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Fiat Uno Mille Brio era carro popular com motor ‘preparado’ de fábrica

O Mille representou a primeira evolução do best seller ítalo-mineiro e ganhou status com a versão Brio, hoje uma das mais raras do modelo

Por Felipe Bitu
10 fev 2024, 00h01
Linhas consagradas do Fiat Uno têm grife criadas por Giorgetto Giugiaro
Linhas consagradas do Fiat Uno criadas por Giorgetto Giugiaro têm grife (Christian Castanho/Quatro Rodas)

O Uno Mille é filho do governo Collor. Para estimular a indústria nacional, bem como a criação de empregos, a equipe econômica daquela administração resgatou a categoria dos carros populares e aplicou uma drástica redução no Imposto sobre Produtos Industrializados (de 40% para 20%), mas limitou o corte aos carros com motor de até 1 litro.

A Fiat se apressou para lançar um produto que se qualificasse ao novo patamar e, em dois meses, apresentava o Mille. Era agosto de 1990.

Bastou pegar o velho propulsor Fiasa de 1.049 cm3 (projeto de Aurelio Lampredi, produzido no Brasil desde 1976) e diminuir o curso do virabrequim em 3 milímetros. A medida reduziu o volume da câmara para 994 cm3 – a potência ficou em 48,5 cv.

Além da questão tributária, os equipamentos foram limitados ao essencial: bancos dianteiros sem regulagem de inclinação e traseiros sem encostos de cabeça. Desapareceram o retrovisor direito, o termômetro e as saídas laterais de ventilação.

Um dos opcionais era a transmissão de cinco marchas. Mas o equipamento era quase obrigatório: para aproveitar o torque de 7,4 mkgf, o diferencial teve sua relação encurtada, limitando o uso rodoviário – problema agravado pela supressão do isolamento fonoabsorvente da cabine.

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A simplicidade radical do hatch, no entanto, conseguiu baixar o preço em 18% em relação ao Uno S, até então o carro nacional mais acessível.

Na coluna C, a inscrição Brio
Na coluna C, a inscrição Brio (Christian Castanho/Quatro Rodas)

Quarta colocada no ranking de vendas, a Fiat se viu sozinha no segmento que futuramente corresponderia a mais de 70% do mercado. E soube aproveitar o momento: aperfeiçoou a versão despojada quando o compacto já representava nada menos que 45% da produção do Uno.

Em junho de 1991, o público conheceu a primeira evolução dessa versão: a série especial Brio. As principais alterações eram de ordem técnica. O motor passou a respirar melhor com a substituição do carburador de corpo simples por outro de corpo duplo e acionamento mecânico do segundo estágio.

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A melhora na alimentação pediu uma recalibração no motor: aumento na taxa de compressão e um novo comando de válvulas. Para completar, o sistema de ignição trocou o avanço centrífugo pelo a vácuo.

O rendimento foi sensível: a potência subiu de 48,5 cv para 54,4 cv. Parece pouco, mas foi um ganho de 12% em um carro de 790 kg. A maior elasticidade do motor Fiasa foi comprovada pelos números do teste de agosto de 1991.

A série especial Brio tinha interior caprichado: tecido e vinil nos bancos
A série especial Brio tinha interior caprichado: tecido e vinil nos bancos (Christian Castanho/Quatro Rodas)
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Ainda que o desempenho ficasse em segundo plano, a máxima subiu de 135,7 km/h para 142,8 km/h, com o velocímetro marcando mais de 150 km/h. Além de mais veloz, o Brio era mais rápido: ia de 0 a 100 km/h em 18,3 segundos (ante 19,7 do Mille comum).

A surpresa do Brio foi a queda no consumo: na cidade saltou de 11,5 km/l para 11,8 km/l. Na estrada foi de 15,3 km/l para 16,2 km/l. Apesar de discretas, eram melhoras sensíveis e que garantiam o retorno do investimento: o Brio custava cerca de 16% a mais que um Mille comum.

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Externamente, a diferença eram as faixas na coluna C, acompanhadas do sobrenome Brio. Os opcionais eram os mesmos do Mille: câmbio de cinco marchas, vidro térmico traseiro com lavador e limpador, apoios de cabeça, acendedor de cigarros e pintura metálica. Mas só o Brio trazia volante espumado, console central e estofamento em tons mais vivos.

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O painel de instrumentos é completo
O painel de instrumentos é simples, mas completo (Christian Castanho/Quatro Rodas)

Mas a vida do Brio foi curta: nem sequer disputou mercado com o Chevette Júnior, primeiro concorrente direto em 1992. O Fiasa abandonou o distribuidor em 1993 e adotou injeção eletrônica em 1996, sendo substituído pelo motor Fire em 2001.

Honrado e brioso, o Mille ofereceu direção hidráulica e ar-condicionado, cativando sua clientela fiel até o encerramento da produção em 2014.

Ficha técnica – Fiat Uno Mille Brio

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  • Motor: transversal, 4 cilindros em linha, 994 cm3, comando de válvulas simples no cabeçote, carburador, 54,4 cv a 5.750 rpm, 7,7 mkgf a 2.750 rpm
  • Câmbio: manual de 5 marchas, tração dianteira
  • Dimensões: comprimento, 364,4 cm; largura, 154,8 cm; altura, 144,5 cm; entre- eixos, 236,1 cm; peso, 790 kg
  • Pneus: 145 SR 13

Teste QUATRO RODAS – agosto de 1991

  • Aceleração 0 a 100 km/h: 18,3 s
  • Vel. máxima: 143 km/h
  • Consumo: 11,8 km/l (cidade), 16,1 km/l (estrada)
  • Preço (agosto de 1991): Cr$ 2.460.000
  • Preço (atualizado, IGP-M): R$ 46.114,23
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