Auto-serviço

Como é comprar os carros novos que ninguém quer vender?

Fomos atrás dos carros novos com bom preço e lista de equipamentos interessante, mas que as concessionárias não fazem questão de vender

Por Lucas Parente
23 jul 2024, 13h26

Cada versão de carro é definida pelo fabricante com uma missão. A marca sabe exatamente qual público pretende atender com cada uma, qual vai vender mais e qual versão funcionará apenas como um chamariz, seja pelo preço ou por alguma tecnologia específica. E pode ser que o fabricante não tenha interesse em vender algumas delas.

Fomos às lojas atrás dos carros novos que ninguém quer vender. Sim, aquelas versões básicas com lista de equipamentos bem interessante e com preço atraente, mas que podem ser taxadas como versões para PcD eu venda direta, que os fabricantes chegam até a ignorar sua existência. E que, mesmo assim, são interessantes.

Negociamos como clientes, perguntando o prazo de entrega, disponibilidade para pronta entrega, estoque e sobre o futuro dessas versões. E encontramos contradições entre o que dizem as concessionárias e o que dizem os fabricantes.

Chevrolet Montana LT Manual

O site da Chevrolet é inconsistente: apresenta o preço inicial da Montana na versão 1.2 turbo (R$ 128.990), mas só exibe as versões mais caras, RS e Premier. As versões básica, LT e LTZ são ignoradas e não há como configurar as versões da picape.

Na Chevrolet Montana LT o rack de teto vira item de série (Divulgação/Chevrolet)

Saímos à procura da Chevrolet Montana LT, segunda versão mais barata e a mais completa com câmbio manual de seis marchas. Tem a mais capota marítima, iluminação na caçamba, rack de teto na cor preta, rodas de aço aro 17″, câmera de ré, retrovisores e maçanetas pintados e desembaçador do vidro traseiro. É um bom conteúdo para o consumidor de uma picape compacta que já tem central multimídia e seis airbags de série.

Na Chevrolet Viamar de São Bernardo do Campo (SP), apenas as versões Premier, RS e LTZ estavam em exposição e disponíveis para test-drive. Apesar disso, afirmaram que havia a Montana LT em estoque e que ela só não era mostrada por ter pouca procura pelos clientes.

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O que fizeram foi ilustrar o nível de acabamento da picape usando um Tracker LT como exemplo, ao mesmo tempo que o vendedor ressaltava as perdas da versão LT em comparação com a versão LTZ, mais equipada e com câmbio automático. O preço ficaria nos R$ 135.450 de tabela e, caso não estivesse em estoque, a entrega demoraria entre 30 e 60 dias.

Fiat Fastback T200

Fiat Fastback Turbo 200 — – (Divulgação/Fiat)

O Fiat Fastback T200 passa por uma situação bem diferente. Esta versão básica foi lançada há cerca de um ano para se enquadrar nos incentivos dos governos aos carros populares e segue à venda com foco maior no público PCD.

É uma versão que abre mão dos cromados, do carregador de smartphone por indução e de frenagem de emergência, assistente de faixa e farol alto automático. Por outro lado, mantém as rodas de liga leve aro 17 e o motor 1.0 turbo com 130 cv combinado com o câmbio automático CVT. Ainda é um bom conteúdo e a versão custa R$ 119.990.

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A percepção na concessionária é de que você precisa saber a “palavra secreta“ para comprar um Fastback T200. Tem que conhecer a versão e pedir por ela, do contrário, os vendedores direcionarão a venda para as versões mais completas, Audace (R$ 146.490) e Impetus (R$ 156.490).

Foi assim na Fiat Sinal, onde os funcionários trataram a versão como “Fastback PCD”. O carro também pode ser vendido para clientes finais, fora do público direcionado e, embora não estivesse exposto no showroom, havia uma unidade em estoque para quem tivesse interesse em conhecer. A venda não foi dificultada em nenhum momento.

Toyota Corolla Cross XR

Sem dúvidas o caso mais problemático. Nós já falamos sobre a versão “secreta” do novo Corolla Cross, que nem sequer aparece no configurador da marca. É como se ela realmente não existisse. Para as concessionárias, também.

