Reportagem: disputa de clássicos no autorama
Modelos que fizeram história nas pistas voltam a acelerar em disputados campeonatos de autorama
* Reportagem originalmente publicada em novembro de 2013
A largada está prestes a ser dada. Lado a lado, estão alinhadas na pista estrelas dos anos 60 e 70 como a Ferrari 512 S, o Porsche 917 e o Ford GT40. Os pilotos, igualmente preparados, já estão prontos para acelerar para a vitória.
Mas esta não é uma prova de clássicos qualquer. Trata-se de um campeonato de autorama com réplicas que simulam com fidelidade os antigos astros de corrida. Como não existe uma federação que reúna clubes e praticantes desse hobby, diversos campeonatos são realizados em lojas especializadas e clubes de amantes do autorama.
Um desses locais é o Slot Car São Paulo Clube, localizado na capital paulistana. As noites de terça-feira são sagradas para o grupo de amigos que se encontram no local para correr com réplicas em miniatura que reproduzem os modelos reais.
Criado há 11 anos, quando os irmãos Jeferson e Joel Giraldi desejavam uma alternativa às lojas de autorama, o Slot Car São Paulo hoje recebe cerca de 20 amantes dos carrinhos semanalmente.
A sala localizada no primeiro andar de um edifício comercial abriga duas enormes pistas de madeira e uma de plástico, mais simples. O clima é familiar, e a cada encontro o papo sobre automobilismo é colocado em dia.
“Formamos aqui um ótimo círculo de amizades. Não há uma placa indicando que aqui é um clube de autorama, e isso faz com que apenas os mais chegados venham”, afirma Joel Giraldi, fundador do grupo e piloto.
A paixão é tanta que, apesar de as corridas oficiais acontecerem uma vez por semana, o grupo também se encontra outros dias para promover ajustes nas réplicas e, claro, colocar os carros na pista.
“O que fazemos de quinta-feira é um rachão, uma corrida sem compromisso, por pura diversão”, explica Jeferson Giraldi, dono de uma coleção de mais de 350 modelos. “Não compro qualquer carrinho. Escolho pela história do modelo, do piloto e até da corrida da qual participou. Os carros de bolha ou asa são mais velozes, mas menos detalhados”, diz. N
a pista de 44 metros, uma réplica alcança em média 180 km/h, enquanto o bolha e o asa podem bater nos 250 km/h.
Os carrinhos, feitos de plástico ou resina, exibem detalhes impressionantes para um modelo em escala reduzida (1:24 ou 1:32), como entradas de ar, logotipos e adesivos de patrocinadores idênticos aos seus pares em tamanho real.
Em algumas réplicas, mais sofisticadas e caras, até os olhos do piloto e os capacetes da época são reproduzidos. Entre as centenas de modelos, destacam-se Jaguar XK 120, Porsche 904 GTS e 917, Ford Capri e GT40 e Ferrari 250 Le Mans, 512 S e 330P.
Todos os modelos à venda são importados, mas há quem construa carros nacionais de forma artesanal. Alguns desses estão na coleção de Armando Viceconti.
Praticante do chamado automodelismo de fenda desde criança e membro do Slot Car, ele retomou a atividade recentemente e já conta com 70 carrinhos. “Sou apaixonado por Porsche, mas também gosto dos modelos artesanais da Equipe Willys, como o Interlagos. Também tenho um DKW com a pintura clássica azul e laranja do Ford GT40”, conta.
Outra opção para os fãs de autorama é a Monza, em São Paulo. Criado há mais de 30 anos por Antonio Teixeira, o salão localizado em São Paulo é um dos mais antigos da cidade e possui três pistas de madeira, atraindo fãs de todas as idades e gostos.
No campeonato de réplicas, que vem sendo realizado há dois anos, a cada semana uma categoria diferente é disputada. Na turismo, modelos como Corvette C6R, Porsche GT3 e Audi R8 dividem cada curva. Entre os clássicos, o favorito é o Ford P68. Mas há quem prefira Ford GT40 e Porsche 917.
É na categoria clássicos que também competem o engenheiro civil Fernando Buck e seu sobrinho, Luis Henrique Sato. A paixão de Buck foi passada para o sobrinho quando o engenheiro retomou o hobby há cinco anos, época em que Luis Henrique tinha apenas 2 anos de idade.
“No começo ele só brincava. Quando vi que ele levava jeito, comecei a incentivá-lo a correr para disputar campeonatos”, conta. O resultado veio no começo deste ano, quando Luis completou 7 anos e pôde correr entre os adultos. “Fiquei em terceiro em uma bateria, quase não acreditei”, comenta o menino.
Na Monza, além das pistas para aluguel e dos campeonatos, que premiam com troféus os melhores no fim do ano, também estão à venda aproximadamente 500 modelos diferentes, nacionais ou importados, de dez marcas. Os preços começam em 220 reais e podem chegar a 700 reais, valor das réplicas mais detalhadas.
No Paraná, o Autorama Curitiba realiza corridas com regularidade e recentemente criou a Copa NSR GT. A nova competição tem três categorias, que separam os pilotos por nível de perícia, entre Light, Semi Pro e Pro. Além dessa separação, há duas variações de carrinho: Slot It, com réplicas de Le Mans dos anos 60, e NSR, com modelos mais novos, como o Audi R8.
“Fazíamos corridas toda segunda-feira. Mas com o campeonato poderemos premiar os melhores”, diz Guilherme Negrello, proprietário da pista e tricampeão brasileiro de autorama.
Para os três melhores de cada categoria, em vez de troféus e medalhas, ganha-se equipamentos de autorama. O terceiro colocado leva um jogo de rodas e pneus, o vice-campeão embolsa, além do mesmo kit, um motor, e o piloto mais rápido leva um carrinho completo. Nem precisa dizer que quase todo mundo por lá correu para fazer sua inscrição.
ONDE CORRER
Slot Car São Paulo – Rua Joaquim Nabuco, 46, São Paulo (SP)
Monza Autorama – Avenida dos Carinás, 73, São Paulo (SP)
Autorama Curitiba – Rua Imaculada Conceição, 1825 Curitiba (PR)