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Clássico: Willys Interlagos conversível é francês com jeitinho brasileiro

Naturalizado brasileiro, o pequeno esportivo foi sonho de consumo e precursor do automobilismo nacional

Por Felipe bitu | Fotos Fernando Pires
1 out 2022, 15h25
Willys Interlagos
Seu nome homenageia o autódromo paulistano (Fernando Pires/Quatro Rodas)
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Há pouco mais de 70 anos era fundada a Willys-Overland do Brasil, sociedade anônima formada por investidores brasileiros e pelo industrial norte-americano Edgar Kaiser. O sucesso do empreendimento atraiu a francesa Renault e resultou na produção do Dauphine, sedã que compartilharia seu conjunto mecânico com o esportivo Interlagos.

Apresentado no 2o Salão do Automóvel de São Paulo, o Interlagos foi o primeiro esportivo brasileiro, primeiro automóvel nacional produzido em plástico com fibra de vidro e pioneiro na oferta de uma carroceria conversível.

Willys Interlagos
A aerodinâmica era favorecida pela reduzida área frontal (Fernando Pires/Quatro Rodas)

Era baseado no francês Alpine A108 e representou uma grata surpresa numa época em que a incipiente indústria nacional produzia modelos defasados e descontinuados nos países de origem.

Fundada em 1955 por Jean Rédélé, a Alpine se especializou em esportivos com mecânica Renault: dois anos depois, o A108 seria apresentado no Salão de Paris.

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Incentivado pelo publicitário Mauro Salles, o presidente da Willys, William Max Pearce, viajou a Dieppe (norte da França) para solicitar a licença para produzir o esportivo, no departamento de competições em São Paulo, então gerenciado pelo piloto Christian “Bino” Heins.

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Willys Interlagos
A plaqueta indicava a naturalização do esportivo francês. (Fernando Pires/Quatro Rodas)

Também foi Mauro Salles quem sugeriu o nome Interlagos, homenagem ao autódromo paulistano. Os franceses trouxeram o ferramental e qualificaram os profissionais para manuseio da fibra de vidro.

A produção teve início em 1962: a cerimônia de inauguração contou com a presença do próprio Jean Rédélé, que entregou a primeira unidade ao publicitário Mauro Salles.

Vendido apenas sob encomenda, o Interlagos tinha três versões: conversível (modelo 3124),  cupê com três volumes bem definidos (modelo 3135) e berlineta com teto em queda suave (modelo 3136), esta última com o desenho original do italiano Giovanni Michelotti.

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Willys Interlagos
Coluna de direção com regulagem de altura (Fernando Pires/Quatro Rodas)

O conversível mostrado aqui pertence à  Renault do Brasil.

Após a trágica morte de Bino Heins, nas 24 Horas de Le Mans de 1963, a produção do Interlagos ficou a cargo do piloto Luiz Antonio Greco.

Instalado atrás do eixo traseiro, o motor Billancourt de quatro cilindros em linha tinha refrigeração líquida, válvulas no cabeçote e três mancais de apoio para o virabrequim. As principais diferenças em relação ao Dauphine eram a taxa de compressão mais alta e o carburador Solex de corpo duplo.

Willys Interlagos..

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Era oferecido em três cilindradas: 845 cc (40 cv), 904 cc (50 cv) e 998 cc (56 cv), tracionando as rodas traseiras através de um câmbio de quatro marchas.

Destinada a competições, a versão mais arisca chegava aos 70 cv, suficientes para acelerar de 0 a 100 km/h em 14,1 segundos. O peso em ordem de marcha era de apenas 690 kg no conversível, 680 kg na berlineta e 660 kg no cupê. A aerodinâmica apurada levava a berlineta aos 160 km/h.

Extremamente baixa, a cabine exigia certo contorcionismo para acessar o interior, com bancos individuais de encosto reclinável e um pequeno espaço para bagagem.

Willys Interlagos
Apliques imitando jacarandá. (Fernando Pires/Quatro Rodas)

Por trás do volante de três raios com aro de madeira estavam o velocímetro com hodômetro, marcadores de temperatura, de combustível e o raro conta-giros.

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Nas mãos de Wilson Fittipaldi Jr., Luiz Pereira Bueno, José Carlos Pace, Francisco Lameirão e Bird Clemente, o Interlagos era imbatível nas pistas. Seu comportamento dinâmico era favorecido pela suspensão do Dauphine, independente nas quatro rodas. A concentração de massa na traseira e a curta distância entre os eixos facilitavam o sobresterço.

O baixo peso permitia o uso de freios a tambor nas quatro rodas e os pneus diagonais 145 x 380 de quatro lonas eram suficientes para uma tocada rápida e segura.

Willys Interlagos
Motor de 845 cc era o único na fase final da produção (Fernando Pires/Quatro Rodas)

Em 1965, o cupê 3135 deixava de ser produzido: no ano seguinte o Interlagos passou a oferecer as mesmas tonalidades de pintura metálica do requintado Willys Itamaraty.

A última unidade do Interlagos foi produzida na fábrica de Santo Amaro em 1966, totalizando 822 unidades em cinco anos.

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Apesar de breve, sua presença no mercado foi essencial para inspirar pequenos fabricantes brasileiros a adotar o mesmo modelo de negócio de Jean Rédélé.

Willys Interlagos
Refrigeração do motor
era garantida pelas entradas de ar laterais e pela enorme grade traseira (Fernando Pires/Quatro Rodas)

Adquirida pela Renault em 1973, a Alpine tornou-se a divisão esportiva do fabricante francês e desde o ano passado integra a equipe BWT Alpine de Fórmula 1.

Ficha Técnica – Willys Interlagos 1966

Motor: long., 4 cil., 845 cm³, comando de válvulas simples no bloco, alimentação por carburador
Potência: 53 cv a 5.600 rpm
Torque: 7,6 kgfm a 3.500 rpm
Câmbio: manual de 4 marchas, tração traseira
Carroceria: aberta, 2 portas, 2 lugares
Dimensões: compr., 378 cm; larg., 146 cm; alt., 122 cm; entre-eixos, 210 cm; peso, 690 kg; pneus, 145 x 380

Teste

Quatro Rodas 33
(Reprodução/Quatro Rodas)

Abril de 1963
Aceleração
0 a 100 km/h em 14,1 s

Velocidade Máx.: 160 km/h
Preços:
Berlineta: Cr$ 2.703.000
Cupê ou Conversível: Cr$ 2.541.000
(abril de 1963)

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