ressalvas também para o quadro de instrumentos, que mesmo sendo bonito e configurável, tem os comandos espalhados entre diversos menus, com uma navegação confusa.
A lista de equipamentos conta com detecção de pedestres com frenagem automática, assistente de permanência em faixa, alerta de fadiga, monitoramento da pressão dos pneus, oito airbags e sistema Fordpass Connect, que conecta o veículo a um celular através de um aplicativo, permitindo que o proprietário monitore as condições e a localização do veículo.
Com tantas qualidades, o Mach 1 peca em um aspecto: espaço. Quem vai na frente, vai bem. Porém, é praticamente impossível levar alguém no banco traseiro pelo mínimo espaço para as pernas e para a cabeça, que fica encostada no forro ou no vidro. Além disso, só “há espaço” para dois, sem a opção de levar alguém no meio. Mas dá para perdoar, afinal, o Mustang não tem qualquer pretensão familiar e tem outras prioridades.
Nascido para as pistas
O Mach 1 é equipado com o famoso motor Coyote V8 5.0 aspirado com bloco e cabeçote de alumínio. Nessa versão, ele ganha 17 cv de potência em relação ao GT, ou ao Black Shadow, e chega a 483 cv e 56,7 kgfm de torque. A bela combinação é formada pelo câmbio automático de 10 marchas e pela tração traseira.
Esse ajuste deixa o Mustang 22 cv mais potente do que o Chevrolet Camaro, seu principal concorrente. Mas o torque é consideravelmente menor, cerca de 6 kgfm a menos no Ford.
Para ficar mais poderoso, o modelo ganhou coletor de admissão, corpo de borboletas maior, sistema de arrefecimento do motor e radiador da transmissão novos herdados do Shelby GT350. Do GT500, ele herdou escapamento, difusor traseiro, conjunto de braços, buchas da suspensão traseira e o sistema de arrefecimento do diferencial traseiro.
Já do Bullitt, vêm a barra antitorção, que faz com que o motor perca a capa de proteção e fique todo a mostra, e o sistema de filtro de captação de ar frio, chamado de open air box. Ele ganha esse nome por ficar todo aberto.
A Ford gosta de reforçar que o Mach 1 é feito para as pistas por ser focado em desempenho e ser o Mustang V8 mais preparado de todos os tempos. E ela tem razão. Ele até é um carro usável no dia a dia se você não se preocupar com conforto – já que quem compra um Mustang não deve estar preocupado com o consumo. Em nossos testes, o muscle registrou as médias de 6,6 km/l na cidade e 11,1 km/l na estrada.
A suspensão é bem rígida, mais até do que no Black Shadow, e fará com que os ocupante acabem sofrendo com a buraqueira. A direção também é mais pesada, mas, em compensação, não transmite as irregularidades como a suspensão.
É na pista e nos modos mais esportivos, porém, que toda a capacidade do modelo aparece e pode assustar quem não está acostumado com um esportivo tão, digamos, indomável assim. As acelerações ficam brutais, os pedais ficam mais sensíveis, a direção endurece enrijece, a suspensão deixa o carro colado no chão e o escape grita ainda mais.
Ele pode até não ter a mesma dinâmica dos concorrentes alemães, mas tem uma dirigibilidade com muita personalidade e cheia de emoções embutidas. Só precisa ter muito cuidado, já que nem sempre os controles de estabilidade e tração vão conseguir segurar as jogadas de traseira do carro.
Enquanto em uma tocada mais tranquila as trocas de marcha acontecem cedo para tentar poupar ao menos um pouco de combustível, nos modos mais esportivos elas são esticadas para a melhor entrega de potência e torque. Mesmo assim, as trocas ficaram mais rápidas porque o Mach 1 tem um novo conversor de torque. Também nos nossos testes, ele foi de 0 a 100 km/h em 4,9 segundos. Em outras palavras, foi 0,1 s mais lento que o antigo Mustang GT Black Shadow, com 466 cv.
Por fim, não dá para não falar do belíssimo ronco do motor V8, que só reforça o comportamento feroz do modelo e dá uma emoção indescritível nas acelerações. Enquanto o giro sobe, o timbre grave passa a dar lugar a um tom mais agudo e de aspecto “rasgado”. Por ter o sistema de escape do GT500, o ronco é ainda mais alto e bonito.
Porém, dá para controlar o barulho emitido pelo “veoitão”. Além dos modos de condução, ele também tem outros quatro modos dedicados ao escape: normal, esportivo, pista e silencioso. O último serve basicamente para não acordar ninguém ou fazer disparar o alarme do carro do vizinho logo pela manhã com o cold start.
Veredicto
O Mustang é um exemplo de modelo que faz qualquer um parecer iniciante pela empolgação. Ele desperta muitas emoções por manter viva a brutalidade tão emblemática do modelo e dos muscle cars. É uma pena que isso deva acabar em breve.
Galeria de fotos
Teste de desempenho – Mustang Mach 1
- Aceleração:
0 a 100 km/h: 4,9 s
0 a 1.000 m: 23,1 s – 234,7 km/h - Velocidade Máxima:
290 km/h* - Retomada:
D 40 a 80 km/h: 2,5 s
D 60 a 100 km/h: 2,7 s
D 80 a 120 km/h: 2,8 s - Frenagens:
60/80/120 km/h – 0 m: 13,1/23,8/53,3 m - Ruído Interno
Neutro/rpm máx.: 48,9/73,4 dBA
80/120 km/h: 66,3/73,8 dBA - Consumo:
Urbano: 6,6 km/l
Rodoviário: 11,1 km/l - Aferição
Velocidade real a 100 km/h: 95 km/h
Rotação do motor a 100 km/h em 10ª marcha: 1.600 rpm
Volante: 2,5 voltas - Seu bolso
Preço básico: R$ 523.950
Garantia: 3 anos - Condições de teste: alt. 660 m; temp., 29 °C; umid. relat., 37%; press., 1.013 kPa
Ficha Técnica – Mustang Mach 1
- Motor: gas., diant., long., 8 cil. em V, 32 válvulas, injeção direta e indireta, 5.000 cm³, 483 cv a 7.250 rpm, 56,7 kgfm a 4.900 rpm
- Câmbio: automático, 10 marchas, tração traseira
- Suspensão: McPherson (diant.), multibraços (tras.)
- Freios: disco ventilado (diant. e tras.)
- Direção: elétrica
- Pneus: 255/40 R19 (diant.), 275/40 R19 (tras.)
- Dimensões: comprimento, 479,7 cm; largura, 208,1 cm; altura, 140,3 cm; entre-eixos, 272 cm; porta-malas, 382 l; tanque de combustível, 60,5 l; peso, 1.814 kg