Na Toyota Tusho, em São Caetano do Sul (SP), o que a reportagem ouviu do vendedor é que o Corolla Cross XR não está à venda para pessoas físicas e que a versão só pode ser comprada por empresas e frotistas. Ou seja, venda direta. Caso o cliente queira adquirir o carro por meio do CNPJ, há uma demora de cerca de 90 dias para a entrega do carro.

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Ainda segundo o vendedor, não faria sentido para a Toyota oferecer esta versão para clientes finais, por ter rodas menores e acabamento interno mais simples. Mas precisamos lembrar que mesmo essa versão de R$ 164.990 – R$ 13.600 mais barata que a XRE – tem ar o automático, sete airbags, faróis de leds, câmera de ré, sensores traseiros e piloto automático adaptativo, alerta de saída de faixa e frenagem autônoma de emergência.

Questionamos a Toyota, que informou que “A versão XR é comercializada especialmente para atender às necessidades do segmento de vendas diretas, que inclui empresas, frotistas e outros clientes corporativos, proporcionando um conjunto de características e benefícios que são particularmente atraentes para esses consumidores. No entanto, reconhecemos que consumidores finais também podem se interessar por essa versão, razão pela qual ela está disponível para compra através de nossos canais tradicionais de vendas com prazos que devem ser consultados”.

A fabricante não respondeu como os clientes devem proceder caso a concessionária se negue a vender o carro.

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Jeep Renegade T270

Outro negócio interessante é o Jeep Renegade T270. A versão básica tem o motor 1.3 turbo de 185 cv, câmbio automático de seis marchas, frenagem de emergência, seis airbags, central multimídia de 7 polegadas, freios a disco nas quatro rodas e rodas de liga leve, e custa R$ 118.290.

A diferença é que o carro existe e a fabricante não tem vergonha dele. Encontramos o Renegade T270 exposto no showroom da Jeep Sinal de São Bernardo do Campo (SP). Neste caso o vendedor não tentou nos levar para as versões mais caras do Jeep Renegade, nos detalhou a versão solicitada. Vendeu o peixe dele. E dava para escolher, pois havia 12 unidades disponíveis em estoque.

Desta lista, o Renegade é o único que ainda está na linha 2024. Questionamos se o carro ainda estará disponível para a linha 2025 e, segundo o vendedor, estará. No entanto, poderá ter uma quantidade muito baixa de unidades disponíveis e poderá ser lançado mais caro.

Após a versão sem nome está o Jeep Renegade Sport, que custa a partir de R$ 143.990.

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Volkswagen Polo Sense, Nivus Sense e Virtus Manual

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Para finalizar, um trio alemão. Começando pelos Polo Sense e Nivus Sense, que são versões direcionadas para o público PCD. Ambas são bem equipadas, porém pouco divulgadas pela marca. Mas estão disponíveis no configurador de versões da VW.

Perguntamos sobre o Polo Sense na concessionária Original VW de São Bernardo do Campo (SP). Inicialmente o vendedor “não conhecia” a versão e foi pedir ajuda para o responsável das versões PCD, que, por sua vez, não sabia se o modelo poderia ou não ser vendido para clientes fora do segmento. Uma confusão.

Por fim, o vendedor nos afirmou que não tinha os carros no showroom, porém havia em estoque.

O Polo Sense está disponível por R$ 101.490, já com motor TSI e câmbio automático de seis velocidades. Ele é tão equipado quanto o Polo TSI Manual e ainda por cima mais barato, já que este parte dos R$ 103.990. Os equipamentos se diferem apenas pelas rodas, que são de liga leve nesta versão, e de aço no Sense.

O Nivus Sense é a versão de entrada do SUV e parte dos R$ 119.990. Foi disponibilizada para venda ao público geral há pouco tempo, mas vale atentar que o Nivus passará por reestilização em breve.

Também questionamos sobre o Volkswagen Virtus TSI, única versão com câmbio manual, e que parte dos R$ 111.990 – quase R$ 10.000 a menos que a versão automática. Também não é comum nas concessionárias: de acordo com o vendedor, a procura por ela é muito baixa.

Consumidores que não exigem itens como bancos de couro ou sistemas mais avançados e complexos podem muito bem ser atendidos por uma destas versões escondidas. Na verdade, têm a possibilidade de comprar uma versão mais barata que já cumpre com suas expectativas. O problema é que, caso não conheça a “palavra mágica”, você não saberá sobre a existência dessas versões.