Considerando design, dimensões e motores, o Fiat Cronos bate de frente com o Chevrolet Prisma – bem mais do que o também novato Volkswagen Virtus.
É uma ótima inspiração, pois o sedã da GM teve 6.616 unidades emplacadas até março.
É o sedã compacto mais vendido do Brasil, posto que garantiu ao longo de 2017.
Aqui, o encontro entre os dois se dá nas versões mais interessantes para quem busca um sedã compacto automático – ou quase.
É o Chevrolet Prisma LT 1.4 com câmbio automático de seis marchas, de R$ 62.690, contra o Fiat Cronos Drive 1.3 com câmbio automatizado GSR (ex-Dualogic) de cinco marchas, que parte dos R$ 60.990 mas passa aos R$ 62.590 com sensores de estacionamento traseiros e câmera de ré.
Além dos preços parecidos, os dois têm em comum a traseira curta e o entreeixos de 2,52 m (medida comum aos hatches dos quais são derivados).
Também são fieis aos motores com duas válvulas por cilindro quando o número de adeptos às quatro válvulas por cilindro dominam.
Não era assim quando o motor 1.4 da Chevrolet surgiu no Corsa GL com modestos 60 cv, em 1994. Hoje, após algumas boas evoluções técnicas e com o apelido SPE/4, rende até 106 cv e 13,9 mkgf de torque com etanol.
O moderno motor 1.3 Firefly da Fiat, porém, foi contra a manada.
Lançado em 2016, também tem 8 válvulas e entrega 109 cv e 14,2 mkgf com etanol. Além de ter sido concebido com tecnologias que não existiam quando o 1.4 da GM foi criado, como o sistema start-stop, o Firefly tem variador de fase, que muda os tempos de abertura das válvulas.
Não é nada de outro mundo, mas o Chevrolet não tem.
Na pista de testes, porém, os dois andaram muito próximos – o que é uma ótima notícia para o Prisma, que acaba de completar cinco anos.
A maior disponibilidade de torque em baixas rotações do motor 1.3 Firefly, porém, garante ao Cronos as melhores sensações de retomada.
O Fiat também tem o mérito de consumir pouco: registrou médias excelentes de 13,4 km/l na cidade e 16,3 km/l na estrada, com gasolina.
Os números de consumo do Prisma 1.4 são bons, considerando as médias do segmento, mas o Cronos é quase um fenômeno.
Mas os números dos testes são incapazes de mostrar o quão cansativo pode ser lidar com o câmbio automatizado do Fiat.
Um bom câmbio automático é aquele que consegue ser esquecido pelo motorista. Apesar de todas as evoluções técnicas promovidas pela Fiat, seu sistema eletro-hidráulico que elimina o pedal de embreagem não alcança isso.
Há duas formas de evitar os trancos nas trocas de marcha. Uma é ficar atento ao momento das trocas para tirar o pé do acelerador; outra é fazendo as trocas manualmente por meio das borboletas atrás do volante, sincronizadas com o alívio do acelerador.
Não dá para esquecer que o câmbio existe.
O pior é que a Fiat cobra R$ 5 mil a mais pelo câmbio GSR, quando o câmbio automático do Prisma, com conversor de torque em vez de embreagem, eleva a conta em R$ 5.500.
E pensar que as transmissões automatizadas surgiram como alternativas muito mais baratas aos automáticos.
Pelo menos o Cronos tem hill-holder, que segura o carro em ladeiras por alguns instantes antes do carro arrancar.
É uma ajuda e tanto, pois existiria o risco do carro descer alguns centímetros ao tirar o pé do freio e iniciar o acoplamento total da embreagem – o que, em um automatizado, só acontece ao acelerar.
O Prisma peca por não ter hill-holder nem controle de estabilidade, que é processado pelo mesmo módulo.
Mas tem um bom câmbio. Seu motor e câmbio estão sempre conectados pelo conversor de torque, então basta aliviar o pé do freio que o carro reage e as trocas são quase sempre imperceptíveis.
A boa relação entre a pressão exercida no acelerador e as reduções de marcha minimiza a falta de borboletas para trocas sequenciais.
Até há botões para isso na alavanca, mas eles só funcionam em modo manual, ao contrário das borboletas do Cronos.
Em movimento, cada um tem sua personalidade. Com direção mais direta e suspensão mais firme, o Prisma consegue entregar alguma esportividade sem prejudicar muito o conforto dos ocupantes em vias maltratadas. Mas parece flutuar entre 110 km/h e 120 km/h.
O Cronos, por sua vez, tem direção um pouco anestesiada e acerto macio de suspensão, mas parece ter mais chão em velocidades maiores.
