Dias antes de eu conhecer (e “decolar” a bordo) o Tesla Model S Plaid desta matéria, uma amiga publicitária entrou em contato, tentando entender a relação que os homens têm com os carros para uma campanha em que ela está trabalhando. “Como que pode o cara citar uma caminhonete na música para contar vantagem”, disse sobre certo cantor sertanejo. Se ela conhecesse o Plaid, talvez desistisse de perguntar.
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O novo carro mais rápido dos testes de QUATRO RODAS é extremamente provocativo aos padrões do que é exclusivo no meio automotivo. O sedã, por outro lado, também prova que certas tradições não estão ali à toa.
Para entender como uma empresa tão jovem como a Tesla briga de frente com gigantes centenárias como todas as grandes montadoras, é preciso entender que a “startup” americana talvez tenha tido o melhor timing da história. Justamente no momento em que os elétricos começam a virar realidade, a Tesla é a primeira fabricante feita do zero aos novos tempos: sem nenhuma concessionária, risco extremo nas ações e nada de conservadorismo.
Logicamente, o carro mais rápido da Tesla seria o novo Roadster, mas, dado o atraso no desenvolvimento do esportivo, a marca não se enrolou e, sem perda de tempo, apresentou a novidade em outro carro. A escolha racional foi o sedã mais caro do seu catálogo, o Model S.
Lançado em 2012, ele mantém praticamente o mesmo design há uma década, mostrando a visão de futuro da marca, que mistura quês de Toyota e de Google na criação de seus produtos. O processo de aquisição é 100% online, e a Tesla faz de tudo para não ter concessionárias.
É por isso que um cliente brasileiro pode importar um carro com a mesma liberdade que um cliente americano tem de comprar. A única diferença é que, pelo menos por enquanto, o carro chega aqui pelas mãos de importadores independentes: a unidade testada é vendida pela empresa paulistana Osten por R$ 1,6 milhão – incluindo todas as taxas (e também oferece o carro alugado, por assinatura).
O Model S é moderno e atraente em padrões normais, mas a postura do modelo é bem incomum para um veículo de 1.034 cv (o AMG One tem 1.063 cv).
Mesmo ciente do absurdo que seu produto representa, a montadora não colocou emblema, decoração ou qualquer detalhe externo que destaque o Model S Plaid. O nome da versão esportiva, inclusive, é um deboche: “Plaid” faz referência ao filme S.O.S. – Tem um Louco Solto no Espaço, de 1987, que tira sarro de Guerra nas Estrelas e de outras ficções científicas.
O interior divide opiniões: o piloto de testes Leonardo Barboza não gostou do manche à la Boeing 737, no lugar do volante – algo bem comum entre outros motoristas. De minha parte, não faço restrições.
A base quase retangular do volante (ou manche?) ajuda bastante na empunhadura e as saliências na parte de cima se encaixam naturalmente entre os dedos. O fato de todos os comandos de luzes, limpadores de para-brisa estarem no volante, entretanto, obriga o motorista a desviar os olhos da pista até para dar seta.
Onde não há discórdia é na autonomia, de impressionantes 633 km (ciclo EPA). Outro destaque é a central multimídia de 17”, que tem resolução Quad HD (melhor do que Full HD, mas pior do que 4K) e comportamento de um computador topo de linha.
Aí, sim, a marca se gaba do produto, disponibilizando videogames de alto desempenho que podem ser jogados na tela. O sistema de som com 22 alto-falantes permite um “modo cinema”, bastando conectar o carro à Netflix ou outro serviço de streaming.
Dirigindo como um sedã, o dono do carro talvez nunca faça uma arrancada. Mas quem comprar o carro como um esportivo vai querer experimentar esse serviço oferecido. Para tanto, é só selecionar o modo de arrancada na tela e iniciar uma contagem regressiva de 20 minutos para que as baterias sejam preaquecidas à temperatura ideal.
Dado esse tempo, o motorista precisa pisar firme no freio com o pé esquerdo e, em seguida, fazer o mesmo com o pé direito no acelerador. O carro começa a entrar em “posição de onça” – como a Tesla chama o momento em que a frente do Model S Plaid abaixa –, melhorando a tração.
Daí, basta aliviar o freio e ir de 0 a 100 km/h mais rápido que qualquer carro produzido em série no mundo: precisamente, 2,49 segundos – no vídeo no início da matéria é possível ver o corpo dos ocupantes colando nos bancos, pela inércia.
Essa performance só é capaz por conta do trio de motores (um à frente e dois atrás) que move o Model S Plaid. Eles giram tão rápido que, sem preparo adicional, simplesmente virariam pó e, para resolver o problema, Musk recorreu à nave espacial SpaceX. Assim, os motores do Plaid foram “embalados” por uma malha de fibra de carbono a altíssima pressão, mantendo seu conteúdo intacto.
A arrancada registrada no vídeo foi como um aquecimento para nós também. Depois, como as baterias seguiram quentes, realizamos as medições, tendo apenas o piloto a bordo, como é nosso padrão. Foi na melhor passagem que o Model S Plaid cravou 2,49 s; seguindo nosso critério: 2,5 s, o melhor resultado da história da revista.
Ele superou o Porsche 918 Spyder, V8 híbrido, que fez 2,6 s há seis anos – reinado que o Model S não deverá desfrutar, dada a atual rapidez do avanço tecnológico. Mas não quer dizer que o Plaid não se tornará um futuro clássico: com seu deboche, o carro foi atrás de um prestigiado recorde para exibir as ideias da Tesla.
Ainda não se sabe se é possível reproduzi-las em massa, mas a provocação que o sucesso do sedã esportivo faz a ideias intocáveis da indústria dá um spoiler do futuro.
Galeria de Fotos
Veredicto
O Plaid faz história ao oferecer, em um sedã de luxo “acessível”, desempenho de modelos astronomicamente caros.
Ficha Técnica – Tesla Model S Plaid
Preço: R$ 1,6 milhão (importação independente Osten)
Motor: elétricos, AC, (1 diant., 3 tras.); 1.034 cv, 145,2 kgfm
Baterias: íons de lítio, 100 kWh; autonomia 633 km – (EPA); carga, até 275 kW (DC); 10% a 80% em menos de 25 minutos
Suspensão: duplo A (diant.), multilink (tras.) Direção: elétrica
Freios: disco ventilado (diant. e tras.)
Pneus: 265/35 R21 (diant.); 295/30 R21 (tras.)
Dimensões: comprimento, 497 cm; largura, 196,4 cm; altura, 144,5 cm; entre-eixos, 296 cm; altura do solo, 14,4 cm; peso, 2.162 kg