Impressões ao dirigir: Ford Focus RS, o trovão azul
O Focus RS não é só uma versão esportiva: é um monstro que encara os AMG e RS3
O pessoal das fábricas adora histórias de projetos heroicos – desenvolvidos às escondidas e à revelia dos chefes – que, na maioria das vezes, estão distantes da realidade. Há narrativas, porém, que merecem crédito. E uma dessas é a do novo Ford Focus RS.
Segundo o responsável pelo projeto, o engenheiro Tyrone Johnson, o RS enfrentou resistência por representar um investimento além do usual para uma versão esportiva. E, de fato, conhecendo o carro, a impressão é de que a Ford poderia fazer um RS gastando menos.
Um indicador de que o engenheiro não exagera quando fala é o tempo gasto no projeto, que foi de 24 meses. Ou seja, cerca de dois terços do período médio necessário para desenvolver um veículo inteiramente novo.
Johnson conta que, começando pelo visual, nenhum dos adereços que vemos no RS são meros recursos estéticos. Todos estão ali para melhorar o desempenho do carro.
A grade dianteira, por exemplo, foi ampliada para aumentar o fluxo de ar para o motor e as tomadas inferiores existem para resfriar os freios.
Por dentro, o novo RS é mais parecido com as versões regulares do Focus. Além das inscrições RS e dos três mostradores no alto do console (temperatura do óleo, pressão do óleo e pressão do turbocompressor), o único sinal de que o RS é um esportivo é dado pelos bancos tipo concha.
Já o motor, um quatro cilindros 2.3 EcoBoost, foi emprestado do Ford Mustang. Mas antes ele recebeu algumas mudanças que fizeram sua potência subir de 310 cv para 350 cv.
Entre as melhorias, houve a troca dos pistões, do turbocompressor e do mapeamento eletrônico. Na transmissão, o câmbio é manual de seis marchas e a tração, 4×4.
Tecnicamente, o sistema de tração é a principal inovação do carro. Em condições de boa aderência, em linha reta, o Focus RS tem 70% do torque nas rodas traseiras e 30% nas dianteiras.
Graças a um segundo diferencial, a força enviada ao eixo traseiro também pode ser dividida entre as rodas, variando em função do tipo de curva ou da diferença do nível de aderência do piso.
O chassi foi igualmente alvo de muito trabalho para aprimorar o comportamento do carro. O monobloco ganhou reforços estruturais e as suspensões foram recalibradas.
A direção continua a ter assistência elétrica, mas sua relação ficou mais direta. Os freios foram redimensionados para suportar as solicitações de um modo de condução esportivo, com menor risco de fadiga.
Na prática, o RS merece ser chamado de esportivo e não de versão esportiva. Dada a partida, seu motor nos dá logo as boas-vindas com um sonoro ronco. Melhor que ouvir o RS, porém, é vê-lo em ação.
Em nosso test-drive, em Valencia (Espanha), o hatch se revelou muito rápido graças às respostas do motor e do chassi equilibrado. Segundo a fábrica, o RS acelera de 0 a 100 km/h em 4,7 segundos e atinge 266 km/h de máxima.
A suspensão firme está longe de ser desconfortável em razão da possibilidade de ajuste. Por meio de um botão à esquerda da alavanca do câmbio é possível selecionar entre quatro modos de direção (Normal, Sport, Track e Drift), que ajustam os parâmetros do motor (aceleração e sonoridade), transmissão (câmbio e tração), direção, suspensão e sistemas de controle de chassi (tração e estabilidade).
Os modos Normal e Sport são adequados para o uso diário, no trânsito e na estrada, segundo a preferência do motorista. O Track e o Drift são indicados para acelerar em pistas fechadas, onde se pode levar o carro ao limite.
O Drift, como o nome já diz, permite fazer derrapagens controladas. Com o diferencial traseiro, que divide o torque entre as rodas, essa manobra se torna bem mais fácil do que parece.
Segundo a Ford, pelo menos por enquanto, não há planos de vender no Brasil o RS, que acaba de chegar aos EUA.
Se viesse, pelo que demonstrou em nossa avaliação, estaria em desempenho à altura de hatches esportivos alemães como Audi RS3 e Mercedes-AMG A 45. E provavelmente chegaria com preço mais baixo, assim como ocorre na Espanha, onde custa quase 30% menos.
VEREDICTO
O Focus RS é um esportivo puro-sangue. Por isso, é uma pena a Ford não ter planos de vendê-lo no Brasil, que seria páreo para um Audi RS3 ou Mercedes-AMG A 45.
Ficha Técnica – Ford Focus RS
Motor | gasolina, diant. 4 cil. em linha, 16V, injeção direta, turbocompressor; 87,6 x 94 mm; 9,4:1, 2.266 cm3; 350 cv a 6.000 rpm, 47,9 mkgf a 4.500 rpm |
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Câmbio | manual, 6 marchas, tração integral |
Direção | elétrica |
Suspensão | McPherson (diant.) e multilink (tras.) |
Freios | discos ventilados (diat.) e discos (tras.) |
Pneus | 235/35 R19 |
Dimensões | comprimento, 439 cm; altura, 147,2 cm; largura, 182,3 cm; entre-eixos, 264,7 cm; peso, 1.599 kg |
Porta-malas | 260 l |
Tanque de combustível | 51 l |
Desempenho | 0 a 100 km/h, 4,7 s; velocidade. máxima, 266 km/h |
Preço | 41.250 euros (Espanha) |