Teste: C4 Lounge Origine, (quase) esportivo disfarçado de básico
O sedã não vive seu melhor momento no mercado, mas, mesmo com câmbio manual, tem uma das melhores relações de custo-benefício da categoria
O C4 Lounge chegou à linha 2017 com poucas (mas boas) novidades, como mudanças pontuais no visual e na lista de equipamentos. A principal, porém, está na mecânica: agora, todas as versões têm motor turbo. No caso da mais barata, Origine, a motorização pode ainda ser atrelada a um câmbio manual — como a unidade avaliada por QUATRO RODAS.
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Vendido por R$ 73.590, o C4 Lounge Origine bem que poderia utilizar um visual mais esportivo (como da série especial S) para justificar o conjunto mecânico apurado, como fez a Honda com o Civic Sport. No entanto, a Citroën preferiu ser realista e deixar claro que se trata da versão mais barata do modelo. Nem a pintura branca perolizada (a mais cara da paleta) é oferecida.
Por fora, a única diferença do Origine para as demais versões está nas rodas, de 16 polegadas, com desenho mais simples e calçadas com pneus de perfil mais alto (205/55). Nas outras configurações são de 17 polegadas, com pneus 225/45.
Permanecem os cromados nas janelas e na ponteira dupla do escape, além dos leds nas lanternas e no para-choque dianteiro. Na linha 2017, as faixas laterais alaranjadas dos faróis passaram a ser cinza. Não parece, mas a diferença (para melhor) é grande.
Mais do que o exterior, o interior do sedã denuncia seu caráter mais simples. O quadro de instrumentos tem iluminação branca, mas é quase espartano: dispensa o marcador de temperatura do motor e o analógico de velocidade. Dos males, o menor: ao menos o velocímetro digital tem leitura mais fácil e agradável. O centro da tela à esquerda, que mostra o conta-giros digital na parte superior, sugere as mudanças de marcha para uma condução mais econômica.
Na parte central do painel, nada de sistema multimídia — nem como opcional. O sistema de áudio, apesar de ter Bluetooth, entradas USB/AUX e comandos no volante, é representado por uma tela com iluminação laranja que, além da operação complicada, tem aspecto antigo que remete à primeira geração do C4, de 12 anos atrás.
Para completar o espaço vazio abaixo do visor, um porta-objetos com tampa que, na falta do GPS nativo do carro, pode servir de apoio para um smartphone quando aberta. Apesar do despojamento, porém, o C4 Lounge mantém o bom padrão de acabamento das demais versões, com materiais de boa qualidade e toque macio. O volante, por sua vez, não tem revestimento em couro e o toque áspero desagrada.
Entre os equipamentos, o Lounge Origine até que vai bem. De série há ar-condicionado (analógico), piloto automático, limitador de velocidade, trio elétrico, faróis e lanternas de neblina, rodas de liga leve, alarme, assistente de partida em rampas, controle de estabilidade e pontos de fixação Isofix.
Sem a oferta de itens opcionais, o modelo fica devendo sensores de estacionamento (necessários para um sedã de 4,6 metros) e mais airbags, além dos dois frontais obrigatórios.
Por R$ 11.400 a mais, a versão intermediária Tendance acrescenta câmbio automático, faróis automáticos, sensor de chuva, ar-condicionado de duas zonas, central multimídia com tela sensível ao toque, rodas aro 17, quadro de instrumentos com iluminação personalizável e maior número de informações, volante revestido de couro e acabamento mais caprichado.
GPS e câmera de ré são opcionais para essa versão e custam R$ 750, enquanto um segundo pacote, com os dois itens mais bancos de couro, sai por R$ 1.750 extras.
Ao volante, o Lounge Origine manual reserva boa dose de diversão, mas tem seus pontos críticos. O motor 1.6 turbo flex com injeção direta de 173/166 cv e 24,5 mkgf com etanol/gasolina, combinado com o câmbio manual de seis marchas, entrega acelerações vigorosas com o torque disponível já a 1.400 rpm. É para isso que o ESP está ali.
Ele vai de 0 a 100 km/h em 9,1 segundos com bons números de consumo: 9,6 km/l em percurso urbano e 14,3 no rodoviário, o que o torna, segundo a Citroën, até 17% mais econômico em relação ao antigo C4 Lounge Origine com motor 2.0 aspirado.
