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Troca-troca justo

Por Redação
2 mar 2015, 12h12

Eu tenho um amigo chamado Brian que equivocadamente acredita que todo o guarda-roupa dele é um oceano de alta qualidade, excelente design e refinado bom gosto simplesmente porque ele compra tudo Dolce & Gabbana, Gucci, Prada e Calvin Klein. Você pode apresentar a ele um casaco fino de um excelente alfaiate das antigas e ele o rejeitará imediatamente como lixo, porque não tem a etiqueta correta.

Naturalmente, você poderia dar ao Brian um Nissan GT-R e ele faria a cara de quem acabou de prender o dedo na porta giratória do banco. Você poderia explicar a ele que o carro acelera como um projétil de artilharia, freia como se batesse em uma parede e faz curvas tão violentas que poderia arrancar sua cabeça.E poderia continuar explicando como os pneus são enchidos com nitrogênio, porque o ar normal é imprevisível, ou como as rodas têm aros salientes, para evitar que os pneus sejam rasgados nas curvas. Você também poderia falar que o motor é construído em uma fábrica hermeticamente selada, para assegurar que todos os componentes estejam no mesmo estado de expansão térmica quando o conjunto é montado. E ele diria: “Sim. Mas é um Nissan”. E devolveria o carro.

Atualmente, há seis marcas de carro com grife ao estilo Brian: Ferrari, Maserati, Lamborghini, Aston Martin, Bentley e Rolls-Royce. Esses são os fabricantes que poderiam vender ao Brian qualquer porcaria e ele acharia ótimo, desde que tivesse o emblema certo na tampa traseira.

A Porsche não está na lista, e não estou levando em conta os fabricantes de nicho, como McLaren, Pagani e Koenigsegg. Nem a Mercedes-Benz, o que explica por que a limusine Maybach foi um fracasso de vendas. Ela era silenciosa e confortável e tinha bancos traseiros individuais, no estilo de poltronas de primeira classe de avião, mas no fundo continuava sendo um Mercedes. E esse é um carro, na verdade, para motoristas de táxi do aeroporto de Zurique. Se eu fosse o presidente da Mercedes, ficaria um pouco preocupado com isso. Porque hoje, mais do que nunca, o escalão superior do mercado de carros está sendo dominado pelos Brian da vida. Alguns são os Brian chineses. Muitos são da Índia. E nenhum deles compraria um Mercedes, mesmo se fosse feito de ouro cravejado com diamantes e custasse umas moedinhas. A marca é boa. Mas não é uma das seis. A Toyota tentou contornar esse problema, lançando a marca Lexus. Mas não deu lá muito certo. Eu sei que o LFA é um dos melhores carros que já viram a luz do dia, mas para o Brian? Oh, não, meu caro. Não.

A Nissan tem um problema semelhante com sua marca premium, a Infiniti. Infini-quê? Exato. Você não pode simplesmente tirar um nome do ar e esperar que ela se torne a nova Fabergé. Você precisa incluir alguma história nos seus anúncios publicitários, algumas fotos em sépia em jalecos e óculos de aros grossos cortando couro com cara de quem está muito concentrado. Veja o que os relojoeiros fazem. “Genebra desde 1898”. Isso funciona. “Tóquio desde 2004”. Isso não.

Então, voltemos à Mercedes. Ela não pode usar seu próprio nome para entrar no mundo de luxo do Brian. E ela não pode criar um novo nome usando macarrão de letrinhas. A única solução é comprar uma das seis marcas que já estão no mercado. A BMW fez isso quando adquiriu a Rolls-Royce. A Volkswagen seguiu o mesmo caminho comprando a Lamborghini e a Bentley. A Fiat está apreciando la dolce vita hoje em dia, porque tem a Ferrari e a Maserati. Então sobra apenas uma: a Aston Martin.

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A Aston Martin está por conta própria, e isso está começando a pesar. Sem os bolsos recheados com o dinheiro de uma grande empresa-mãe, ela está com a água batendo no peito, reinventando interminavelmente o DB9. Não há ideias novas. A Bentley e a Ferrari estão abrindo distância. O automóvel que ilustra este artigo é o novo Vanquish. Mas ele não é realmente novo. Ele é o Vanquish antigo, com um novo câmbio.

E o câmbio nem sequer é novo de verdade. Ele é o automático de oito marchas do fabricante alemão ZF, que já equipa outros carros há certo tempo. Mas é a primeira vez, diz a Aston com orgulho, que esse câmbio é montado na traseira. “Uauuuu!”, posso ouvir você pensar. Sim! Um transeixo automático de oito marchas.

A Aston afirma que, graças ao novo câmbio, o Vanquish é ainda mais rápido, e que agora passa dos 320 km/h. Tudo bem, mas a principal razão pela qual todo mundo está adotando câmbios de oito marchas atualmente é para atender às normas de consumo de combustível e emissões.

Mas não sei se essa combinação foi um sucesso completo, pois, para fazê-la funcionar, a montadora inglesa teve de mexer com o cérebro eletrônico do carro. E ele ficou meio lerdo. Quando você vê um espaço no tráfego numa rotatória, você quer, ao pisar no acelerador, que o poderoso motor V12 responda imediatamente. Mas isso não acontece. Ele pensa um pouco e, quando concorda em atender ao seu pedido, o espaço já se fechou. É a mesma história quando você vai ultrapassar. Se você não estiver com o pé cravado, ele parece perguntar: “Você tem certeza disso?”

A forma de contornar tudo isso é manter o modelo no modo Sport. O que anula todos os avanços ecoativistas obtidos com o câmbio de oito marchas. Mas, como eu não importo com avanços ecoativistas, foi exatamente o que fiz. Então ele se torna um carro adorável. Doce e suave quando você quer, rouco e louco quando você não quer e completa e fascinantemente maravilhoso sempre. O interior também é delicioso.

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Mas há alguns poucos detalhes que poderiam fazer uso de um reprojeto “do zero”. O volante tem uns botões que parecem ter vindo dos gabinetes de guerra do Churchill e o GPS é ilegível metade do tempo. O carro também precisa perder algum peso, o que o tornaria mais ágil. E alguém tem de voltar àquela unidade de controle do motor e melhorar um pouco as coisas em rotatórias.

Mas aí está o problema. O custo de fazer todas essas coisas é, sei lá, 1 bilhão, 1 trilhão? Não faz diferença: é um dinheiro que a Aston não tem. E é por isso que, além do câmbio, a única coisa que posso pensar em dizer sobre o “novo” Vanquish é que ele está disponível em novas cores.

Só tem uma solução. Olha aí, Daimler! Está prestando atenção? Você já tem 5% da Aston Martin e um tipo de “acordo de compartilhamento de tecnologia”. Por que não assumir tudo?

Então a Aston terá os recursos de que necessita para fazer o tipo de carro que vocês gostariam de ter no seu portfólio, mas não conseguem porque seu emblema não é bom o bastante.

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