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Renault vende operação russa ao governo de Putin por sete centavos de real

Maior fabricante do país, Renault desiste da Rússia devido ao agravamento de sanções. Carros feitos pelo governo perderão até ABS, dizem analistas

Por Eduardo Passos
28 abr 2022, 14h09
Renault fabricava sete a cada dez carros na Rússia, mas vendeu suas operações por centavos
Renault fabricava sete a cada dez carros na Rússia, mas vendeu suas operações por centavos (Divulgação/Renault)
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Desde o início da guerra na Ucrânia, a Renault vem tentando manter as operações na Rússia, onde lidera com largas margens. A montadora francesa, entretanto, acaba de jogar a toalha, vendendo suas operações locais ao governo russo.

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A Renault controlava, desde 2007, 68% da icônica fabricante russa Lada por meio da empresa AvtoVAZ, além de produzir modelos próprios e da Nissan. A união frutífera permitiu que, dos dez carros mais vendidos no país em 2021, três, incluindo os dois primeiros, Vesta e Granta, fossem da Lada, com o Renault Duster em nono lugar. 

Ao todo, 30% do mercado automotivo russo pertencia à Renault, com 45.000 pessoas empregadas nas atividades locais. Com as sanções e restrições causadas pela guerra de Vladimir Putin, entretanto, foi se tornando cada vez mais difícil operar no país. 

De bilhões a centavos

Segundo The Wall Street Journal, quando deflagrado o conflito, a marca logo procurou um jeito de cessar atividades no país, ao mesmo tempo que produzia o que dava com as peças em estoque nas fábricas locais.

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Com o prosseguimento da guerra, porém, o prejuízo foi grande, uma vez que salários e fornecedores eram pagos, mas as vendas despencavam. No final de março, férias coletivas foram dadas para repor estoque e encontrar soluções, que não foram das melhores.

Governo russo já comanda fábrica de 65.000 m² em Moscou
Governo russo já comanda fábrica de 65.000 m² em Moscou (Divulgação/Renault)

Com valor estimado em R$ 12 bilhões, a fatia da Renault na AvtoVAZ foi transferida para o governo russo, anunciou a agência RIA Novosti. A avaliação de mercado deu lugar ao valor simbólico de um rublo, que, na cotação atual, corresponde a algo como R$ 0,07.

Segundo Denis Manturov, ministro de Comércio e Indústria da Rússia, a montadora francesa poderá comprar sua parte de volta em “cinco ou seis anos”. Manturov não especificou se a recompra seria feita pelo mesmo valor, mas adiantou: qualquer investimento feito por Moscou será cobrado.

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Vacas magras

Daqui em diante, tudo que a Renault fazia na Rússia será realizado por órgãos e institutos estatais. A fábrica de Moscou, onde foram produzidos 75.835 carros em 2020 — incluindo o Nissan Terrano e os Renault Duster, Kaptur e Arkana — já está em posse do regime de Putin, disse o ministro.

Segundo a imprensa local, os funcionários da AvtoVAZ trabalharão quatro dias por semana, durante os próximos três meses. Em maio, a ideia é gastar o estoque feito durante as férias forçadas, com problemas graves começando em junho.

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Carro mais vendido da Rússia em 2021, Lada Vesta terá versão “pé-de-boi” como única opção, acreditam analistas (Divulgação/Lada)

Em entrevista à rádio Sputnik, o jornalista automotivo Maksim Kadakov traçou um panorama sombrio para a Lada, que já vende 37% a menos que no ano passado. “Carros em versões sem nenhum componente eletrônico como, por exemplo, ABS, serão feitos a partir de junho”.

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“Posso dizer que esses carros em versões simplificadas não parecerão ‘farrapos’, serão carros normais. A AvtoVAZ se esforçará bastante para que pareçam bons veículos”. Segundo Kadakov, tais modelos serão mais baratos e “quem comprar um desses carros entenderá que o carro terá coisas faltantes, mas seguirá sendo um carro”.

Ao todo, 225.128 unidades do Vesta e do Granta (foto) foram vendidas em 2021. Modelos perderão até ABS na fase estatal da Lada
Ao todo, 225.128 unidades do Vesta e do Granta (foto) foram vendidas em 2021. Modelos perderão até ABS na fase estatal da Lada (Divulgação/Lada)

Horizonte sombrio

Com a saída da maior fabricante de carros da Rússia, analista já veem um “guia” para outras montadoras, completou o WSJ. A Stellantis, por exemplo, já interrompeu atividades no país, citando dificuldades logísticas e sanções.

Parlamentares russos agora buscam aprovar uma nova lei, que permita o confisco de bens das empresas que saiam do país em resposta à guerra na Ucrânia. A medida tem o apoio de Putin e, em sua justificativa, busca defender os empregos e evitar falências.

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