MG4 e MGS5 estreiam no Brasil bons de dinâmica, mas ficaram devendo equipamentos
A MG já andou pelo Brasil, mas, agora, está de volta com novo dono e fazendo carros elétricos. Veja o que ela trouxe para a estreia
A MG tem uma história tortuosa. Como todas as marcas de automóveis britânicas, passou de mão em mão driblando falências e prejuízos até cair no domínio de estrangeiros. A Morris Garages, criada em Oxford em 1924, é controlada por chineses há 20 anos e agora dá continuidade a sua expansão global com a chegada ao Brasil.
Rápidos, divertidos e relativamente acessíveis, os roadsters da MG fizeram sucesso pós-Segunda Guerra Mundial, quando dois terços da sua produção eram enviados para os Estados Unidos. Uma pequena parcela chegou ao Brasil ao longo de décadas, por meio de importadores independentes. Eram tão marcantes nas ruas que inspiraram o fora de série nacional MP Lafer, com chassi de Fusca, entre 1974 e 1988.
A marca que por muito tempo estampou esportivos da British Motor Company hoje é usada pelo conglomerado chinês SAIC para ganhar mercado fora da China. O Brasil entrou na rota, com uma operação oficial que começa com três modelos: o hatch médio MG4, o SUV médio MGS5 e o roadster Cyberster, que até flerta um pouco com o passado, e você poderá conferir em breve. Todos os três modelos são elétricos.
Quem está no comando desta operação no Brasil é a própria SAIC, que vem seguindo o roteiro tradicional das marcas chinesas estreantes: anunciou 24 concessionárias concentradas no centro-sul do Brasil (com plano de chegar a uma rede com 70 lojas, em 2026); um centro de distribuição de peças em Cajamar (SP) e a garantia acima da média, de sete anos. É o mínimo para apagar o fiasco da operação, entre 2011 e 2012, por meio de um importador independente paulista, que trouxe algumas poucas unidades dos sedãs MG 6 e MG 550.
“Nós estamos ouvindo os proprietários dos carros mais antigos e avaliando junto à China a importação de peças”, sinaliza Flavio Guzmán, que está no comando dos departamentos de marketing, produto, marca e relações públicas na operação brasileira da MG Motor. A marca também planeja a importação de híbridos para o futuro e estuda trazer a picape híbrida MG9 – baseada na mesma plataforma que dará origem à próxima geração da VW Amarok.
Perto de outras chinesas que estão estreando no Brasil, a MG começa menor, talvez de olho no porvir: a marca tem em curso um investimento equivalente a R$ 7,6 bilhões na China para lançar 13 novos modelos nos próximos dois anos. Além disso, a MG já fez o que nenhuma outra conterrânea conseguiu: conquistou relevância no mercado europeu, onde vendeu 153.000 carros no primeiro semestre deste ano, quase o triplo dos 57.000 carros vendidos na China no mesmo período.
De acordo com Guzmán, a MG será a marca de trabalho da SAIC no Brasil, sem risco de dividir a atenção com outras que formam o grupo. O conglomerado chinês também controla Maxus, Rising, IM e Roewe, e tem joint venture com a GM para linhas de proposta mais acessível, como Baojun e Wuling. Aliás, os negócios com a GM anteciparam a incursão da SAIC no Brasil: os Chevrolet Onix e Tracker são frutos dessa parceria, enquanto o Spark EUV é vendido na China pela Baojun e o futuro Captiva EV é, originalmente, um Wuling. A SAIC também tem uma joint venture histórica com o Grupo Volkswagen, que começou com a montagem do VW Santana na China, em 1984. Hoje, fabricam juntas também carros da Audi e da Skoda.
Enquanto estreia no Brasil por meio da MG, a SAIC (o grupo) trava uma briga com a BYD na China, onde superou a rival em vendas em outubro com 453.978 carros contra 441.706. Será que a rivalidade será replicada aqui?
MG4, o hatch muito potente





























Ainda sem híbridos, a MG aposta em nichos de mercado. O M4G que dirigimos é o XPower, com dois motores (435 cv e 61,2 kgfm) e tração integral (R$ 224.800). E há ainda duas versões só com motor traseiro (204 cv e 35,7 kgfm), Comfort (R$ 169.600) e Luxury (R$ 189.800), mantidas em segredo até o Salão do Automóvel – daí algumas inconsistências na comparação com o vídeo.
