O que fazer quando o posto abastece o carro com o combustível errado?
Além da possibilidade de provocar danos ao motor do carro, o abastecimento com combustível errado também vai contra os direitos de consumidor
Você estava distraído e o frentista desatento colocou diesel no seu carro a gasolina? Ou fez o inverso, colocou gasolina no seu carro a diesel? Mas ainda tem uma situação mais comum que, muitas vezes, é feita de propósito: abasteceram seu carro com gasolina aditivada, muito mais cara que a gasolina comum que você pediu? Vamos analisar caso a caso.
Antes de mais nada, se o posto abasteceu seu carro com combustível errado ou em quantidade acima do que foi pedido, isso configura prática abusiva, prevista no artigo 39 do Código de Defesa do Consumidor. Pela lei, o combustível diferente do pedido equipara-se às amostras grátis, desobrigando o pagamento do combustível colocado errado.
A dificuldade para fazer a lei valer está em provar o pedido feito pelo cliente. De acordo com o Instituto Combustível Legal (ICL), o meio mais fácil é chegar a um acordo com o posto. Um caminho é negociar para pagar o valor do combustível comum quando colocam o aditivado (seja álcool ou gasolina).
Mas quem usa dashcam, aquelas câmeras que filmam o trânsito com o intuito de, justamente, criar provas, poderá ter gravado a solicitação ao posto e ter uma prova. E aí terá um meio de fazer o Código de Defesa do Consumidor valer.
Em todo caso, sempre é possível acionar o Procon ou mesmo uma Delegacia Especializada de Defesa do Consumidor local, com documentação sobre o caso (notas fiscais, recibos, relatos de testemunhas e fotografias) para que seja feito um Boletim de Ocorrência.
Pane por combustível errado
Um carro flex não vai sofrer danos se colocarem etanol em vez de gasolina ou o oposto, nem se abastecerem com combustível aditivado. Mas carros a diesel podem ser danificados caso sejam abastecidos com outra especificação.
Isso porque motores a diesel modernos (fabricados a partir de 2012) só podem usar o diesel S-10, com índice de cetano maior (48 contra 42 do S500) e um teor de enxofre mais baixo (10 ppm) do que o diesel S-500 (500 ppm), que ainda pode ser encontrado em rodovias. Abastecer com o diesel S-500 fará com que o catalisador do veículo fique entupido, provocando sua troca prematura.
Além do dano ao catalisador, o veículo também irá gastar mais combustível e emitir mais gases poluentes. Neste caso, só se deve usar o S-500 em emergências e trajetos curtos. Mas alguns carros não toleram isso bem nem em uso emergencial.
Se um carro a gasolina for abastecido com diesel, o motor dificilmente vai pegar, tanto pela baixa resistência do diesel à detonação quanto pelas baixas pressões dos injetores do motor a gasolina, muito menores do que as pressões dos injetores dos projetos a diesel.
Já o contrário, ao abastecer o veículo a diesel com gasolina, ocasionará falhas e perda de potência, por conta da alta resistência à detonação da gasolina. “Além disso, pela baixa lubricidade da gasolina, devem ocorrer danos à bomba de combustível”, diz Neves, da Ipiranga.
O uso de etanol em um motor projetado para queimar somente gasolina é possível, mas provocará danos no conjunto. O primeiro impacto ocorre na partida a frio. O etanol tem menor poder calorífico e é mais difícil de ser pulverizado em baixas temperaturas. Por isso modelos flex ou movidos apenas a álcool devem ter um sistema específico para ajudar a ligar o motor nessas situações.
Uma vez ligado, o carro vai demorar mais pra esquentar e terá desempenho irregular. As injeções eletrônicas modernas ajudam a diminuir esse problema, mas os mapas da ECU do motor são limitados, pois a maioria deles foi programado pensando apenas para o uso da gasolina. Quando isso ocorrer, é possível que a luz-espia da injeção se acenda e o carro tenha desempenho limitado.
Como limpar o tanque de combustível?
Nunca insista em “queimar” o combustível com o carro rodando, pois a prática irá potencializar os danos.
Chame um reboque e nem tente retirar o combustível que foi colocado erradamente. Este deve ser drenado em uma oficina especializada, que tem maquinário apropriado – o dreno pode ser feito pela bomba de combustível ou pela boca do tanque.
A oficina mecânica terá que remover o combustível errado e checar se houve danos nas bombas, um serviço que pode custar mais de R$ 1 mil, dependendo da autorizada. E se as peças precisarem ser trocadas, a conta pode ficar bem alta: as bombas de alta pressão são caríssimas.
Caso o posto tenha culpa, o custo do conserto deverá ser arcado pelo posto. Se não houver uma solução amigável, o proprietário poderá levar o caso para um juizado especial, sem necessidade de contratar um advogado.