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Longa Duração: o desmonte do Chevrolet Agile

Um simples coxim quebrado era a causa da misteriosa tremedeira que confundiu até as autorizadas

Por Péricles Malheiros Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO
Atualizado em 18 mar 2024, 10h25 - Publicado em 10 set 2011, 17h11

Compramos o Agile em novembro de 2009. “A previsão é que ele chegue em dezembro”, disse o vendedor da concessionária Carrera, onde adquirimos o carro.

Mas o Agile só chegou bem depois, em fevereiro — de acordo com a fábrica, o atraso ocorreu por causa de uma adequação da linha de montagem das unidades com ABS e airbag duplo em Rosário, na Argentina.

Em março de 2010, começava a marcha do Agile no Longa Duração. Sem grandes problemas, ele cumpre sua missão e passa pelo desmonte aprovado. Mas poderia ter se saído ainda melhor.

Antes de iniciar as medições, nosso consultor técnico e responsável pelo desmonte dos carros de Longa Duração, Fábio Fukuda, rodou cerca de 100 km com o Agile.

“Queria sentir o carro antes de iniciar a desmontagem. Isso sempre rende boas pistas sobre os pontos críticos”, disse.

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A característica mais notada por Fukuda foi a mesma apontada pela maior parte dos 44 motoristas que se revezaram ao volante do Agile: a trepidação excessiva nas arrancadas.

Esse mal foi apontado pela primeira vez pelo editor Paulo Campo Grande aos 34.475 km e continuou até o fim da jornada, mesmo tendo sido reportado nas cinco paradas posteriores – duas para revisões programadas e três para troca de óleo.

Na revisão de 50.000 km, o consultor da concessionária Adara, de Campinas (SP), sugeriu a troca do kit de embreagem. Como o técnico não garantia o fim do problema, não autorizamos o serviço. Sábia decisão.

No desmonte, Fukuda detectou que a embreagem ainda estava vendendo saúde: “Pelo bom estado dos componentes, dá para afirmar que aguentaria pelo menos mais 10.000 km”, diz.

A grande questão permanecia: qual era, afinal, a origem da trepidação?

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Fim do mistério

A resposta veio antes que a primeira ferramenta tocasse o carro. Fukuda notou que o coxim usado para fixar o motor na longarina direita estava com a borracha rompida.

“Considero essa uma falha grave. Não compromete a segurança, mas dar uma olhada nos coxins era uma das primeiras providências a serem tomadas”, diz Fukuda. “Se tudo estiver bem, aí sim dá para cogitar a embreagem como culpada”, afirma.

O desmonte comprovou dois deslizes apontados por QUATRO RODAS em outubro de 2009, no lançamento do Agile. A linha de escapamento apresenta chapa defletora de calor apenas no túnel central.

Abaixo do porta-malas, ao lado da cuba do estepe, a ausência da placa metálica permite que o calor do abafador traseiro invada o compartimento de bagagens.

O outro ponto crítico é a mangueira de drenagem do ar-condicionado. Fixada a um tubo junto aos pés do passageiro dianteiro, fica sujeita a esbarrões acidentais.

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Deslocada, ela deixou a água vazar para baixo do carpete – ao se remover a forração, foram encontrados sinais de infiltração no local.

A desmontagem completa do motor revelou alguns problemas. Nada alarmante, por enquanto, mas poderiam se agravar com o passar do tempo e dos quilômetros.

Com abertura acima ou no limite do tolerado, os anéis não permitiam que os pistões gerassem a compressão nominal (entre 240 e 280 psi).

A situação se mostrou mais grave nos cilindros 1 e 2, onde a pressão de compressão média (são realizadas três medições) foi de, respectivamente, 225 e 223,33 psi. Os cilindros 3 e 4 também trabalhavam sem a compressão adequada: 235 e 236,66 psi.

O principal reflexo dessa desconformidade foi notado nas válvulas de admissão: as dos cilindros 1 e 2, não por acaso, mostravam acúmulo mais severo de carvão.

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“Como a pressão vaza pelo anel, o pistão não comprime a mistura adequadamente e a temperatura da câmara fica abaixo do ideal. Some a isso a invasão de lubrificante e temos a explicação para o excesso de material depositado na base das válvulas”, diz Fukuda.