Trata-se de um carro com os mesmos 4,28 m de comprimento do VW Golf e 2,70 m de entre-eixos do Toyota Corolla. O novo Golf GTI entrega 245 cv e 37,5 kgfm por R$ 430.000. Mais que a relação entre preço e potência, é a razão entre preço e desempenho. Ainda não testamos o MG4, mas a fabricante garante que ele alcança os 100 km/h em 3,8 s, mesmo desempenho do Audi RS3 Sedan, com 400 cv e que custa R$ 659.990.
Um carro elétrico, contudo, ajuda a entender que a esportividade não é uma conversa de números apenas. Depende de todo um contexto de emoções que o carro é capaz de proporcionar mesmo quando não tem tanta potência. É onde o MG4 peca, porque, apesar dos números, ele não é esportivo. É um carro normal.
O design do MG4 é marcante. Os faróis parecem surgir em cortes na dianteira, as lanternas saltam do carro e têm linhas retroiluminadas na parte superior. As grandes saias laterais trazem detalhes prateados, mas as rodas aro 18” pretas são conservadoras, assim como os pneus Bridgestone Turanza. As peças laranja nos freios a disco das quatro rodas (que são maiores nesta versão), lamento informar, são apenas capa sobre pinças de freio e não pinças esportivas. Faltam detalhes estéticos que sinalizem como esse carro é potente. A versão com tração traseira, com 204 ou 245 cv, que será lançada em 2026, tem o mesmo design.
Isso também vale para a cabine, que exibe bancos esportivos, mas não têm nenhum detalhe com cor contrastante, bordado ou iluminação diferente, aquela decoração comum em versões esportivas. Tem soleiras de inox. E mais nenhuma insinuação de que este carro é tão rápido quanto um Audi RS3.
Aliás, seu painel foi motivo para a estreia da MG ser adiada em alguns meses por aqui, pois o Brasil é o primeiro país a receber o MG4 com ele, que tem telas maiores, botões para o ar-condicionado e console elevado. Mas a multimídia (12,8”) é lenta e o quadro de instrumentos tem indicador de carga e potência em cristal líquido, ao lado da tela principal.
O ar-condicionado é automático com apenas uma zona e não há saídas traseiras. Outros pênaltis são: ausência de iluminação nos para-sóis, teto solar ou mesmo teto pintado de preto.
O espaço traseiro é muito bom e a posição que o motorista assume ao dirigir não é ruim, apesar da bateria de 62,1 kWh sob o assoalho. Mas cuide do seu joelho: a coluna de direção é muito avançada e todos que conduziram o MG4 bateram o joelho nela.
Uma vez abandonada a ideia de que o carro é um esportivo, a boa surpresa é que o MG4 tem o comportamento de um típico hatch médio europeu, com rodar refinado e silencioso, e até mais confortável do que as credenciais desta versão (suspensão 25% mais firme e barras estabilizadoras mais rígidas) sugerem. É confortável mesmo sobre o pior asfalto, mas firme para conter os movimentos da carroceria. Nem parece que foi fabricado na China.
Quando você pisa, como esperado desde o início, o carro é explosivo. Dá a sensação de que a força do motor traseiro faz as rodas dianteiras saírem do chão. Mas eu, sinceramente, preferi usar o hatch elétrico em modos mais brandos que o Sport na maior parte do tempo, pois o torque surge de forma progressiva. É o que melhor combina com o MG4 como um todo. Em resumo, ele é um bom carro, mas não parece tão especial quanto é.
Ficha Técnica – MG4 XPower 2026
- Motor: elétrico, dianteiro, 204 cv, 25,5 kgfm; traseiro, 231 cv, 35,7 kgfm; 435 cv e 61,2 kgfm
- Bateria: íons de lítio, NMC, 62,1 kWh, 279 km no ciclo Inmetro
- Recarga: 10 a 80% em 28 min, a 140 kW, potência de recarga máxima 140 kW
- Câmbio: automático, 1 marcha, tração integral
- Suspensão: McPherson (dianteiro), multibraços (traseiro)
- Freios: disco ventilado (dianteiro), disco ventilado (traseiro)
- Direção: elétrica
- Rodas e pneus: liga-leve, 235/45 R18
- Dimensões: comprimento 4,28 m, largura 1,84 m, altura 1,52 m, entre-eixos 2,71 m, peso 1.800 kg, porta-malas, 350 litros
MGS5, o SUV médio que poderia ser mais sofisticado






































A proposta do MGS5 é ser o carro familiar. É um SUV médio elétrico com a mesma fórmula dos conterrâneos BYD Yuan Plus (R$ 235.800), Geely EX5 (R$ 195.990) e Leapmotor B10 (em pré-venda por R$ 172.800), mas custa R$ 219.800 nesta versão Luxury mostrada aqui (ainda existe a Comfort, menos equipada, sem teto panorâmico e pacote ADAS, por R$ 195.800).
