Teste: JAC T50 aposta em conteúdo, já que o desempenho não ajuda
SUV compacto chega para competir em um dos segmentos mais disputados do país, mas ainda falta fôlego ao conjunto mecânico
Entrar na disputa de um dos segmentos mais concorridos do mercado, o de SUVs compactos, não é fácil. Há atualmente boas opções, como Hyundai Creta, Nissan Kicks, Jeep Renegade, Honda HR-V, entre outros rivais de marcas tradicionais.
É com essa turminha que o novo JAC T50 quer brigar, desafio ainda mais contundente para um modelo de origem chinesa, que sofre preconceito no mercado brasileiro. Evolução do T5, o modelo ganhou visual renovado e motor mais potente para tentar não sair em desvantagem.
Mas a grande aposta da JAC é no conteúdo. O T50 traz uma lista com equipamentos que muitas vezes nem aparecem em carros de categorias superiores.
Desde a versão de entrada, chamada Pack 2, há ar-condicionado digital automático, controle de estabilidade, bancos de couro (sintético), monitoramento de pressão dos pneus, assistente de partida em rampa, isofix, faróis com regulagem elétrica de altura, volante multifuncional, direção elétrica progressiva e sensores de estacionamento dianteiro e traseiro. Tudo isso por R$ 83.990.
A opção de topo, Pack 3, por R$ 87.990, acrescenta ainda câmera frontal, quatro câmeras ao redor do veículo que proporcionam visão 360º, luzes diurnas de LED, piloto automático, retrovisores com rebatimento elétrico, sensor crepuscular, rack de teto, volante revestido de couro e central multimídia com tela de 8 polegadas e espelhamento dos sistemas Android e iOS.
Em relação ao T5, lançado em 2016, o T50 recebeu as seguintes mudanças externas: novos faróis, lanternas, grade dianteira, para-choques, tampa do porta-malas e rodas. Ah, o logotipo também passou a contar com a nova identidade visual da marca. Parece muita coisa, mas a essência do modelo se manteve a mesma.
Por sua vez, o interior foi praticamente todo redesenhado – segundo a JAC, só sobraram as maçanetas e o acendedor de cigarros em comum. O acabamento é bom, com materiais de revestimento agradáveis ao toque, e a posição de dirigir poderia ser aprimorada com ajuste de profundidade do volante, já que apenas o de altura é oferecido.
O painel de instrumentos tem visualização clara e a tela flutuante do sistema multimídia se destaca facilmente aos olhos, com comandos fáceis e de resposta rápida. O pareamento com o celular, por sua vez, não é tão intuitivo.
Com 2,56 metros de entre-eixos, há espaço suficiente para dois adultos viajarem com conforto no banco de trás. A capacidade declarada do porta-malas é de 600 litros, mas de acordo com as medições chinesas, que não são as mesmas usadas pelos concorrentes (VDA).
Ao volante, porém, o carro mostra suas maiores fraquezas. Apesar de ter trocado o 1.5 flex com até 127 cv de potência e 15,7 mkgf de torque por um – também 4-cilindros – 1.6 a gasolina de 138 cv e 17,1 mkgf – o mesmo motor do T40 –, falta fôlego ao T50.
Ainda não há a opção flex, que deve chegar em meados do ano que vem. O casamento entre motor e câmbio não é tão harmônico quanto deveria ser. O câmbio CVT com simulação de seis marchas demora a responder, especialmente nas arrancadas. Mas o desempenho em percursos urbanos, em velocidades mais baixas, ainda é razoável.
É na estrada que dirigir o T50 se torna mais desafiador. Além da lenta progressão de aceleração, a letargia nas retomadas obriga o motorista a ter cuidado extra nas ultrapassagens. Fazem falta as borboletas para trocas de marcha, que podem ser feitas apenas diretamente na alavanca. Mesmo assim, o resultado não é satisfatório.
Os números de teste mostram que a mudança de motor não trouxe vantagens ao T50. A aceleração de 0 a 100 km/h passou de 13,04 segundos com motor 1.5 para 13,46 com o 1.6.
As retomadas apresentaram ligeira melhora, especialmente em velocidades mais altas – de 80 km/h a 120 km/h, o carro leva 9,7 segundos, número que anteriormente era de 10,33 segundos. Nada que faça uma diferença significativa.
Outro ponto que incomoda no SUV é o alto ruído do motor com giro acima de 3.000 rpm. Já a suspensão tem bom acerto, absorvendo os impactos do solo de forma adequada, sem ser firme ou mole demais.
Veredicto
Com esses atributos, o T50 terá uma dura batalha pela frente. Seu bom custo-benefício é a chave para conquistar clientes que não estão atrás de um desempenho brilhante, mas valorizam a recheada lista de itens de conforto, superior à da maioria dos rivais nessa faixa de preço.
O fato de o Grupo SHC, que representa a JAC Motors no Brasil, ter entrado com pedido de recuperação judicial tende a aumentar ainda mais a desconfiança dos consumidores.
Segundo o presidente da empresa, Sergio Habib, a medida foi tomada justamente para proteger as operações da JAC.
Para comprovar a afirmação, o executivo anunciou ao menos três lançamentos em 2019: o T80, um SUV de sete lugares com motor 2.0 de 190 cv, uma picape média equipada com motor diesel e tração integral, além do E40, que promete ser o elétrico mais barato do país, ao preço de R$ 129.990.
Teste de pista
- Aceleração de 0 a 100 km/h: 13,46 s
- Aceleração de 0 a 1.000 (segundos/km/h): 35,7 s/149,97
- Velocidade máxima: 198 km/h*
- Retomada de 40 a 80 km/h (em D): 5,84 s
- Retomada de 60 a 100 km/h (em D): 7,31 s
- Retomada de 80 a 120 km/h (em D): 9,70 s
- Frenagens de 60 / 80 / 120 km/h a 0: 14,89 / 27,29 / 62,82 m
- Consumo urbano: 15,1 km/l
- Consumo rodoviário: 13,9 km/l
- Ruído PM/1° em máx.: 49,7/70,1 dB
- Ruído a 80 km/h/120 km/h: 63,8/69,3 dB
*dados de fábrica
Ficha técnica – JAC T50
- Preço: R$ 83.990
- Motor: gasolina, dianteiro, transversal, 4 cilindros em linha, 16V, 1.590 cm3; 138 cv a 6.000 rpm, 17,1 mkgf a 4.000 rpm
- Câmbio: CVT 6 marchas, tração dianteira
- Suspensão: McPherson (dianteiro) / eixo de torção (traseiro)
- Freios: discos ventilados (dianteiro) / discos sólidos (traseiro)
- Direção: elétrica
- Rodas e pneus: liga leve, 205/45 R17
- Dimensões: comprimento, 434,5 cm; altura, 164 cm; largura, 176,5 cm; entre-eixos, 256 cm; peso, 1.320 kg; tanque, 45 l; porta–malas, 600 l