A carroceria inclina um pouco mais em curvas, mas não chega a preocupar como ocorria em alguns Fiat antigos.
O sedã da Fiat trata melhor os ocupantes. Os comandos estão mais próximos do motorista, que também tem ajuste de altura do banco mais amplo.
Quem vai no banco de trás tem espaço maior para as pernas, muito em virtude do encosto estar mais recuado, praticamente entre as caixas de roda.
No Prisma, o ajuste de altura do banco do motorista não evita que o posto de comando fique alto. Assim, os comandos do ar-condicionado ficam mais baixos e distantes do que o normal.
O espaço traseiro não chega a ser ruim, mas é inferior ao Cronos e ainda peca por não ter encosto de cabeça e cinto de três pontos para o passageiro central.
Mais por menos
Embora os dois sedãs se enfrentem em suas versões intermediárias, o Chevrolet revela mais carências.
Seu pacote inclui ar-condicionado, direção elétrica, travas elétricas, rodas de aço aro 15″ com calotas, Isofix, sensores de ré, monitor de pressão dos pneus por meio do smartphone e central multimídia MyLink com Android Auto e Apple CarPlay, mas não há câmera de ré.
Mesmo quando com câmbio automático (que, junto com o piloto automático, soma R$ 5.500 ao preço do carro) o Prisma LT não tem computador de bordo, espelhos elétricos, vidros traseiros elétricos, encosto de cabeça e cinto de três pontos para o quinto ocupante, além do controle de estabilidade, todos disponíveis no Cronos Drive.
Um Cronos Drive GSR básico custa R$ 1.700 a menos que o Prisma (ou salgados R$ 5 mil a mais que sua versão manual).
Porém, enquanto a central multimídia Uconnect é item de série, é preciso pagar R$ 1.600 a mais para ter câmera de ré e sensores de estacionamento. Hoje é muito conveniente ter ao menos um dos dois em um sedã.
O Fiat Cronos é mais equipado, mais seguro e eficiente, e tem comportamento dinâmico mais adequado à proposta familiar de um sedã. Por isso, o Cronos leva esse comparativo.
A questão é que dificilmente alguém que já teve um carro com câmbio automático se acostumará com o câmbio do Fiat. Após test-drive, certamente optará pelo Prisma sem constrangimento.
A solução para o Cronos seria combinar o motor 1.3 ao câmbio automático de seis marchas, que só está disponível com o velho motor 1.8 E.torQ.
Mas assim a Fiat criaria um outro problema: quem compraria o Cronos 1.8 automático após isso?
TESTE DE PISTA (COM GASOLINA)
Chevrolet Prisma LTZ | Fiat Cronos Drive 1.3 GSR | |
Aceleração de 0 a 100 km/h | 13,2 s | 13,7 s |
Aceleração de 0 a 1000 m | 35,1 s – 146 km/h | 35 s – 152,1 km/h |
Retomada de 40 a 80 km/h | 5,7 s | 6 s |
Retomada de 60 a 100 km/h | 7,7 s | 7,6 s |
Retomada de 80 a 120 km/h | 10,5 s | 10,4 s |
Frenagens de 60 / 80 / 120 km/h a 0 | 16,8/28,9/69,4 m | 16,9/29,2/69,9 m |
Consumo urbano | 12,3 km/l | 13,4 km/l |
Consumo rodoviário | 15 km/l | 16,3 km/l |
FICHA TÉCNICA
Chevrolet Prisma 1.4 LT | Fiat Cronos Drive 1.3 GSR | |
Motor | flex, diant., transv., 4 cil., 1.389 cm3, 8V, 106/98 cv (E/G) a 6.000 rpm, 13,9/13 mkgf a 4.800 rpm | flex, diant., transv., 4 cil., 1.598 cm3, 8V, 104/101 cv (E/G) a 5.250 rpm, 15,6/15,4 mkgf a 2.500 rpm |
Câmbio | automático, 6 marchas, tração dianteira |
automatizado, 5 marchas, tração dianteira |
Suspensão | McPherson (diant.) e eixo de torção (tras.) | McPherson (diant.) e eixo de torção (tras.) |
Freios | disco ventilado (diant.) e tambor (tras.) | disco ventilado (diant.) e tambor (tras.) |
Direção | elétrica | elétrica |
Rodas e pneus | aço, 185/65 R15 | 185/60 R15 |
Dimensões | comp., 428,2 cm; altura, 147,8 cm; largura, 196,4 cm; entre-eixos, 252,8 cm; peso, 1.080 kg; porta-malas, 500 l; tanque, 54 l | comp., 436,4 cm; altura, 150,7 cm; largura, 172,6 cm; entre-eixos, 252,1 cm; peso, 1.159 kg; porta-malas, 525 l; tanque, 48 l |