Nas últimas semanas, o México alertou os Estados Unidos sobre aspectos presentes no novo tratado da América do Norte, substituto do Nafta. De acordo com os mexicanos, existe a possibilidade de um movimento de saída em massa das fabricantes de automóveis nas regiões dos países do bloco caso algumas questões não sejam resolvidas.
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O governo mexicano solicitou formalmente o início de consultas com o país vizinho para por um fim nas divergências quanto a interpretação do acordo. O México quer resolver o entrave quanto ao entendimento norte-americano da forma como o país mede o conteúdo do carro.
Para oferecer ou não isenção de impostos aos veículos, os Estados Unidos têm sua própria forma de medir o conteúdo regional de um carro produzido na América do Norte. A questão é que os mexicanos estão com medo de que essa interpretação norte-americana seja responsável pela saída de grandes fabricantes dos países do bloco.
A subsecretária de economia do comércio exterior mexicano, Luz Maria de La Mora, afirmou que se os países não chegarem a um acordo sobre a origem das peças dos veículos, as marcas podem procurar outras regiões para estabelecer suas produções. Mas, afinal de contas, por que o México está preocupado com um entendimento norte-americano?
O novo Nafta
Em novembro de 2018, o até então presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, anunciou durante a cúpula do G20, encontro das 20 maiores economias do mundo, a oficialização do novo acordo na América do Norte.
O chamado Acordo Estados Unidos-México-Canadá (USMCA, sigla em inglês), substitui o Nafta, que era válido desde 1994 entre os países da América do Norte. A negociação começou ainda em 2017 e o documento entrou em vigor em julho de 2020.
Com o aparecimento do novo acordo, o objetivo da gestão Trump era conseguir uma melhor situação econômica para os Estados Unidos. Na época, a agência de notícias Reuters afirmou que uma das consequências do tratado seria observada no setor automotivo.
Apesar de ter como uma das suas finalidades a redução de tarifas fiscais, o tratado dificultou o processo de fabricação de carros a um custo reduzido no México com o intuito de criar mais vagas de emprego em solo norte-americano.
De acordo com Luz Maria de la Mora, as empresas podem perder o interesse em investir nos países da América do Norte por conta do tratado ter criado um ambiente “caro, complicado e difícil”, disse em entrevista à Bloomberg News.
Qual a resolução?
Após a solicitação de consulta do governo mexicano, os Estados Unidos têm 30 dias para responder o pedido e o prazo de 75 dias para chegar em um acordo com o país vizinho. Passado esse período, o México pode solicitar uma audiência formal que ouça os argumentos das duas nações.
As autoridades mexicanas afirmam que buscam um acordo “de maneira amigável”, mas alertaram para o fato de que o comércio de automóveis na região pode sofrer grave impacto caso os EUA não se posicionem de maneira eficaz. “Não estamos negociando. A negociação já aconteceu. O que estamos tentando fazer é entender se há um entendimento comum sobre o texto do tratado”, disse de la Mora à Bloomberg.
Por que a resolução pode afetar o Brasil?
Conforme a questão for solucionada entre México e Estados Unidos, é o Brasil que pode sofrer um dos maiores prejuízos, isso por conta do acordo de livre comércio entre mexicanos e brasileiros.
O tratado bilateral para a importação de peças e automóveis foi firmado pela primeira vez em setembro de 2002. Recentemente, em 2019, o modelo passou por alterações. A etapa que estava em vigor no Brasil era de 2015 e estipulava uma cota de importações e exportações cujos os valores aumentavam 3% ao ano.
A cota foi encerrada no patamar dos US$ 1,7 bilhão para cada nação. Com a renovação, firmada em 2019, o comércio passou a ser livre entre as nações. As fabricantes podem importar e exportar veículos sem qualquer limite de quantidade ou barreira fiscal.
Parece o cenário dos sonhos para o brasileiro, já que veículos importados chegam mais baratos ao mercado nacional, mas caso México e Estados Unidos não entrem em acordo, grandes marcas como Ford, General Motors e Volkswagen podem retirar suas instalações do território mexicano.
Com isso, o Brasil teria que negociar a importação dos modelos de algum outro mercado, um que provavelmente não tenha acordo de livre comércio com o governo brasileiro. Isso significa que a importação de modelos já conhecidos por aqui se tornaria muito mais cara por conta das barreiras alfandegárias.
Entre os modelos atuais mais famosos no Brasil e que são importados do México estão: o Audi Q5, o Chevrolet Equinox, o Ford Bronco Sport, o VW Jetta, o Kia Sportage entre outros. Todos eles se beneficiam do tratado de livre comércio, acordo que pode se tornar pouco proveitoso para o Brasil caso México e EUA não resolvam suas divergências.
Procurada, a ANFAVEA (Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores) se posicionou por meio de nota na qual diz que não pode comentar ou especular eventuais reflexos sobre um debate em andamento entre países da América do Norte. A associação afirma que ainda se trata de “especulação” e não irá comentar um acontecimento em andamento.
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