Na rodovia, por exemplo, é possível cumprir todo o percurso (desde que o trânsito permita) em sexta marcha, sem a necessidade de reduções em ultrapassagens ou retomadas graças ao turbo. Na cidade, porém, a segunda marcha se mostra fraca, forçando reduções para a primeira em valetas e lombadas. Mesmo em acelerações mais fortes, ela parece não conversar com a primeira e a terceira.
Para compensar, a direção está mais leve. A propósito: caso não seja adepto da embreagem, a versão Origine também é oferecida com câmbio automático por R$ 82.490, ou R$ 8.900 a mais.
Para todos os ocupantes, o Lounge oferece espaço e conforto de sobra, além de bancos com tecido de toque aveludado. O porta-malas leva até 470 litros de bagagens e tem abertura por um botão no interior do carro ou remota pela chave. No rodar, a suspensão de curso longo e acerto macio privilegia o conforto em ruas esburacadas — na configuração Origine, o perfil mais alto dos pneus também contribui na absorção das imperfeições do solo.
Apesar do bom custo-benefício de todas as versões (até na topo de linha Exclusive, que sai por R$ 95.990), o C4 Lounge vai mal quando o assunto é mercado — além de sofrer com o alto índice de desvalorização. No mês de outubro, ele ficou em 8º lugar na categoria dos sedãs médios com 247 emplacamentos, segundo a Fenabrave, atrás de Jetta, Sentra, Fluence, Focus, A3 Sedan, além dos líderes Corolla, Civic e Cruze.
No acumulado, ele está em 9º, com 3.329 unidades, número menor que os emplacamentos do mês do Corolla (5.119). Para 2017, porém, a Citroën deseja ultrapassar 6.000 exemplares emplacadas, esperando que a versão Origine manual represente cerca de 10% do mix, atraindo clientes que procuram por modelos de categorias inferiores.
Ao todo, no Brasil, são apenas quatro sedãs médios com opção de câmbio manual. Além do Citroën, há o Civic Sport (por R$ 87.900), o Mitsubishi Lancer (por R$ 65.190) e o Volkswagen Jetta (por R$ 83.876). Destes, o Jetta é o único com uma motorização à altura do C4. O Toyota Corolla também dispunha de uma configuração com embreagem, que deixou de oferecer com a chegada da linha 2017.
Embora destaque o programa de revisões a R$ 1 por dia até os 30.000 km, a manutenção até os 60.000 km do C4 Lounge (R$ 4.267) só é mais barata que a do Civic (R$ 4.306). Cruze e Corolla cobram menos pelos mesmos serviços, R$ 3.284 e R$ 3.105, respectivamente.
VEREDITO
O C4 Lounge Origine não tenta ser o que não é. Se de um lado a versão de entrada peca por não oferecer alguns itens de conveniência, de outro ela é equipada com o necessário, prioriza a segurança com ESP de série e é a única com motor turbo. Se você não se importar de ter um carro com jeitão de básico e revenda (ainda mais) difícil na garagem, ele é uma boa escolha pelo conjunto.
Ficha Técnica – Citroën C4 Lounge Origine 1.6 THP M/T
Preço: | R$ 73.590 |
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Motor: | flex., diant., transv., 4 cil., 1.598 cc, 16V, turbo, injeção direta, 173/166 cv a 6.000 rpm, 24,5 mkgf a 1.400 rpm |
Câmbio: | manual, 6 marchas, tração dianteira |
Suspensão: | McPherson (diant.) e eixo de torção (tras.) |
Freios: | discos ventil. (diant) e sólidos (tras.) |
Rodas e pneus: | liga leve, 205/55 R16 |
Dimensões: | comprimento, 462,1 cm; largura, 178,9 cm; altura, 150,5; entre-eixos, 271 cm; peso, 1.430 kg; porta-malas, 470 l; tanque de combustível, 60 l |
ACELERAÇÃO | |
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0 a 100 km/h: | 9,1 s |
0 a 1000 m: | 29,7 s / 179,6 km/h |
VELOCIDADE MÁXIMA; | 215 km/h (dado de fábrica) |
RETOMADAS | |
De 40 a 80 km/h: | 4,8 s |
De 60 a 100 km/h: | 6,2 s |
De 80 a 120 km/h: | 8,3 s |
CONSUMO (URBANO/RODOVIÁRIO): | 9,6/14,3 km/l |
FRENAGENS (60/80/120 a 0 km/h): | 16,4/28,5/68,2 m |