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Volkswagen Fusca 1300 GL, o primeiro (e mais obscuro) modelo de luxo

A versão mais rara do Fusca também é a mais obscura e ainda hoje provoca discussões acaloradas entre os entusiastas

Por Felipe Bitu Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO
25 nov 2023, 00h37
Volkswagen Fusca 1300 GL (6)
Rodas de 14 polegadas vieram do VW Brasilia (Fernando Pires/Quatro Rodas)

O dia 19 de janeiro de 1978 foi um dos mais tristes na história da Volkswagen: foi naquela distante quinta-feira que o último Fusca alemão deixou a linha de montagem na fábrica de Emden, encerrando um ciclo de quatro décadas.

O sedã continuaria sendo produzido em outros países, especialmente no Brasil. Aqui, anos antes, mais precisamente em 1972, o Fusca atingiu seu recorde de produção, superando 200.000 unidades anuais até 1976.

A queda abrupta nas vendas indicou o avanço do Chevrolet Chevette e do Fiat 147 e foi acentuada pela disputa interna causada pelo VW Brasilia.

O alarme soou em 1981, ano em que o Fusca não atingiria nem a metade das unidades produzidas no ano anterior. O recado dos consumidores era claro: o Fusca já não tinha o mesmo apelo. Para piorar a situação, a sensação do público era de que o velho besouro ficava mais pobre a cada ano.

Tampa traseira com aletas extras de refrigeração
Tampa traseira com aletas extras de refrigeração (Fernando Pires/Quatro Rodas)

A supressão de frisos, calotas, cromados, janelas traseiras basculantes e outros detalhes empobreceram o modelo, fazendo com que muitos considerassem os Fusca dos anos 1960 melhores que os zero-km.

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A VW precisava tomar uma atitude para que o Fusca não tivesse o mesmo destino do alemão. Para resgatar o prestígio dos velhos tempos, a fábrica percebeu que aquele era o momento ideal para apresentar a versão 1300 GL, beneficiada por um acabamento esmerado e vários equipamentos.

Volkswagen Fusca 1300 GL (3)
Volante era o mesmo do Gol, bancos de tecido e carpete de buclê (Fernando Pires/Quatro Rodas)

“O primeiro Fusca de luxo para quem se dá ao luxo de usar a cabeça”, dizia a campanha publicitária da época. Sua decoração externa era caracterizada pelos vidros verdes, para-choques com borracha de proteção, tampa do motor com aletas de refrigeração extras e emblema exclusivo da versão. A tampa do tanque de combustível cromada era um requinte praticamente invisível.

A maior parte das melhorias estava no interior, que recebeu carpetes de buclê e bancos dianteiros com revestimento de tecido e encostos de cabeça. Painel de instrumentos redesenhado, ar quente e acendedor de cigarro.

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Janelas traseiras basculantes e desembaçador do vidro traseiro faziam a diferença numa época em que ar-condicionado era pouco difundido.

Havia apenas três opcionais: rádio AM/FM, relógio, rodas de 14 polegadas do VW Brasilia e motor a álcool com dupla carburação. Não se tratava de uma estratégia inédita: o mesmo recurso foi utilizado pela VW alemã nos anos 70 para manter sua participação no mercado antes da chegada do sucessor do Fusca, o Golf.

Volkswagen Fusca 1300 GL (2)
Acendedor de cigarro, cinzeiro, afogador (Fernando Pires/Quatro Rodas)

O Fusca nacional sobreviveu à Brasilia (que saiu de cena em 1982), mas perdeu a liderança do mercado para o Chevette em 1983.

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Mesmo equipado, o 1300 GL não era páreo para a nova geração de automóveis com motor e tração dianteiros. As limitações de um projeto da década de 1930 eram evidentes: os 46 cv do motor de 1,3 litro proporcionavam um desempenho letárgico, levando 39,2 s para acelerar de 0 a 100 km/h. A máxima de 111,369 km/h é inimaginável para os padrões atuais.

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Desembaçador traseiros era um dos acessórios do Fusca GL (Fernando Pires/Quatro Rodas)

Freios a tambor nas quatro rodas e suspensões rudimentares comprometiam tanto a segurança quanto o conforto: mesmo com pouco torque e potência, o Fusca mantinha o comportamento arisco. Seus pneus diagonais comprometiam o baixo limite de aderência e favoreciam as perigosas saídas de traseira.

O destino estava selado: em seus últimos anos, a produção foi inteiramente dedicada a pessoas jurídicas, frotas governamentais e entusiastas do modelo. E o 1300 GL saiu de cena da mesma maneira que surgiu: discretamente, sem aviso oficial da Volkswagen.

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Ainda hoje há uma parcela considerável de entusiastas do modelo que nem sequer ouviu falar nessa rara versão: “O 1300 GL já foi o motivo de debates acalorados, mas as poucas peças publicitárias e a dedicação dos colecionadores ratificou o entendimento de que se trata da versão mais rara do Fusca”, conta Hugo Bueno, historiador especializado na linha da marca.

Ficha Técnica: 

Volkswagen Fusca 1300 GL 1982

Motor: longitudinal, 4 cilindros opostos, 1.285 cm3, 2 válvulas por cilindro, comando de válvulas simples no bloco, alimentação por carburador de corpo simples

Potência: 46 cv a 4.600 rpm, 9,1 kgfm a 2.800 rpm

Câmbio: manual de 4 marchas, tração traseira

Dimensões: comprimento, 408 cm; largura, 154 cm; altura, 150 cm; entre-eixos, 240 cm; peso, 790 kg

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Pneus: 5,90 x 14 diagonais

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Revista Quatro Rodas 258, Janeiro de 1982 (Quatro Rodas/Quatro Rodas)

TESTE QUATRO RODAS –  Janeiro de 1982

ACELERAÇÃO: 0 a 100 km/h: 39,19 s
VELOC. MÁX.: 111,369 k/h
CONSUMO: 8,01 km/l cidade / 14,35 km/l rodoviário
PREÇO, Janeiro de 1982: Cr$ 715.425,00
Preço atualizado: R$   78.114 (IGP-DI)

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