Nos jargões do mercado financeiro, existem três maneiras de classificar um investidor: conservador, moderado e arrojado ou agressivo. E esses perfis também podem ser atribuídos aos consumidores de carros.
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É esse primeiro perfil citado (conservador) que forma a maioria dos compradores de Honda no Brasil. Afinal, a marca japonesa tem tradição e custos de manutenção relativamente baixos e previsíveis. Seguindo esta metáfora, a nipônica acaba de lançar a linha 2021 do CR-V. Porém, para concorrer dentro da categoria mais disputada do Brasil, será necessário um pouco mais do que tradição.
O SUV está em sua quinta geração, lançada por aqui em 2018 e que recebe agora a sua última mudança, já que a sexta geração já roda em testes nos EUA e deverá ser lançada por lá em 2022.
O CR-V 2021 chega importado dos Estados Unidos em única versão, a Touring, com as mudanças que já convivem com os americanos há um ano e meio.
Com alguns retoques no visual, mas sem alterações mecânicas, o SUV topo de linha da Honda tem como seu principal trunfo a adoção de um pacote de tecnologias de condução semiautônoma, cada vez mais “popular” entre os SUVs premium.
Mas, para ter esse verdadeiro arsenal de dispositivos que auxiliam na condução do dia a dia e podem até evitar acidentes, será necessário desembolsar a bagatela de R$ 264.900 – um aumento exato de R$ 24.910 em relação ao modelo anterior, ou 10%. É preciso levar em consideração que a balança cambial não está a favor da nossa moeda mas, ao compararmos com seus rivais diretos, esse preço elevado salta aos olhos.
Primeiro vamos falar de tudo o que o SUV ganhou de itens tecnológicos e também de suas alterações estéticas.
Na dianteira, a linha 2021 ganhou uma nova grade no estilo colmeia e um para-choque redesenhado que dá uma sensação de robustez. Os faróis não tiveram mudança de formato ou desenho interno e continuam equipados com lâmpadas full led. A novidade está nos faróis de neblina, que agora são em led.
Na lateral há um novo friso cromado que atravessa toda a extensão do carro e novas rodas de liga leve de 18”.
Para completar as alterações de design, a faixa cromada que unia as lanternas (agora escurecidas) deu lugar a uma peça cromada com efeito mais escuro. Há também um novo para-choque e novas saídas de escape retangulares – as antigas eram redondas.
Ao entrar no carro, há novos apliques que imitam madeira no painel das portas, console central e na parte superior do painel dianteiro. Isso traz um ar de sofisticação para a cabine, mas não de modernidade (diga-se).
O console central também foi redesenhado e há a presença de bandejas corrediças que permitem acomodar objetos de tamanhos variados ali.
O teto solar agora é panorâmico e ocupa toda a extensão do teto, trazendo comodidade, claridade e ainda mais requinte para o interior.
Mas vamos falar de tecnologia embarcada, pois é nesse quesito que o SUV mais mudou. A começar pela conectividade.
O CR-V ganhou carregador de celular sem fio, porém a conexão com Apple CarPlay e Android Auto continua sendo por cabo – o que não faz muito sentido pois, se existe a intenção de abandonar os fios pra carregamento, por que não adotar a mesma lógica para o espelhamento de smartphones? Mas a Honda não é a única a promover esse desencontro, o novo Peugeot 3008 sofre do mesmo mal.
A central multimídia é intuitiva, mas de apenas 7 polegadas. Para um modelo premium espera-se uma tela maior. Só não se pode reclamar da quantidade de entradas USB: são duas no console central e mais duas para quem vai atrás.
Os passageiros traseiros continuam usufruindo de um ótimo espaço pra pernas com 266 cm de entre-eixos, e o assoalho é completamente plano garantindo ainda mais conforto. As dimensões continuam as mesmas e o SUV mantém um dos seus principais atributos: ótimo espaço e vida a bordo.
A experiência a bordo é completada por um sistema de som que ganhou um subwoofer para um reforço nos graves, no total são nove auto-falantes.
CR-V é um bom copiloto
O sistema Sensing, como é batizado o conjunto de tecnologias semiautônomas, é, sem dúvidas, a principal mudança da linha 2021 e também a responsável por um aumento tão expressivo no preço. Ele funciona por meio de uma câmera no para-brisas e também um radar localizado na grade frontal. Neste conjunto estão piloto automático adaptativo com ajuste da velocidade, frenagem autônoma de emergência (que funciona em velocidade entre 72 km/h a 145 km/h) e assistente de mudança de faixa com correção de trajetória.
