Picape média da Ram será Toro gigante com até 270 cv e produção nacional
Maior que a Fiat Toro e menor que a Ram 1500, a nova picape entrará no segmento das picapes médias em 2023
Em 2019, a antiga FCA já sonhava com a ideia de vender uma picape média no Brasil, formando um trio de sucesso junto das Fiat Strada (que logo ganharia nova geração) e Fiat Toro.
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Para isso, entretanto, era necessário acostumar o consumidor local com a marca Ram, há alguns anos emancipada da Dodge e escolhida para identificar essa nova caminhonete, prevista para 2023.
Apelidada de “Torona” nos corredores da Fiat, as linhas do “projeto 291” são bem mais próximas às da Ram 1500, coroando a iniciativa de trazer a caminhonete grande para o mercado nacional, ignorado pelas concorrentes Ford (F-150) e Chevrolet (Silverado).
A 1500 não ligou para pandemia ou dólar nas alturas e, a surreais R$ 469.990, acumula filas de espera, enquanto a Ram vem se tornando uma marca objeto de desejo.
As margens cada vez mais apertadas da indústria, porém, jamais tornariam viável um projeto exclusivamente nacional. Posta em xeque durante a fusão que originou a Stellantis, a picape média também precisava servir aos EUA, que neste momento procura como nunca as intermediárias Ford Maverick e Hyundai Santa Cruz.
Ainda que ambas tenham dimensões mais próximas às da Toro, esse sucesso é um sinal importante por se tratar de dois modelos em monobloco. Afinal de contas, fontes ligadas ao projeto 291 nos confirmaram que a novidade será feita sobre a longeva plataforma Small-Wide 4×4, que já serve de base a Toro, Renegade, Compass e Commander.
Em relação aos modelos nacionais, haverá novos motores (ver destaque) e nova geometria de suspensão, mas o câmbio automático de nove marchas deve ser reaproveitado, bem como o sistema de tração 4×4.
Esqueleto de Toro, cara de Ram
Separando suas várias marcas em propósitos distintos, a Stellantis sabe muito bem a importância de encantar o consumidor brasileiro, que está mais próximo do americano no apego material ao carro.
O grupo, inclusive, conta com uma gerente de storytelling e content; ou seja, uma profissional de comunicação dedicada à construção da imagem de cada fabricante da holding.
Caberá à nova Ram o papel de ser um produto de prestígio como a 1500 – missão muito difícil de ser capitaneada pela Fiat, por questão de posicionamento.
Para facilitar o trabalho do marketing, entretanto, a nova picape monobloco será bem parecida com a 1500, ainda que aproveite portas dianteiras da Toro.
Em relação à intermediária, o projeto 291 prevê entre-eixos maior, com cabine alongada. De comprimento na casa dos 5 metros, a nova picape reforçará a “urbanização” desse segmento, com cabine dupla e caçamba menor que a de concorrentes, mas com uma versão interna da Ram Box (porta-objetos embutido na carroceria) e abertura da tampa para os lados.
Os pormenores seguem em debate, mas a dianteira terá faróis ao estilo das Ram americanas, junto ao capô bem marcado para dar um aspecto musculoso. Internamente, espere o quadro de instrumentos de 10,25” do Compass Limited com grafismos mais bem trabalhados.
A multimídia vertical, também usada na Toro, é outra boa probabilidade, assim como o estilo sertanejo off-road, equivalente do visual que a Jeep trouxe nos últimos anos.
O processo de entrada da Jeep no Brasil também servirá de inspiração à Ram, que repetirá dos “puxadinhos” em concessionárias ao investimento maciço em propaganda e conteúdo midiático para se tornar parte da cultura nacional.
Quanto ao nome da caminhonete, o portal Autos Segredos crava na aritmética escolha por Ram 1200. Consultores ligados à Stellantis pensam diferente e apostam na ressurreição (com batismo levemente alterado) da Ram Dakota, recomeçando a história da extinta picape média que, ainda sob a tutela da Dodge, foi fabricada no Brasil entre 1998 e 2001.
Conhece-te a ti mesmo que eu me conheço bem
Ao contrário da 1500, a nova Ram média será mais adequada para os centros urbanos, atraindo um público menos dependente de capacidade off-road extrema.
Obviamente, a picape terá tração nas quatro rodas e geometria de suspensão própria, mas a evolução das estradas e da qualidade construtiva tornou viável a opção pelo monobloco, que também é mais leve, o que favorece o consumo.
Um flagra realizado no mês passado mostrou uma Ford Maverick e uma Hyundai Santa Cruz subindo a BR-381, em Pouso Alegre (MG), as quais confirmamos, depois, foram compradas pela Stellantis.
Em Betim (MG), as concorrentes serão submetidas a uma espécie de engenharia reversa, a fim de analisar vícios e, sobretudo, virtudes que permitiram a elas quebrar a obsessão norte-americana pelos chassis. A tração integral inteligente, cada vez mais valorizada, também é um ponto de estudo, assim como os ajustes de suspensão.
Uma mula que diz muito…
Durante os testes para o lançamento do Jeep Grand Wagoneer, projetistas utilizaram uma mula que ilustra bem como será a nova picape no mundo real. A 1500 “artesanal” flagrada nos EUA tem entre-eixos mais curto, assim como a caçamba. Em relação ao projeto 291, as diferenças estéticas se concentram na altura, tamanho do capô e retrovisores.
Motor a gasolina
Temos certeza quanto ao motor a gasolina 2.0 turbo da família GME. Também embarcado em carros da Maserati, Alfa Romeo e Jeep, o quatro-cilindros tem versões que chegam aos 274 cv e 40,8 kgfm, podendo ser flex no Brasil. Tão importante quanto a produção em larga escala, seu projeto permite a eletrificação leve, favorecendo torque em baixas rotações e emissões dentro dos limites cada vez mais rígidos. A grande redução de peso frente ao uso de chassis abre possibilidade para ótimos números de consumo.
Motor a diesel
A versão diesel da nova Ram trará o 2.2 Multijet II, também usado por Alfa e Jeep. A tendência é que ele seja aprimorado para ir além dos 200 cv e 45 kgfm, também com possibilidade de eletrificação leve. Com os predicados do 2.0 GME, entretanto, não se surpreenda se a marca mais uma vez subverter a lógica, agora revivendo as picapes médias flex no Brasil.