O que faz você feliz? Se fizer essa pergunta ao colecionador de carros Marcelo Paolillo, de 48 anos, a resposta será “os carros”. Mas não quaisquer carros.
Sua paixão se concentra em uma marca, a italiana Alfa Romeo, mais especificamente em um modelo, o 2300, o único Alfa Romeo fabricado no Brasil.
Produzido entre os anos de 1974 e 1986, o 2300 era um sedã grande para os padrões do nosso mercado de carros de luxo (com sua carroceria de quatro portas) e também esportivos (como todo Alfa Romeo).
Antes dele existiram outros projetos da marca no país, mas eram feitos sob licença, sem usar o nome Alfa Romeo.
O interesse de Paolillo pelo carro começou quando ele, fazendo uma busca despretensiosa na internet, encontrou uma unidade do modelo muito parecida com a que seu pai teve.
Segundo ele, o carro estava em ótimo estado de conservação e com um preço honesto. Ao ver o veículo de perto, a nostalgia bateu e ele lembrou de sua infância, com seu pai ao volante.
Viajávamos para Águas de Lindoia todo final de semana escutando Roberto Carlos e eu sentado no descanso de braço do banco traseiro”, diz.
“Como corria aquele carro!”, lembra emocionado. “O velocímetro marcava 220 km/h! O carro fazia muita curva. E eu me divertia rolando nos bancos”, conta.
Quando todas essas memórias vieram à tona, ele acabou fechando negócio e tornou-se o feliz proprietário de seu primeiro Alfa Romeo 2300.
Referência histórica
Com o carro na garagem, Paolillo resolveu se informar mais sobre os Alfa. Os primeiros a rodar no Brasil foram os modelos fabricados no início dos anos 1960 pela extinta FNM – Fábrica Nacional de Motores, estatal brasileira assumida pela Alfa Romeo (também estatal, da Itália) em 1968.
Do outro lado do Atlântico, na Itália, estava nascendo um projeto batizado de 102/12, que depois ficou conhecido como 2300. Esse modelo ficou pronto em 1971, sendo enviado ao Brasil para testes em 1972.
O 2300 tinha motor de 2.311 centímetros cúbicos de cilindrada, quatro cilindros, duplo comando de válvulas e câmbio manual de cinco marchas.
Os freios já usavam disco nas quatro rodas. Por dentro, a lista de itens de série era extensa: conta-giros, voltímetro, barômetro, sensor de desgaste das pastilhas de freio, banco traseiro bipartido, encosto de cabeça para motorista e passageiros, ar-condicionado, direção hidráulica progressiva e comandos elétricos das travas, vidros, retrovisores e porta-malas.
E possuía até abertura elétrica do tanque de combustível. Era um carro muito além do que havia no mercado brasileiro, na época.
Em 1978, a Fiat assumiu a Alfa Romeo no Brasil (movimento global), passando a fazer o 2300 em Betim (MG) até o final da produção, em 1986.
Confraria 2300
Depois de estudar o carro e sua história, Paolillo passou a se interessar mais pelo Alfa, iniciando sua adoração pelo modelo que fazia parte da sua história pessoal e também da indústria automobilística brasileira.
E assim teve início sua coleção. Na época em que começou a comprar outros 2300, por volta de 2006, eles eram carros renegados, abandonados, praticamente sem valor, mas Paolillo, muitas vezes chamado de “catador de latinhas”, foi adquirindo alguns modelos.
Com o tempo, porém, ele se tornou uma referência entre os colecionadores daqui e do exterior e logo seu apelido mudou para Mister 2300.
Um desses aficionados, o suíço Axl Marx, recebeu Paolillo em sua casa, na cidade de Lugano, na Suíça, e juntos foram ao museu da Alfa Romeo, em Milão, na Itália.
“Eles (os italianos) sabem da nossa existência no Brasil e nos respeitam muito por preservar a história da marca”, diz Paolillo.
Em outra ida à Europa, o brasileiro rodou pelo Velho Continente ao volante de um 2300 (emprestado de seu amigo suíço) dirigindo até Milão, para doar um exemplar do livro sobre a história do 2300 – que ajudou a escrever e que ficou catalogado como um documento sobre a produção da marca no Brasil – ao Museo Storico Alfa Romeo, que cuida da memória da marca.
Quando o modelo completou 40 anos, ele organizou um passeio até o distrito de Xerém (RJ), na antiga fábrica da FNM (hoje funciona a Marcopolo).
De lá foram até a Fiat, em Betim (MG), última fábrica a construir o 2300. Andaram mais de 2.700 km e foram recebidos com festa.
Paolillo não conta quantos Alfa Romeo 2300 tem. A garagem em que mantém os carros, pertence a um grupo de colecionadores chamado Confraria 2300.
Nesse local estão guardados mais de 20 modelos 2300, reunindo exemplares de todos os anos de fabricação no Brasil, além dos ancestrais, como o famoso FNM JK (1960-1968), que era uma variação do Alfa Romeo 2000, e alguns outros modelos italianos da Alfa, além de exemplares da marca Fiat.
Os membros da Confraria 2300 se encontram para trocar ideias, rodar com seus carros e receber motoristas interessados em ver de perto as raridades. Para 2024, eles estão programando uma grande viagem pelo continente americano para comemorar os 50 anos do 2300, a bordo de seus exemplares.
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