Uma outra tecnologia chamada LaneWatch não faz parte do pacote Sensing, mas equipa o SUV e se mostrou ser realmente útil nos deslocamentos urbanos. Sempre que o condutor aciona a seta para direita a imagem do trânsito ao lado aparece na central multimídia.
Em avenidas de trânsito rápido nas quais há a presença de um volume considerável de motos, essa tecnologia traz conforto e segurança para as mudanças de faixa. Falando ainda de conforto na condução, o modelo é equipado com head up display, que projeta informações em uma tela de acrílico que é revelada ao ligar o botão de partida. Além da velocidade, é possível visualizar o conta-giros e orientações do GPS.
Mesmo motor 1.5 turbo
O trem de força continua o mesmo com o conjunto do motor 1.5 turbo a gasolina combinado com o câmbio CVT. O propulsor rende 190 cv de potência e 24,5 kgfm de torque. A novidade fica pela adoção do sistema start-stop que, segundo a Honda, trouxe melhorias para o consumo de combustível.
Não pudemos levar o novo CR-V pra pista para comprovar se ele ficou mais econômico, mas segundo a Honda o modelo agora consome 11 km/l na cidade e 12,3 km/l na estrada. Nos nossos números de teste aferidos com o modelo anterior fez 10,5 km/l no ciclo urbano e 13,2 km/l no rodoviário.
Devido a tecnologias embarcadas, o CR-V ficou mais pesado: são 1.629 kg contra 1.607 kg do anterior, mas isso não afetou o seu bom desempenho.
As acelerações e as retomadas são eficientes, e motor e câmbio trabalham bem juntos. Mesmo em subidas mais inclinadas o conjunto vence com tranquilidade, porém o ruído do motor invade a cabine nesta condição pelo tipo de funcionamento do câmbio de relações contínuas, o que mostra que ou há um ruído excessivo do motor ou mesmo alguma falha no isolamento acústico.
A posição de dirigir é elevada e a direção é leve, porém a condução é um pouco anestesiada devido a suspensão privilegiar o conforto e a direção não ser tão comunicativa. No modo Sport essa sensação muda e é até possível se divertir um pouco atrás do volante.
A suspensão é independente nas quatro rodas e cumpre muito bem o seu papel aliada à amortecedores que filtram bem as imperfeições do piso. A característica de ser independente permite que a carroceria fique mais estável e balance menos ao passar por asfaltos mal conservados.
PREÇO
É importante frisar que o CR-V 2021 é bem completo e, entre os itens, de série traz seis airbags, freio de estacionamento elétrico, partida por botão, ar-condicionado digital com duas zonas e monitoramento de pressão dos pneus, entre outros. Porém a sua vasta lista de equipamento de série não é suficiente para justificar o seu preço de R$ 264.900.
Isso porque rivais como Volkswagen Tiguan R-line, que também traz recursos semiautônomos, conta com motor 2.0 turbo de 220 cv (mais potente) e também um bom conteúdo de segurança e tecnologia custa R$ 236.090 – mais de R$ 28.000 de diferença. Vale também citar outro concorrente que acaba de ser lançado, o Peugeot 3008 2022, que parte de R$ 229.000 e, mesmo contando com motor 1.6 turbo de 165 cv, menos potente, conta com os mesmos sistemas de auxílio à condução.
A dúvida que fica é o que motivou a Honda a não disponibilizar uma versão híbrida do SUV (que já é vendida no mercado americano). Essa versão poderia justificar o alto preço e ganhar vantagem frente aos rivais. Nos resta esperar pela nova geração que deve chegar mais sustentável e com preço competitivo.
Ficha técnica – Honda CR-V Toring 2021
Motor: gas., diant., transv., 4 cil., 16V, turbo, injeção direta, 1.498 cm3; 190 cv a 5.600 rpm, 24,5 mkgf a 2000 rpm
Câmbio: automático, CVT, tração integral
Suspensão: McPherson(dianteira) / multilink (traseira)
Freios: discos ventilado (dianteira) e sólido (traseira)
Direção: elétrica
Rodas e pneus: liga leve, 235/60 R18
Dimensões: comprimento, 463,1 cm; largura, 185,5 cm; altura, 168,9 cm; entre-eixos, 266 cm; peso, 1.629 kg; tanque, 57 l
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