Grandes Comparativos: Maverick GT x Opala SS x Charger R/T X Corcel GT
Apesar de propostas diferentes, cinco carros com apelo de esportividade mostraram o que cada um tinha de melhor
Carros que pertencem à mesma categoria, mas com características distintas – preço, por exemplo –, podem ser comparados?
A resposta: por que não? Fazendo as devidas ressalvas, é possível pensar fora da caixa: colocá-los frente a frente para saber o que cada um tem de melhor a oferecer.
Foi com esse pensamento que QUATRO RODAS realizou um tira-teima entre os esportivos Maverick GT, Dodge Charger R/T, Opala SS 4, Opala SS 6 e Corcel GT na edição de fevereiro de 1974.
A reportagem dizia que “o preço não é suficiente para definir muita coisa: é óbvio que o Charger R/T e o Maverick GT têm de ser melhores do que o SS 4 e o Corcel GT, que são muito mais baratos”.
Hoje, esse raciocínio não seria tão óbvio. É comum ver modelos mais em conta que superam outros com cifras nas alturas.
De qualquer maneira, na análise fria dos números, era preciso dar um desconto para as “diferenças de preço, cilindrada e tamanho”, como fez questão de ressaltar a reportagem.
A cilindrada do Corcel (1.4) era três vezes menor que a do SS 6 (4.1), do Maverick (5.0) e do Charger R/T (5.2). “Por isso, ele deve ser muito mais econômico, embora o desempenho seja bem inferior.” É o que veremos.
Foram avaliados 14 quesitos com notas de 1 a 5 em cada um: estabilidade, estilo, instrumentos, direção, freios, desempenho, consumo, transmissão, motor, porta-malas, nível de ruído, posição do motorista, conforto e acabamento.
O Charger R/T era o carro mais caro e suas dimensões transatlânticas lhe roubavam um pouco de estabilidade. Isso era compensado pela direção hidráulica, que permitia contornar as curvas mais facilmente. Na outra ponta, o Corcel GT custava menos que os adversários, embora seu preço não estivesse muito abaixo do valor do Opala SS 4, maior e bem mais potente.
Motorzão forte
Quando se trata de esportivo, certamente, a primeira coisa em que você pensa é no desempenho. As provas de aceleração mostraram equilíbrio entre Opala SS 6, Maverick e Charger, que deixaram Corcel GT e Opala SS 4 lá atrás.
Na arrancada de 0 a 500 metros, o Charger cravou o tempo de 20,2 segundos, contra 20,8 de Opala SS 6 e Maverick GT. Um empate técnico. O SS 4 fez em 23,5 segundos e o Corcel marcou 23,6.
De 0 a 1 000 metros, o R/T foi ligeiramente superior: 32,4 segundos, contra 33,6 segundos do Opala SS 6 e 33,7 do Maverick.
O motorzão 5.2 de 215 cv de potência do Charger R/T também rosnou mais forte na velocidade máxima. Chegou a 180,9 km/h, contra 175,6 km/h do Maverick GT. O mais lento? O Corcel GT, com 144 km/h. Mas lembre que ele era equipado com motor 1.4 de 85 cv.
Apesar de serem menos velozes em valores absolutos que o Charger R/T, o Maverick GT e o Opala SS 6 conseguiam ser mais rápidos em trechos cheios de curva, devido ao melhor comportamento dinâmico.
Mesmo assim, havia espaço para críticas: a direção do Maverick foi considerada muito desmultiplicada para um carro esportivo, provocando cansaço nas manobras apertadas e respostas mais lentas em curvas sucessivas.
Os espaços de frenagem mostraram-se coerentes com o porte de cada carro. A 80 km/h, o Dodge precisou de 24,3 metros para parar totalmente. A pior marca foi do Opala SS 6, com 30,9 metros.
A reportagem destacou ainda que, “de 60 km/h a 0, o Maverick apresentou os freios mais eficientes e o Corcel, o maior equilíbrio na freada”.
A relação peso-potência reforçou a superioridade do Charger no item desempenho. O texto do jornalista Expedito Marazzi explicava que “muitas vezes um carro de 300 cv pode ser ultrapassado por outro com metade de sua potência, desde que convenientemente mais leve. A relação peso-potência serve para prever o desempenho”.
O Corcel apresentou o pior resultado: 11,3 kg/cv, ou seja, cada cavalo de seu motor tinha de carregar 11,3 kg. Já o Dodge cavalgou com folga (6,9/cv), seguido pelo Maverick GT (7,1 kg/cv).
Se tinha a melhor performance, o motor do Charger revelou-se o mais beberrão no teste de consumo, como era de esperar. Com os carros à velocidade constante de 80 km/h em quarta marcha, ele fez 6,9 km/l.
Com a crise do petróleo que o mundo vivia na época, entrar no posto e mandar completar seu tanque de 100 litros soava como um desaforo.
Maverick e Opala SS 6 empataram com 8,9 km/l, mas a reportagem considerou que o modelo da Ford se saía melhor, uma vez que tinha mais cilindrada e era mais pesado. Opala SS 4 (12,5 km/l) e Corcel (12,9 km/l) terminaram o teste como os mais econômicos.