A pressão de óleo e a de combustível estavam dentro do nominal, assim como o virabrequim e a conicidade dos cilindros – a GM não divulga os números tolerados para essas análises.

A marca também faz suspense sobre as medidas nominais dos componentes do freio – espessura mínima de disco e diâmetro máximo de tambor.

Ainda assim, nosso consultor deu um jeito: “Essas especificações são impressas nas próprias peças, mas só são visíveis quando novas. Fui até uma concessionária, pedi as peças e anotei os dados”. Todas as medidas estavam dentro dos limites.

Câmbio, suspensão e direção, todos em perfeito estado, arrancaram elogios de Fukuda. A aplicação de uma pesada camada de feltro na região do painel afastou os barulhos daquela região.

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As travas das peças plásticas, apesar de íntegras, não impediram as reclamações sobre ruídos de acabamento, principalmente na traseira. Conectores, terminais e plugues também atravessaram os 60.000 km intactos.

Assim como o Ka de Longa Duração, desmontado em junho de 2010, o reservatório de expansão do radiador teve as paredes escurecidas pela ferrugem.

De acordo com uma fonte ligada à área técnica da Behr, fornecedora do sistema de arrefecimento do Agile, “a ferrugem só se forma quando se erra na proporção de aditivo na água, ou no próprio aditivo. A corrosão atinge motores com bloco de ferro fundido, não o radiador, feito de material que não enferruja”.

No plano de manutenção, indica-se a troca do líquido de arrefecimento a cada 150 000 km ou cinco anos.

Além de ignorar nossos apontamentos de problemas de trepidação e não atentar para a necessidade de troca antecipada do líquido de arrefecimento, a rede chegou a cobrar por componentes não substituídos.

Na revisão dos 50.000 km pagamos pela troca do filtro de cabine e, segundo Fukuda, ela não aconteceu: “Pelo estado deplorável da peça, dá para concluir que ela está lá desde muito antes de março, quando o carro passou pela última revisão”.

Derrapadas da rede à parte, o Agile foi bem ao longo de toda sua trajetória ao nosso lado e sai aprovado do exame final.


APROVADO

Paradas de sucesso

Os ensaios de pista confirmam as medições na oficina: o Agile melhorou em todas as provas de frenagem entre o primeiro e o último teste.

Dentes perfeitos

Luvas de engate, anéis sincronizadores, engrenagens: aos 60 000 km, o câmbio do Agile está em perfeito estado.

Meia vida

Se dependesse da rede autorizada, a embreagem teria sido substituída à toa: o desmonte revelou que o conjunto ainda estava bom.

Barreira de som

O isolamento acústico é caprichado atrás do painel: uma generosa camada de feltro afasta os ruídos do motor.


REPROVADO

O grande culpado

A parte de borracha é o elemento elástico do coxim. O do Agile estava rompido e era o responsável pela trepidação nas arrancadas. Nenhuma concessionária notou o defeito.


ATENÇÃO

Carvão na base

Diferentemente das válvulas de escape, as de admissão terminaram o teste com acúmulo severo de carvão. Culpa da má vedação dos anéis dos pistões.

Folgado

Com folga excessiva, os anéis impediram os pistões de comprimir adequadamente a mistura ar-combustível. A troca dos anéis pede uma retífica geral do motor, um serviço de cerca de 4 000 reais.

Pleastico enferrujado

Tanque de expansão do sistema de arrefecimento: paredes escurecidas pela ferrugem. A substituição do líquido é indicada a cada 150 000 km.

Para baixo do tapete

Mal encaixada, a mangueira deixava vazar a água do ar-condicionado para o assoalho, conforme denuncia a marca de infiltração no local.

Pintou sujeira

Na última revisão, autorizamos a troca do filtro de cabine. O péssimo estado do componente, porém, indica que o serviço não foi feito.

Chapa quente

Sem placa de alumínio para afastar o calor do sistema de escape, a chapa do assoalho do porta-malas aquecia na região acima do abafador traseiro.


HISTÓRICO

  • 3.318 km – luz da injeção acende
  • 6.712 km – Ruídos na suspensão
  • 16.172 km – Verniz descascado na dianteira, no para-lama direito e no para-choque
  • 25.914 km – luz da injeção acende
  • 32.124 km – lâmpada do farol queimada
  • 52.666 km – porta dianteira direita é atingida por uma moto

PRÓS

Robustez

Montado sobre uma plataforma adaptada do classic, o Agile se mostrou apto a enfrentar a dureza de nossas ruas e estradas.

