Impressões: Kia Rio é um Hyundai HB20 com roupagem mais discreta
Demorou tanto para a marca iniciar a importação que deu tempo para a concorrência crescer em quantidade e qualidade
Em 2000, a Kia chegou a ter no Brasil uma unidade hatch e outra sedã do Rio para testes. Àquela época, o modelo era um estreante no mercado externo.
Mas só agora, já na quarta geração, ele recebe a luz verde: a estreia oficial finalmente foi marcada para o fim de janeiro.
Tanto tempo de incubação acabou fazendo mal para o Rio. Acontece que ao longo dos últimos anos os hatches compactos premium se fortaleceram a ponto de, hoje, terem tecnologias impensáveis.
Nesse sentido, o Rio tem um grande problema pela frente. Na verdade dois, chamados Volkswagen Polo e Chevrolet Onix.
A estratégia traçada pela Kia estabeleceu duas versões de acabamento para o Rio: LX e EX, com preços de, respectivamente, R$ 69.990 e R$ 78.990.
O diretor de vendas da Kia do Brasil, Ary Jorge, aposta suas fichas na top de linha EX. “Imagino que, passada a fase de lançamento, tenhamos um mix de vendas de 20% de Rio LX e 80% de EX”, diz Ary Jorge.
Os R$ 9.000 que separam as versões são salgados demais para o conteúdo extra que entrega: faróis com DRL de led, couro, automatização do ar-condicionado e retrovisores externos com pisca, aquecimento e rebatimento elétrico.
Há alguns outros itens ainda menos relevantes como grade frontal em preto-brilhante, apoio de braço entre os bancos dianteiros e volante multifuncional.
Por mais irônico que possa parecer, além dos rivais de outras marcas, como Polo, Onix, Argo, HB20 e Yaris, o Rio EX tem no LX outro adversário, já que por R$ 9.000 a menos, entrega um pacote muito interessante, com controles de estabilidade e tração, ar-condicionado, direção elétrica, central multimídia com Android Auto e Apple CarPlay e trio elétrico.
Mas voltemos à análise da versão EX, única disponibilizada por enquanto pela Kia e apenas para um breve test-drive do tipo impressões ao dirigir, sem direito a levar o carro para um teste completo em nosso campo de provas.
Como já foi dito, um dos alvos principais do Rio EX é o Polo, uma vez que até os números de ambos são muito próximos. Enquanto o Kia tem comprimento x largura x altura x entre-eixos de 4,07 m x 1,73 m x 1,45 m x 2,58 m, o VW tem 4,06 m x 1,75 m x 1,47 m x 2,57 m.
No porta-malas, dados dos fabricantes indicam pequena vantagem do coreano (325 litros ante 300 litros do alemão), algo como uma mochila a mais.
Mesmo se valendo de receitas mecânicas completamente distintas, com motor quatro-cilindros 1.6 16V aspirado no Kia (o mesmo aplicado no HB20) e três-cilindros 1.0 12V turbo no VW, os rivais têm potência parecida: 130/123 cv (Kia) contra 128/116 cv (Polo).
Sem o carro liberado para teste, vamos aos números do PBEV (Programa Brasileiro de Etiquetagem Veicular), do Inmetro.
Em sua categoria, o Rio tem classificação D, com consumo cidade/estrada de 7,2/9,3 km/l com etanol e 10,5/13,4 km/l com gasolina. O VW Polo Highline se saiu melhor: classificação C, 7,9/9,5 km/l com etanol e 11,4/13,9 km/l com gasolina.
Feita a equivalência de conteúdo, o que exige a compra de couro e do pacote Tech High, no Polo, o Kia tem a seu favor a vantagem de ser R$ 2.950 mais barato (R$ 78.990 ante R$ 81.940).
Mas o degrau de preço se justifica a favor do Polo, com seu painel digital multiconfigurável, chave presencial, borboletas no volante, airbags laterais, volante com ajuste de profundidade, vidros com toque único em todas as portas, freio a disco nas quatro rodas e rodas aro 16 – todos esses itens indisponíveis no Rio EX.
Um Onix Premier completo oferece a mais que o coreano serviço de concierge, Wi-Fi, carregador de celular por indução, assistente ativo de estacionamento, chave presencial, airbags laterais e do tipo cortina, vidros um toque e rodas aro 16 – e custa R$ 74.790.
O nível de acabamento do Rio está na média do segmento. Ou seja, montagem e materiais convincentes em termos de qualidade e aspecto visual, mas sem refinamentos como painel emborrachado, por exemplo.
O assoalho traseiro com túnel central baixo facilita a vida quando há três ocupantes no banco traseiro.
Ao volante, o Kia Rio lembra muito o seu primo HB20. Pudera, afinal eles compartilham plataforma, motor (1.6 16V flex aspirado) e câmbio (automático de seis marchas).
Até mesmo a suspensão, que ficou mais firme no novo HB20, tem acerto parecido. Ou seja, ambos, assim como o Argo, têm dinâmica mais confortável do que o Polo, mais firme.
Se na versão de entrada LX o Rio tem bom alinhamento de preço e conteúdo com os concorrentes, o mesmo não se pode dizer a respeito da top de linha EX.
Mais caro e menos equipado, o hatch estreante não deverá ter vida fácil. Assim como a Kia também não, principalmente para fazer valer sua projeção de mix de vendas de 80% de EX e 20% de LX.
Veredicto
O Kia Rio EX não é ruim. O problema é que seus rivais são mais atuais e muito mais completos.
Ficha técnica | Kia Rio EX 1.6 16V Flex |
Preço | R$ 78.990 |
Motor | 4 cilindros, dianteiro, transversal, 1.591 cm3, 16V, flex; 130/123 cv a 6.000 rpm, 16,5/16,0 mkgf a 4.500 rpm |
Câmbio | automático, 6 marchas, tração dianteira |
Suspensão | McPherson (dianteira) /eixo de torção (traseira) |
Freio | disco ventilado (dianteira) / tambor (traseira) |
Direção | elétrica |
Pneu | 185/65 R15 |
Dimensões | comprimento, 406,5 cm; largura, 172,5 cm; altura, 145,0 cm; entre-eixos, 258 cm; peso, 1.141 kg; tanque, 45 l; porta-malas, 325 l |