Exclusivo: aceleramos o Novo Puma
Dirigimos em Interlagos o protótipo que reedita a trajetória do mais bem-sucedido esportivo nacional
O mais lendário esportivo brasileiro está de volta às pistas. Exatos dois anos e cinco meses após anunciar seu retorno (novembro de 2014), a nova geração do Puma ficou pronta.
A primeira aparição pública aconteceu no Autódromo de Interlagos, durante uma etapa do Torneio Interlagos de Regularidade. A convite da Mesgaferre, empresa dona do projeto, nós estivemos lá para conhecer a novidade.
Dividi o volante com dois pilotos da fábrica: Luiz Costa e Gabriel Maia. Fui o terceiro a entrar na pista, mas a espera foi recompensada.
O novo Puma é um carro de corrida. Com o slogan “Nas pistas nascemos, pelas pistas voltaremos”, o objetivo dos construtores é reeditar este ano (leia texto abaixo) a saga do esportivo que surgiu nas competições antes de ficar famoso nas ruas.
O primeiro Puma de passeio, lançado em 1966, tinha chassi e mecânica de um campeão das pistas: o GT Malzoni, da Vemag, de 1964. Agora o chassi é tubular e a mecânica, da VW, marca que equipou os Puma a partir de 1968. Na época, foram usados motores 1.5 e 1.6.
Hoje o novo Puma é empurrado pelo 1.6 do Fox, com 120 cv, acompanhado do câmbio manual de cinco marchas. A carroceria é o que os italianos chamam de barchetta: não tem portas, nem teto.
Na cabine há dois lugares, como determinam os regulamentos de algumas provas de regularidades, que incluem piloto e navegador. E o estilo que coube ao designer Du Oliveira foi inspirado no Puma GT fabricado entre 1968 e 1975.
Chegou minha vez de acelerar. Ajustei-me ao volante, apertei os cintos e saí. Deixei os boxes preocupado em sentir o carro. A primeira característica que chamou a atenção foi a direção: mais leve do que eu esperava.
A embreagem também não exigia força e o câmbio aceitava as trocas rápidas com precisão. Até aí, eu havia percorrido só o trecho da saída dos boxes e parte da reta oposta.
Não fosse o ronco forte e alto do motor e a suspensão copiando cada pedrisco do asfalto, parecia que eu estava ao volante de um carro de rua. No final da reta oposta, porém, tive de fazer a primeira frenagem e, logo depois, a primeira curva.
O freio se mostrou eficiente, mas, ao contrário da embreagem, exigiu que eu pisasse forte, como em um kart, para ver a velocidade baixar. “Você tem que subir no freio”, foi o conselho de Luiz Costa, ainda no boxe.
Fiz um punta-tacco e sem sustos voltei a acelerar. Se alguém estivesse filmando, poderia registrar um sorriso em meu rosto satisfeito com o comportamento do carro.
O Puma se revelou perfeitamente sob controle nas curvas no trecho conhecido como Descida do Lago. Segui acelerando, já me sentindo familiarizado com o carro. Passei pelo Laranjinha, um trecho em aclive que o piloto não vê o asfalto no final da curva, com tranquilidade.
Venci o “S” e o Pinheirinho com prazer e segui para o Bico do Pato. Esse ponto é tenso para mim. Como os pilotos falam, no Bico do Pato há uma curva dentro de outra.
Eu sempre contorno esse pedaço da pista com todo cuidado, mas o Puma se comportou bem, assim como nas curvas seguintes: Mergulho, Junção e Subida dos Boxes.
Ao entrar na reta, lembrei que o desafio aqui seria descobrir o ponto de frenagem antes do S do Senna. Mesmo assim, pisei fundo e devo ter chegado perto dos 200 km/h.
A máxima divulgada pelos construtores é 205 km/h. O Puma pesa 570 kg, segundo a fábrica, o que significa uma ótima relação peso/potência (4,75 kg/cv).
O piloto Gabriel Maia me disse que eu deveria começar a frear faltando 100 metros para o S do Senna. E foi isso que eu fiz. Contornei o S, a Curva do Sol e a partir daí as coisas começaram se repetir.
Já sentia o Puma como extensão do meu corpo, fazendo volta atrás de volta, quando de repente vi a bandeira quadriculada sendo agitada. Era o final do test-drive.
Senti um misto de alegria e tristeza. Alegria porque sempre é bom receber a bandeirada ao cruzar a linha de chegada. Tristeza porque aquilo significava que minha experiência chegava ao fim.
Em breve nas ruas
O novo Puma terá uma versão para as ruas (homologado como protótipo para atender à legislação). Batizado de Puma GT 2.0 Lumi, ele está em fase final de desenvolvimento e deve ser lançado em dezembro deste ano.
O carro de passeio usará a mesma base do modelo de pista, mas a mecânica será Chevrolet, com 180 cv, de acordo com os construtores. Assim como o carro de corrida, a versão de rua também foi desenhada pelo designer Du Oliveira.
O plano de fazer uma versão de rua existe desde o início do projeto da nova geração. A ideia de trazer o Puma de volta nasceu em uma roda de amigos, em 2012.
Daí surgiu a Sociedade de Automóveis Mesgaferre Ltda., empresa registrada com as iniciais dos nomes dos proprietários; Fernando Mesquita (Mes/Fe) e Reginaldo Galafazzi (Ga/Re), à imagem e semelhança da primeira fábrica do Puma.
A histórica Sociedade de Automóveis Lumimari Ltda., de Luiz Roberto Alves da Costa (Lu), Milton Masteguim (Mi), Mario César de Camago Filho (Ma) e Rino Malzoni (Ri).
Para o carro de corrida, inicialmente o objetivo era criar uma nova categoria de automobilismo com regulamento próprio.
Mas agora a Mesgaferre planeja montar sua própria equipe para competir em duas categorias já existentes: Força Livre e Endurance.
Ficha técnica
- Motor: traseiro, transversal, 4 cilindros, 1.598 cm³, 16V, 120 cv e 15 mkgf.
- Câmbio: manual de 5 marchas, tração traseira
- Freio: discos ventilados e perdurados, nas quatro rodas
- Suspensão: duplo A nos dois eixos
- Chassi: tubularem aço
- Carroceria: fibra de vidro
- Dimensões: comp., 424 cm; largura, 179 cm; altura, 128 cm; entre-eixos, 2,47; peso, 570 kg (estimado)
- Pneus: Pirelli P Zero 235/45 R18 (diant.), 245/45/R18 (tras.)
- Desempenho: vel. máx., 205 km/h; tempo de volta em Interlagos (4.309m), 2min10s (dados de fábrica)