Quanto um carro elétrico tem que rodar para poluir menos que um normal?
Modelos elétricos e híbridos começam com uma dívida ambiental maior, por causa da matéria prima das suas baterias
Um estudo alemão apontou quantos quilômetros um carro elétrico ou híbrido precisa rodar para poluir menos do que um a combustão diesel ou gasolina. Não é segredo que a produção de baterias exige métodos de extração de materiais que são poluentes, o que implica em uma “dívida ambiental”, ou seja, os automóveis eletrificados emitem mais antes mesmo de rodarem. Mas eles viram o jogo a longo prazo, indica a pesquisa.
De acordo com o trabalho da Associação de Engenheiros Alemães (VDI) para tecnologia de veículos e tráfego, um modelo elétrico polui 26% a menos do que um outro a combustão, mas a sua “dívida” só é paga após 90.000 km. Somente a partir daí que a vantagem da emissão zero começa a valer.
O estudo leva em consideração um veículo feito entre 2021 e 2022 em uso até 2035, projetando uma vida útil de 200.000 km. De acordo com os pesquisadores, não há uma projeção para modelos construídos em 2030 e uso previsto até 2045, por exemplo, uma vez que novas tecnologias de produção e matrizes energéticas mais limpas poderiam mudar os resultados do estudo.
A base inclui variados tipos de carros, incluindo o elétrico Volkswagen ID.3 (em versões de bateria básica e maior), Ford Focus (gasolina híbrido leve), VW Golf (diesel e gasolina híbrido plug-in) e Toyota Corolla (híbrido paralelo), automóveis considerados compactos para os pesquisadores, mas que são médios para os padrões brasileiros.
Os resultados mostram que o ID.3 de bateria menor emite 24,2 toneladas de CO2 até os 200 mil km, enquanto o de bateria maior chega a 26,3 na mesma quilometragem, mais até do que o Golf híbrido plug-in e suas 24,8 toneladas de CO2, uma prova do impacto do custo ambiental da produção dos packs maiores de bateria. O modelo menos poluente emite 30% a menos do que um Golf diesel (33 toneladas) e 34,7 % que um Focus a gasolina (37,1 toneladas).
Foram levados em consideração os parâmetros de produção do carro; como foi a origem dos materiais da bateria e qual o fabricante delas; o consumo de energia dos automóveis em cursos curtos (chamados pelos pesquisadores de “ida à padaria”), médios e longos – incluindo o uso de ar-condicionado em uma temperatura ambiente de 23 graus; a reciclagem dos modelos e, se for o caso, das baterias; a matriz energética que gerou a eletricidade; entre outros quesitos. Os dados da pesquisa dizem respeito à utilização na Alemanha e Suécia, mas incluem informações de outros países, especialmente da China, uma vez que o país lidera a fabricação de baterias.
Se a matriz energética for menos limpa, um elétrico pode exigir 160.000 km para se tornar mais verde do que um carro a combustão convencional. Além disso, um automóvel convencional pode ser beneficiado se usar combustível verde, exemplo do etanol, ou alguma outra tecnologia futura, caso da gasolina sintética. Uma prova de que a mobilidade ecológica é muito mais complexa do que parece.