Buchas e terminais estavam em perfeito estado, assim como a caixa de direção, sem sinais de folga ou desgaste. câmbio e embreagem também se saíram bem: o desmonte revelou que eles ainda davam conta do recado.

CONTRAS

Rede

Os maus serviços prestados foram uma constante na rede chevrolet. uma falha no verniz do para-choque e do para-lama dianteiros surgiu após uma das paradas para manutenção.

A concessionária negou ter feito qualquer reparo de pintura. Sem provas, não havia muito a ser feito. Na revisão dos 50000 km, cobraram pelo filtro de cabine, mas não trocaram a peça.


FOLHA CORRIDA

Preço da compra: R$ 40.458 (novembro/2009)
Quilometragem total: 60.915 km – 39.767km (65,3%) rodoviário e 21.148 km (34,7%) urbano
Consumo total: 7.580 litros de álcool (R$ 13.576)
Consumo médio: 8 km/l

REVISÕES:

  • 10.000 km – R$ 459 (São Paulo-SP)
  • 20.000 km –  R$ 488 (São Paulo-SP)
  • 30.000 km – R$ 778 (São Bernardo do Campo-SP)
  • 40.000 km – R$ 923 (São Paulo-SP)
  • 50.000 km – R$ 1.327 (Campinas-SP)

Troca de óleo entre as revisões – seis, totalizando R$ 619


CHECK-UP

QUILOMETRAGEM / 2.428 km (nov 2009) / 60.220 (mar 2010) / Diferença entre os teste (%)

0 a 100 km/h (s)  /  12,9  /  12,7  /  1,55
0 a 1 000 m (s)  /  34,3  / 34,1  /  0,58
3ª 40 a 80 km/h (s)  /  8,6  /  8,2  /  4,65
4ª 60 a 100 km/h (s)  /  11,8  /  11,2  /  5,08
5ª 80 a 120 km/h (s)  /  18,4  /  17,7  /  3,80
Frenagem 60 km/h a 0 (m)  /  16,1  /  14,1  /  12,42
Frenagem 80 km/h a 0 (m)  /  28,2  /  25,6  /  9,22
Frenagem 120 km/h a 0 (m)  /  65,5  /  57,4  /  12,37
Consumo urbano (km/l)  /  7,8  /  7,7  /  1,28
Consumo rodoviário (km/l)  /  9,9  /  10,1  /  2,02
Ruído interno PM (dBA)  /  46,7  /  47,9  /  2,57
Ruído interno RPM máx. (dBA)  /  72,4  /  74,3  /  2,62
Ruído interno 80 km/h (dBA)  /  63  /  63,8  /  1,27
Ruído interno 120 km/h (dBA)  /  70,3  /  69,5  /  1,14


FICHA TÉCNICA

Motor: dianteiro, transversal, 4 cilindros, 8V, 1.389 cm³
Diâmetro x curso: 77,6 x 73,4 mm
Taxa de compressão: 12,4:1
Potência: 102/97 cv a 6.000 rpm
Torque: 13,5/13,2 mkgf a 3.200 rpm
Câmbio: manual, 5 marchas, tração dianteira
Dimensões: comprimento, 400 cm; largura, 168 cm; altura, 147 cm; entre-eixos, 254 cm
Peso: 1.075 kg
Peso/potência: 10,5/11,1 kg/cv
Peso/torque: 79,6/81,4 kg/mkgf
Volumes: porta-malas, 327 litros; tanque, 54 litros
Suspensão: Dianteira: independente, Mcpherson. Traseira: eixo de torção
Freios: disco ventilado (diant.), tambor (tras.)
Direção: hidráulica
Pneus: 185/60 R15
Principais equipamentos: ar-condicionado, direção hidráulica, trio elétrico, aBS, airbag duplo, rádio com Bluetooth, rodas de liga leve, faróis de neblina


VEREDICTO

Infelizmente, a desatenção da rede é uma constatação comum nos últimos carros de Longa Duração. Não fosse isso, o Agile sairia como um dos modelos mais íntegros do teste. Câmbio, suspensão, direção e freios surpreenderam pelo bom estado após 60 000 km.

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