Teste: Mercedes-Benz EQE 300 é Classe E elétrico com cabine ‘gamer’
Quem vê o EQE 300, com seu design que leva a marca alemã a um novo momento, não imagina que seu forte é conforto, tecnologia e autonomia, e não desempenho
Carros elétricos podem deixar o motorista mal-acostumado em diversos aspectos. O silêncio a bordo é incomparável. A falta de vibração eleva o conforto. O peso das baterias no assoalho deixa o veículo mais assentado na via. E as revisões costumam ser mais baratas e espaçadas. O Mercedes EQE 300 oferece esses benefícios e sem abrir mão do excesso de potência (o que alguns elétricos fazem).
Este é o menor sedã elétrico da Mercedes (por enquanto) e está perfeitamente alinhado com o Classe E (o sedã intermediário da marca) – ele é maior que o Classe C e menor que o Classe S. Prova disso é que se o E300 tem motor 2.0 turbo de 258 cv e 37,7 kgfm e tração traseira, o elétrico EQE 300 está equipado com motor elétrico traseiro de 245 cv e 56,1 kgfm (força equivalente à de uma VW Amarok V6, a diesel).
Atualmente, um Mercedes E300 é caro: custa R$ 573.900. Não surpreende que apenas 55 unidades tenham sido emplacadas no Brasil, em 2022. O EQE 300, por sua vez, custa ainda mais: parte dos R$ 707.900 e o Edition One, série de lançamento mostrado aqui ao lado, aumenta a conta em R$ 2.000 – menos do que o preço cobrado por um cavalo do motor. A relação preço/potência é de R$ 2.897 e só não supera superesportivos. Para ter ideia, é como se um Renault Kwid de 70 cv custasse R$ 202.790.
Paga-se caro, mas o modelo tem presença. Quem vê sua carroceria esguia e aerodinâmica decorada com faróis matriciais supertecnológicos, maçanetas iluminadas, frisos cromados pontuais e rodas raiadas da AMG com aro 21” não imagina que o sedã vai de 0 a 100 km/h em 7,2 segundos, 0,8 s mais lento que o irmão E300.
Quem olhar apenas a cabine, por sua vez, poderá não reconhecê-la como pertencente a um sedã da Mercedes. Na verdade, a depender da iluminação ambiente escolhida, parece o quarto de um adolescente gamer: há leds RGB ao redor do painel, nos apoios de braço e circundando as maçanetas e até os bancos dianteiros.
Essas luzes ainda interagem com a música e com comandos do carro. Por exemplo, a cada toque aumentando a temperatura do ar-condicionado uma luz vermelha percorre o painel na direção de quem fez essa mudança.
O que é fácil reconhecer são as saídas de ar redondas, apenas nas laterais, o volante com comandos táteis e a interface da central MBUX, desta vez com tela de 17,7”, além do visor de 12,3” para o quadro de instrumentos.
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Também são facilmente reconhecíveis os botões de ajuste dos bancos dianteiros elétricos. Mas o EQE 300 tem ajuste automático de acordo com a estatura do motorista. A configuração é feita na tela e basta aguardar que o banco e o volante assumam a posição ideal de condução. Também é por ali a seleção dos modos de massagem.
O banco traseiro é alto o suficiente para ter alguma visão do trânsito e muita visão do céu, graças ao teto panorâmico duplo com cortinas, que se abrem em direções opostas. Isso, sem comprometer o espaço para a cabeça. A plataforma MEA, dedicada a elétricos, garante entre-eixos 8,1 cm maior (3,12 m no total) que o do E300 e o conforto é ótimo. Ainda há controle de temperatura e saídas de ar-condicionado independentes.
Regeneração adaptativa
O melhor que o EQE 300 pode oferecer é a experiência ao volante. Ter muito torque, disponível quase imediatamente (outra vantagem dos elétricos), permite arrancadas vigorosas, na cidade. Na estrada, ele não é tão reativo em retomadas como o E300. Sua disposição aumenta no modo Sport, mas o que se destaca é o som futurista reproduzido pelo sistema (hi-end da marca Burmester) acompanhando a pressão no acelerador.
Outra fonte de satisfação é a oportunidade de trocar facilmente a intensidade da regeneração de energia por meio das borboletas atrás do volante, sendo possível até desligar a função. É fascinante notar como a boa aerodinâmica permite o carro rolar por centenas de metros perdendo pouca velocidade, ou ganhar muito embalo em descida.
A regeneração adaptativa, que usa câmeras, sensores e radares do piloto automático, ainda permite uma condução assistida eficiente, que evita o uso do freio, mas sem que o motorista abra mão do controle do carro.
A proposta do Mercedes EQE 300 é o rendimento no consumo da bateria de 89 kW. Projetamos a autonomia com base no consumo em nosso teste. Os 5,4 km/kWh representam 480,6 km em rodagem urbana, e os 4,8 km/kWh, 427,2 km de alcance na estrada. São 459,2 km em percurso combinado. Dá para ir longe com bastante conforto. É provável, porém, que quem curte o estilo do painel e as luzes prefira ter mais do que 245 cv.
Veredicto – O EQE 300 apresenta uma proposta diferente de propulsão elétrica. Poderia ser considerado mais racional não fosse o preço: R$ 709.900.
Ficha Técnica – Mercedes EQE 300
Motor: elétrico, síncrono, traseiro; 245 cv, 56,1 kgfm
Câmbio: automático, 1 marcha, tração traseira
Direção: elétrica
Suspensão: duplo A (dianteira) / ind. multilink (traseira), pneumática
Freios: disco ventilado (diant. e tras.)
Pneus: 255/35 R21 (diant.) e 285/30 R21 (tras.)
Dimensões: comprimento, 499,3 cm; largura, 196,1 cm; altura, 151 cm; entre-eixos, 312 cm; peso, 1.870 kg; bateria, 89 kWh (líquido); recarga, 11 kW (AC), 170 kW (DC), 30 min de 10 a 80%; porta-malas, 430 l
Teste Quatro Rodas – Mercedes EQE 300
Aceleração
0 a 100 km/h: 7,2 s
0 a 1.000 m: 27,9 s – 191,5 km/h
Velocidade máxima 160 km/h
Retomadas
D 40 a 80 km/h: 2,9 s
D 60 a 100 km/h: 3,9 s
D 80 a 120 km/h: 5 s
Frenagens
60/80/120 km/h a 0: 13,2/23,7/53,8 m
Consumo
Urbano: 5,4 km/kWh
Rodoviário: 4,8 km/kWh
Ruído interno
Neutro/RPM máx.: -/-
80/120 km/h: 56,4/62,5 dBA
Aferição
Velocidade real a 100 km/h: 97 km/h
Rotação do motor a 100 km/h: –
Volante: 2 voltas
Seu Bolso
Preço básico: 709.900
Garantia: 3 anos
Condições de teste: alt. 660 m; temp., 28,5 °C; umid. relat., 62%; press., 1.010 kPa. Realizado no ZF Campo de Provas