Cuidado quando falar do Ford Bronco. Veja se você está se referindo ao carro certo, se não está se esquecendo de algo, porque na nova geração lançada agora – 30 anos depois de o modelo ter saído de linha, em 1996 – existem dois Bronco.
O Bronco simplesmente, que é a sexta geração do modelo que estreou em 1965 (linha 1966) nos Estados Unidos. E o Bronco Sport, um tipo de clone que sofreu mutações que terminaram por torná-lo diferente.
A principal mudança está na construção: enquanto o Bronco é um jipe na melhor acepção da palavra, com chassi separado da carroceria, o Bronco Sport é um SUV com estrutura monobloco. Para ficar ainda mais claro, o primeiro é um rival do Jeep Wrangler, e o segundo briga com o Jeep Compass.
O Ford Bronco será o primeiro lançamento da Ford no Brasil, desde que a empresa decidiu se tornar apenas importadora. A data precisa da estreia ainda é desconhecida. Sabe-se, por fontes do mercado, que será no final do primeiro semestre deste ano. Oficialmente, também não se tem notícia de qual modelo virá primeiro. Mas será o Bronco Sport, por duas razões.
O Bronco Sport é o único que foi lançado nos diferentes mercados até agora. A pandemia da Covid-19 teria atrasado o desenvolvimento do Bronco. E o Bronco Sport já está entre nós. A Ford importou um lote de 28 unidades do SUV para uso de sua engenharia no Brasil.
O Bronco raiz não está descartado para nosso mercado. Mas vai ficar para um segundo momento.
O modelo que dirigimos em Guadalajara, no México, foi o Sport na sua versão mais completa, Badlands. Lá, o SUV é oferecido em três opções, Big Bend, Outer Banks e Badlands, além de uma série especial de lançamento First Edition. As duas primeiras são equipadas com motor EcoBoost 1.5 de três cilindros e 181 cv – mais moderno que o 1.5 turbo de quatro cilindros usado pelo Territory.
As outras têm motor EcoBoost 2.0 de quatro cilindros e 250 cv – pouco mais potente que a versão que era usada no Ford Fusion. Esses dois motores são usados no SUV médio Ford Escape, de quem o Bronco Sport herda também a plataforma. O câmbio é sempre o mesmo automático de oito marchas.
Começando pelo design, seu visual chama bastante atenção por onde passa. Era exatamente o que a Ford queria, aproveitar o prestígio do nome Bronco, que se tornou legendário graças a seu sucesso nas corridas “Baja 1000”, feita na Baixa Califórnia, México, nos anos 1970.
Ainda externamente, as formas quadradas dão um ar retrô ao conjunto, que remete ao modelo de primeira geração. Mas esse clima nostálgico é logo quebrado pelos faróis full-led com luzes de posição circulares.
O Bronco Sport tem o porte do Jeep Compass. Ele mede 4,38 m de comprimento, 1,88 m de largura e 1,81 m de altura e 2,66 m de entre-eixos. E o Jeep tem respectivamente: 4,41 m, 1,81 m, 1,63 m e 2,63 m. A maior variação está na altura.
Por dentro, a tecnologia também dá o tom do presente. Há duas telas, uma entre os instrumentos e outra da central multimídia – que é touch, tem acionamento por voz, GPS e é compatível com os sistemas Android Auto e Apple CarPlay. O sistema de som é fornecido pela Bang & Olufsen, com dez alto-falantes e subwoofer na versão Bandlands.
O espaço interno é suficiente para cinco pessoas. No porta-malas cabem 482 litros de bagagem (contra 410 litros do Compass). E tem soluções bem interessantes. Começa pela abertura, uma vez que o motorista pode bascular a porta inteira ou somente o vidro. Seu piso é forrado de borracha (como em todo o carro), com a ideia de que possa ser lavado. Há uma tomada 12 V.
E o bagagito removível se transforma numa prática mesa. Não falta nem um abridor de garrafas embutido na lateral do compartimento. E, na tampa traseira, há duas lâmpadas de led ajustáveis, que ajudam em um eventual piquenique noturno ou simplesmente a colocar ou tirar as malas à noite.
Andar no Bronco é quase tão confortável quanto em um Escape, tanto na cidade quanto na estrada. Os pneus de uso misto afetam muito pouco o rodar, que pode ser definido como suave. As medidas, 225/65 R17, encaram buracos e quebra-molas com confiança e na estrada são mais silenciosos que o usual nesse tipo de equipamento.