Diferentemente do MG4, o MGS5 não comete certos erros. Ele tem teto panorâmico com abertura elétrica, porta-malas elétrico, saídas de ar traseiras e luzes nos para-sóis. É inexplicável, porém, que o hatch tenha retrovisor interno eletrocrômico e o SUV não. E este SUV também deveria ter ajuste elétrico para o banco do carona.
A essa altura você já deve ter percebido que o novo painel do MG4 é o mesmo do MGS5, mas com outras cores. Ambos usam a mesma plataforma. Embora o SUV seja um projeto mais recente, foi lançado em 2024 – o hatch é de 2022. Problemas como a posição da coluna de direção e lentidão da central multimídia são os mesmos. A tradução da interface também não é boa, a ponto de o MG Pilot, o pacote de assistências semiautônomas, ter virado “Piloto MG”. O motorista acabará usando muito essa aba nas configurações, pois toda vez que ligar o carro terá que ir até lá desligar o inconveniente alerta sonoro de placa de velocidade, que lê o limite de outras vias.
Os MG têm função one-pedal e ela continua habilitada ao ligar o carro. Outros modos de regeneração não ficam salvos. Um deles é o modo automático, que modera a regeneração em função da velocidade e distância dos carros à frente, o que se vê em elétricos de luxo, que custam mais que o dobro.
O MGS5 já segue a tendência dos faróis divididos, com os leds diurnos na parte de cima. A dianteira não disfarça a origem chinesa, mas a traseira tem algo de VW: parece uma fusão entre os SUVs da Skoda e os da Cupra, que têm estilo menos reto.
As maçanetas convencionais, em vez de embutidas, são muito bem-vindas. O espaço traseiro discretamente maior que o do hatch, também. O SUV é mais modesto na potência. A máquina elétrica tem 205 cv e 35,7 kgfm e é montada no eixo traseiro e sua bateria de 62,1 kWh de NCM (níquel, manganês e cobalto) é a mesma do MG4, mas rende até 351 km (Inmetro). O motor traseiro proporciona uma experiência diferente, porque não há torque forçando a movimentação da direção. O controle de estabilidade intercede bastante para limitar qualquer escapada de traseira, mas na reta o SUV chega aos 100 km/h em 6,3 s, de acordo com as medições oficiais da MG.
O silêncio e a estabilidade em rodovia impressionam, mesmo para um elétrico. O MGS5 também é bastante estável, dá uma aula a vários modelos chineses. Por outro lado, tem uma firmeza que falta ao MG4 para destacar a vocação esportiva. O conforto do hatch em asfalto ruim é que cairia bem ao SUV. Mesmo assim, fica registrado que os MG têm o melhor comportamento de suspensão entre os chineses avaliados por nós até agora.
São carros chineses de nascença. Foram fabricados em Fujian para uma marca britânica com especificação europeia. Só precisam abrasileirarem-se, nas configurações, para deixar os erros desta estreia para trás.
Ficha Técnica – MGS5 Luxury 2026
- Motor: motor elétrico traseiro de 205 cv e 25,5 kgfm
- Bateria: íons de lítio, níquel, cobalto, manganês (NCM), 62,1 kWh, 351 km no ciclo Inmetro
- Recarga: 0 a 100% em 9 h, a 6,6 kW; potência de recarga máxima 140 kW
- Câmbio: automático, 1 marcha, tração traseira
- Suspensão: McPherson (dianteiro), multibraços (traseiro)
- Freios: disco ventilado (dianteiro), disco ventilado (traseiro)
- Direção: elétrica
- Rodas e pneus: liga-leve, 225/55 R18
- Dimensões: comprimento 4,48 m, largura 1,85 m, altura 1,63 m, entre-eixos 2,73 m, peso 1.725 kg, porta-malas, 454 litros
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