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Alfa Romeo Alfetta Berlina: abuso de autoridade

Tecnicamente refinada, a Alfetta surgiu para enfrentar sedãs europeus, mas suas qualidades serviram à defesa da lei e da ordem

Por Felipe Bitu
Atualizado em 20 abr 2018, 12h04 - Publicado em 3 nov 2016, 19h47
Alfa Romeo Alfetta Berlina
A “Alfinha” manteve a tradição policial da Alfa Romeo (Xico Buny/Quatro Rodas)

Alfetta é a versão italiana do apelido que damos por aqui: “Alfinha”. E não é preciso ir muito longe para o carinhoso diminutivo ganhar sentido: o lendário Alfa Romeo 158/159 ganhou os dois primeiros campeonatos de F-1 (1950-51), com os pilotos Giuseppe Farina e Juan Manuel Fangio. O mesmo nome batizaria oficialmente um sedã de quatro portas (Berlina) em 1972.

Os três volumes definidos pelos designers Giuseppe Scarnati e Ivo Colucci representavam uma grande evolução sobre o Giulia e o 2000, renomados sedãs da casa de Milão.

A frente de quatro faróis, linha de cintura baixa, grande área envidraçada e traseira elevada indicavam que o alvo era o BMW 2000 “Nova Classe”, referência no segmento.

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A configuração mecânica atestava a competência técnica da Alfa Romeo. Foi o primeiro automóvel de passeio da marca a ter o câmbio junto ao eixo traseiro, responsável pela tração.

A solução desenvolvida nas pistas melhorava o espaço interno e a distribuição de peso entre os eixos, aposentando o arcaico e pesado eixo rígido.

No seu lugar entrava um tubo DeDion, controlado por um paralelogramo de Watt, um sistema complexo, mas eficiente.

Alfa Romeo Alfetta Berlina
Suas formas deram origem ao Alfa 2300 nacional (Xico Buny/Quatro Rodas)
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A preocupação com o peso não suspenso era tanta que os freios traseiros eram do tipo interno, com discos posicionados ao lado do câmbio. A suspensão dianteira era igualmente refinada, com braços duplos paralelos e barra de torção.

Todo o conjunto era extremamente bem equilibrado e dimensionado para o já tradicional motor Alfa Romeo, com quatro cilindros, duplo comando de válvulas e câmaras de combustão hemisféricas. Com 1,8 litro, rendia 121 cv e acelerava de 0 a 100 km/h em menos de 10 segundos.

A velocidade máxima era de 180 km/h. O conta-giros trazia o manômetro de pressão do óleo integrado, além do marcador de combustível, relógio analógico e termômetro – tudo visto por trás do volante de três raios, com aro em madeira autêntica e regulagem de altura da coluna.

Alfa Romeo Alfetta Berlina
Painel completo, com fartura de manômetros (Xico Buny/Quatro Rodas)
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Apesar desse refinamento, a qualidade de construção deixava a desejar: o alto custo de produção obrigou a Alfa a empobrecer o acabamento.

Para piorar, a fábrica de Arese sofreu várias greves, o que baixou o comprometimento dos operários com o controle de qualidade.

Parte desses problemas era resultado da crise energética de 1973, motivando o lançamento da Alfetta 1.6, em 1975. A cilindrada reduzida visava diminuir o consumo, mas o padrão de acabamento descia outro degrau: o aro do volante ganhava couro sintético.

Em 1977, a recuperação econômica do país fez surgir a Alfetta 2.0. Tinha faróis retangulares e era mais veloz e estável. E assim como as antecessoras Giulia Super e 2600 Sprint GT, foi convocada para servir as forças policiais do país.

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Alfa Romeo Alfetta Berlina
Madeira de verdade no console, painel e pomo do câmbio (Xico Buny/Quatro Rodas)

O exemplar das fotos é um modelo 1982, do colecionador Marcelo Paolillo. “Ela tem blindagem original, oferecida pela fábrica desde 1978: o assassinato do ex-primeiro ministro italiano Aldo Moro aumentou a procura por automóveis blindados, que eram usados por altas autoridades e também pela polícia.”

Em 1978, a segunda crise energética na Itália coincidiu com o 2000 Turbo D, um dos mais ágeis sedãs a diesel da época. Reestilizado em 1981, adotou injeção eletrônica, comando de admissão variável.

A versão Quadrifoglio Oro resgatou os quatro faróis circulares. A suspensão cada vez mais macia incomodava os puristas, mas garantia o conforto de um carro que fazia frente aos BMW.

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Quase sempre ofuscado pelo sucesso dos cupês da família Alfetta (nascidos em 1974), o último Berlina (sedã) deixou a fábrica de Arese em 1984.

Tem seu lugar garantido na história não só pelos excelentes dotes dinâmicos, mas também pelo papel decisivo na defesa da lei e da ordem.

Dublado ou legendado?

As linhas originais da Alfetta 1972 serviram de inspiração para o Alfa Romeo 2300, em 1974. Produzido em Duque de Caxias (RJ), era maior e mais pesado que seu primo italiano, rivalizando em sofisticação e preço com Dodge Dart e Ford Landau.

Ficha Técnica – Alfa Romeo Alfetta 2000 L 1982

 
Motor 4 cilindros em linha, 2 litros, 130 cv a 5.400 rpm, 18,3 mkgf a 4.000 rpm
Câmbio manual de 5 marchas
Dimensões comp., 438 cm; larg., 163 cm; alt., 143 cm; entre-eixos, 251 cm; peso, 1.140 kg
Desempenho 0 a 100 km/h em 6,5 s; vel. máx., 185 km/h

 

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