Tamanho não é documento
As avaliações de diâmetro mínimo de giro, porta-malas e espaço interno revelaram o nível de conforto que cada um dos esportivos podia oferecer aos ocupantes. Apesar das dimensões diferentes dos concorrentes, o diâmetro de giro foi muito semelhante.
“O Corcel, que poderia levar vantagem, tem tração dianteira e, por isso, não consegue virar em espaços muito mais apertados do que os demais, numa única manobra”, afirma a reportagem.
Os números do Corcel foram: 11,30 metros na manobra para a esquerda e 11 para a direita. Nem o tamanho todo do Charger atrapalhou: registrou 11,80 metros para a esquerda e 11,90 para a direita, graças à boa direção hidráulica.
O porta-malas do Charger acomodava 436 litros de bagagem, 6 a mais que os dois Opala. O Maverick podia guardar 417 litros e o Corcel, 246 litros. Proporcionalmente ao tamanho de cada um, todos foram considerados bem-servidos e ganharam nota 3.
Mas poderiam melhorar, desde que houvesse um remanejamento de seus componentes, como no caso do Charger: o tubo de entrada do tanque de gasolina e a posição do estepe. Os revestimentos do compartimento de bagagem de todos foram considerados pobres.
O espaço interno quebrou o paradigma de que o maior é o mais confortável. Com 55 cm de comprimento a menos que o Dodge, o Ford Corcel levou a melhor nesse item.
Segundo a reportagem, “as medidas crescem mais ou menos proporcionalmente às dimensões externas dos carros. Entretanto, existem algumas medidas, como a distância entre os bancos dianteiros e traseiro, que não seguem a proporção geral, pois são quase iguais, tanto no Corcel GT como no Charger R/T”.
Chamou atenção o banco de trás do Maverick – de largura comparável à dos do Opala, mas bem mais estreito que o do Dodge –, que causou uma sensação de aperto, agravada pela saliência do túnel de transmissão, pela linha traseira mais baixa do teto e pelo vidro bastante inclinado.
Levando-se em conta suas dimensões externas, o Corcel oferecia amplo espaço interno e o formato dos bancos ajudava a aumentar a sensação de conforto.
Pelo conjunto da obra, o Corcel ganhou nota 4, enquanto Charger e Opala SS 4 receberam 3 e Opala SS 6 e Maverick, nota 2. Nesse caso, menos significou mais.
NÓS DISSEMOS…
Fevereiro de 1974: “Há um fator comum que deve ser levado em conta: todos os cinco são oferecidos ao comprador como carros esportivos, o que subentende um desempenho superior. Sob esse aspecto, há, porém, uma ressalva ainda mais significativa: a cilindrada do Corcel é três vezes menor do que a do SS 6, do Maverick e do RT. Por isso, ele deve ser muito mais econômico do que eles, embora seu desempenho seja bem menor (…) Quanto ao comprimento, eles não só têm relação com o comportamento como com o conforto interno”.
Teste QUATRO RODAS – fevereiro de 1974
Corcel GT | Opala SS 4 | Opala SS 6 | Maverick GT | Charger R/T | |
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Aceleração de 0 a 1.000 m | 39,1 s | 37,5 s | 33,6 s | 33,7 s | 32,4 s |
Velocidade máxima | 144,0 km/h | 155,1 km/h | 174,3 km/h | 175,6 km/h | 180,9 km/h |
Frenagem de 80 km/h a 0 | 26,5 m | 27 m | 30,9 m | 29,3 m | 24,3 m |
Consumo a 80 km/h | 12,9 km/l | 12,5 km/l | 8,9 km/l | 8,9 km/l | 6,9 km/l |
Preço (fevereiro de 1974) | CR$ 31.021 | CR$ 32.770 | CR$ 38.298 | CR$ 42.096 | CR$ 55.833 |
Preço (atualizado IGP-DI/FGV) | R$ 95.956 | R$ 101.366 | R$ 118.466 | R$ 130.214 | R$ 172.707 |
Ficha Técnica
Corcel GT | Opala SS 4 | Opala SS 6 | Maverick GT | Charger R/T | |
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Motor | dianteiro, longitudinal, 4 cilindros em linha, 1.372 cm³, 85 cv | dianteiro, longitudinal, 4 cilindros em linha, 2.474 cm³, 96 cv | longitudinal, 6 cilindros em linha, 4.100 cm³, 140 cv | dianteiro, longitudinal, 8 cilindros em V, 4 950 cm³, 197 cv | dianteiro, longitudinal, 8 cilindros em V, 5 212 cm³, 215 cv |
Dimensões | comprimento, 441 cm; largura, 164 cm; altura, 142 cm; entre-eixos, 244 cm; peso, 962 kg | comprimento, 467 cm; largura, 176 cm; altura, 138 cm; entre-eixos, 267 cm; peso, 1.050 kg | comprimento, 467 cm; largura, 176 cm; altura, 138 cm; entre-eixos, 267 cm; peso, 1.100 kg | comrimento, 458 cm; largura, 179 cm; altura, 136 cm; entre-eixos, 262 cm; peso, 1.394 kg | comprimento, 496 cm; largura, 181 cm; altura, 139 cm; entre-eixos, 282 cm; peso, 1.495 kg |
Peso/potência | 11,3 kg/cv | 10,7 kg/cv | 7,8 kg/cv | 7,1 kg/cv | 6,9 kg/cv |