O desempenho é apenas satisfatório. A Ford não divulga números de aceleração e velocidade, mas o SUV vai bem no dia a dia, sem arroubos de agressividade. O que o impede de ter um comportamento mais pronto é o câmbio, que não ajuda o motor. As trocas de marcha são suaves tanto nas mudanças ascendentes quanto descendentes mas um pouco lentas.
Assim é também a direção elétrica, que nos mantém informados sobre o lugar onde estamos passando, mas com certa demora nas reações. E a suspensão que, por sua vez, apresenta bom equilíbrio sem abrir mão da suavidade. O Bronco tem estrutura McPherson, no eixo dianteiro; e multilink, no traseiro.
Se a intenção do motorista for rodar em trilhas radicais, a versão Badlands tem sete modos de condução adaptados a cada situação de uso, duas a mais que as versões Big Bend e Outer Banks. Além de Eco, Normal, Esportivo, Terra e Neve, a Badlands conta ainda com as opções Lama e Rochas.
A seleção é feita por meio de um botão localizado no console central, onde se lê a sigla G.O.A.T., e “goat” em inglês significa cabrito, que, como todos sabemos, pode subir a lugares onde outros animais não podem. A sigla oficialmente quer dizer: Goes Over Any Terrain, que em tradução livre seria passa por qualquer terreno.
Cada mudança é acompanhada por uma animação gráfica própria, que surge na tela dos instrumentos à frente do motorista mostrando o tipo de terreno para o qual esse modo foi feito. Quando optamos por um dos três modos mais radicais: Terra, Lama e Rochas, o Bronco automaticamente liga uma câmera na dianteira, facilitando a vida do motorista.
A eletrônica altera respostas de motor, transmissão, direção e ar-condicionado (no caso do modo Eco). Nos modos off-road, o diferencial traseiro fica bloqueado.
No quesito de segurança, o Bronco tem nove airbags, ESP, sensor de pontos cegos, alerta de mudança involuntária de faixa, sensor de tráfego à frente, sensor de pedestres e piloto automático adaptativo com correção de trajetória, se necessário for.
Produzido na fábrica da Ford de Hermosillo, no estado de Sonora, no norte do México, de onde partirá rumo ao Brasil, o Bronco Sport tem preços locais que começam em US$ 31.000 (Big Bend) e vão até US$ 40.000 (First Edition), que na realidade é uma Badlands com um pouco de equipamento extra, que permite à Ford cobrar mil dólares a mais por ele.
No Brasil, com o dólar cotado a R$ 5, os preços ficariam entre R$ 155.000 e R$ 200.000. Ou seja: com um posicionamento na medida para enfrentar o Jeep Compass. Mas a conta não é simples assim. Porque, no Brasil, a Ford deverá oferecer apenas as versões mais caras e em um posicionamento superior, com preços entre R$ 230.000 e R$ 250.000.
Depois de dirigir o Bronco Sport por uns dias, fiquei com vontade de ter um. Ele é esse tipo de carro que a gente aprova por motivos racionais mas também irracionais. É gostoso de dirigir e o motorista fica com aquela sensação de poder chegar aonde quiser.
E olha que minha ideia de diversão para um fim de semana não é subir num carro e ir sujá-lo junto com minhas calças e sapatos no lamaçal mais próximo, mas gosto de saber que poderia fazê-lo, se quisesse.
Veredicto
Eis um SUV com vocação off-road. Se tiver preço competitivo fará sucesso no Brasil.
Ficha técnica do Ford Bronco Sport 2.0 Badlands
Preço: R$ 250.000 (estimativa do Badlands)
Motor: gasolina, dianteiro, 4 cilindros, turbo, injeção direta, 1.999 cm³; 250 cv a 5.500 rpm, 38,3 kgfm a 3.000 rpm
Câmbio: automático, 8 marchas, 4×4
Suspensão: McPherson (d), multilink (t)
Freios: disco ventilado (dianteira) e sólido (traseira)
Direção: elétrica, 11,4 m (diâmetro de giro)
Rodas e pneus: liga leve, 225/65 R17
Dimensões: comprimento, 438,6 cm; altura, 181,3 cm; largura, 188,7 cm; entre-eixos, 266,9 cm; porta-malas 481 l
Fotos do Ford Bronco Sport 2.0 Badlands
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