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Engenharia ou feitiçaria?

Por Jeremy Clarkson
28 ago 2013, 14h26

O McLaren MP4-12C Spider é rígido como um cupê, tem o melhor controle de tração que já conheci e humilha Ferrari 458

Quando testei o McLaren MP4-12C, critiquei o nome, mas afirmei que ele era melhor, de todas as formas mensuráveis, do que a Ferrari 458 Italia. Mas disse também que lhe faltava um brilho, audácia, tempero. Que ele era técnico demais e desalmado demais. E que, se tivesse de escolher, eu ficaria com a Ferrari. Outros resenhistas chegaram às mesmas conclusões e, como resultado, a McLaren resolveu logo a situação. Ela fez uma sintonia fina no escapamento para que ficasse com um som mais tempestuoso. Deu ao esportivo ainda mais potência. E colocou nas portas maçanetas que funcionam mesmo. Muito bom. E, principalmente, tirou o teto, para criar o 12C Spider.

O efeito desse recorte foi dramático. É como uma daquelas garotas com ar austero que aparecem em filmes e que, apenas soltando o cabelo, tornam-se completos furacões sexuais. Os britânicos adoram conversíveis. Eles compram mais conversíveis do que praticamente qualquer outro país da Europa – e é fácil entender o porquê. Como o sol é um visitante raro nas Ilhas Britânicas, eles não querem desperdiçar os dias em que ele dá o ar da graça sentados sob um teto de metal. Eles querem saboreá-lo, porque sabem que amanhã ele terá ido embora.

Eu adoro dirigir um conversível. Adoro o som e a sensação de que é só você se movendo pelo tempo e espaço. Quando você está num conversível, as sensações são tão vívidas que o carro em si é um detalhe. Preocupar-se com a dirigibilidade quando seu cabelo está ao vento é como se preocupar com o crescimento das suas unhas do pé enquanto está sendo atacado por um enxame de abelhas assassinas.

E isso é bom, porque em geral conversíveis não oferecem o mesmo controle, dirigibilidade ou desempenho dos modelos com teto fixo. Isso porque hoje o chassi de um carro é sua carroceria. Dianteira e traseira não são unidas por dois grandes trilhos, como no passado, mas pelo assoalho e pela capota. Tirar 50% dessa ligação faz com que você precise colocar um reforço estrutural que a) aumenta o peso e b) nem sempre é um substituto realmente satisfatório. Conversíveis nunca parecem ter a mesma rigidez – da mesma forma que muitas pessoas que os dirigem.

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O McLaren, no entanto, é diferente. Como a espinha dorsal do original era excepcionalmente rígida, nenhum reforço estrutural precisou ser acrescentado. Isso significa nenhum peso extra – exceto pelo mecanismo da capota elétrica. Como resultado, ele passa exatamente a mesma sensação do modelo de capota fixa. O que quer dizer que parece mágico. Como se estivesse sendo movido por feitiçaria.

Nenhum carro no mundo tem direção melhor. Ela é muito leve, o que poderia sugerir não passar a sensação do piso. Mas, na verdade, ela é tão comunicativa que, se você atropelar uma vespa, poderá dizer se era macho ou fêmea. Isso significa que você pode sentir o momento preciso em que a aderência está prestes a ser perdida. Ou seja, você sempre se sente totalmente no controle. Na verdade, você não está. Um computador é que está. Você pode desligá-lo, se tiver feito o curso de astronauta da Nasa e tiver meia hora para gastar. Mas não faz sentido, porque ele lhe deixa tomar liberdades diabólicas antes de intervir, como um mordomo bem treinado. É o melhor controle de tração que já conheci.

E ele quase nunca é necessário. Equipar este carro bem-comportado com uma restrição eletrônica é como colocar uma tornozeleira eletrônica no papa. É uma perda de tempo. Como sua espinha dorsal é extremamente rígida e não há barras estabilizadoras, não existe conexão física entre as rodas – tudo é feito eletronicamente. Por isso a velocidade com que o carro é capaz de fazer curvas é imensa. Em uma pista, não conheço qualquer outro carro de rua que conseguiria sequer chegar perto.

Se você possui uma Ferrari 458, não tente apostar corrida com um McLaren 12C. Você será humilhado ou acabará batendo. E agora vem o melhor de tudo: quando tiver acabado de rasgar as leis da física, seu pescoço estiver doendo com a enorme força g nas curvas e for hora de ir para casa, o 12C é tão confortável quanto um Rolls-Royce Phantom. Mesmo fazendo curvas em velocidade mach 3, a ausência de barras estabilizadoras faz com que ele simplesmente deslize e flutue sobre buracos e irregularidades do piso. Como eu disse, é feitiçaria.

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Como produto de engenharia, é fabuloso. De cair o queixo. Hipnótico. E como carro? Hummm… Tem uma ou duas coisas que podem deixá-lo louco. Por exemplo, cada vez que você abre a porta estilo borboleta para entrar, a janela lateral arrancará seu olho. Se você for alto, a cabine é um pouco apertada e o GPS não funciona. Ele sempre pensa que está no lugar por onde você passou 1 ou 2 horas antes. Mas não é o fim do mundo, pois com a capota aberta você não vai mesmo conseguir ver a tela.

Mas tem outras coisas. Praticamente cada recurso é ajustável. Você pode até alterar o volume do som da válvula de alívio. Mas só se tiver 6 anos de idade. Porque, quando entrar no sistema de menus, vai descobrir que a fonte é tamanho 2 e você não vai conseguir lê-la. Não sem colocar os óculos de leitura e ficar olhando diretamente para a tela, algo não muito recomendável quando você está num conversível de mais de 600 cv a 300 km/h.

Essas coisas podem ser suficientes para levá-lo a uma Ferrari. Mas lembre-se de que ela vem com um volante que é imperscrutável e leituras eletrônicas que fazem o McLaren parecer ter sido feito pela Playmobil. Então, se você comprar qualquer um desses carros, ficará irritado tantas vezes quanto alegre. Mas sempre foi assim no mundo dos supercarros. Já houve sugestões de que eles são semelhantes de outras maneiras também, e que escolher entre eles é difícil. De fato, não é assim. Eles podem parecer todos iguais, custar aproximadamente o mesmo e ter projeto básicos semelhantes. Mas eles são completamente diferentes.

O McLaren é como um restaurante três estrelas do Guia Michelin. A comida é impecável, o serviço irrepreensível, os banheiros impressionantes e a temperatura ideal. Cada detalhe é perfeito, e, para dar ao lugar um pouquinho de personalidade, agora eles têm um maître caloroso pronto a atendê-lo. A Ferrari, por sua vez, é uma cantina italiana barulhenta, cheia de moedores de pimenta enormes. Ambos são restaurantes. E ambos são opções ótimas. Mas não são nem remotamente parecidos. Como resultado, não posso dizer qual é o melhor. Você tem de escolher aquilo que quer – mas não se preocupe, pois, qualquer que seja sua opção, posso lhe prometer isto: você terá em mãos uma obra-prima.

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