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Tapete mágico (e imperfeito)

Por Redação
6 out 2015, 11h00
jaguar
jaguar (/)
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Ninguém ainda me perguntou: “Estou pensando em comprar um Jaguar novo. O que você acha?” As pessoas me perguntam sobre BMW, Mercedes e Range Rover o tempo todo. Mas Jags? Não. É como se eles tivessem saído por completo do radar do público de alta renda.

Ouvimos sempre que a Jaguar está construindo outra fábrica e contratando mais 1 milhão de funcionários ou coisa assim, e é verdade. Só que é para fabricarem mais Range Rover. Afinal, por que você compraria um grande XJ quando, pelo mesmo valor, pode levar um BMW Série 7, um Mercedes Classe S ou um daqueles Audi que levam estrelas de cinema a estreias de filmes?

Nos tempos dos Vingadores (a série de TV inglesa dos anos 60, não a franquia da Marvel), os Jags eram meio grosseiros e maravilhosos. Eram dirigidos por oportunistas charmosos que sempre tinham um Monet suspeito no porta-malas e um “probleminha” com a hipoteca no banco. Eu sei que a Jaguar se preocupava com essa associação, mas até hoje as pessoas gostam de um vigarista adorável, alguém cujo charme possa seduzir uma mulher mesmo que ele sempre deixe sua carteira em casa, “por distração”. A Jaguar deveria ter trabalhado duro para desenvolver esse mercado. Os carros seriam vendidos em lugares mal iluminados e teriam como item de série um lugar para bebidas no porta-malas. Mas, em vez disso, eles vêm com uma iluminação de bar de vodca. O momento foi perdido. É uma pena.

Assim que entra no novo XE, você fica decepcionado. No volante está o emblema da Jaguar, o que o levaria a pensar que você estaria até a cintura em fino carpete Wilton, olhando para seu rosto refletido no painel de nogueira superpolido. Só que não. É só um carro ali. Então, como ocorre com todos os carros nessa faixa de preço, parece que você está dentro de uma nécessaire masculina.

Infelizmente, tem mais. Há menos espaço no banco de trás que em um Série 3 ou Classe C, e o porta-malas também é menor. E, embora novos motores a gasolina, mais inteligentes, estejam a caminho, eles ainda não chegaram. Isso faz com que o 2.0 turbo do meu carro de teste seja uma velha unidade da Ford, que fez sua estreia no Mondeo. Mesmo que não haja nada de errado com ele – é um motor refinado e econômico –, você sempre vai saber, enquanto anda por aí, que o coração da sua máquina não veio do lugar certo.

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É tudo um pouco sem brilho até que chegamos ao câmbio automático de oito marchas, que não é apenas simplesmente sem brilho: é horrível. Seria de imaginar que a transmissão de oito marchas ofereceria sempre a relação certa para assegurar que você tivesse uma resposta forte e rápida.

Infelizmente, não. Na verdade, ao contrário. Ela foi programada para garantir que o motor use o mínimo possível de combustível, o tempo todo. Isso é para manter felizes os nazistas das emissões de poluentes da União Europeia. Então, quando você crava o pé no acelerador para aproveitar um espaço livre no trânsito numa rotatória, o câmbio imediatamente convoca um comitê para decidir qual a melhor forma de equilibrar sua solicitação de potência com sua missão prioritária, que é salvar os ursos-polares.

Como resultado, não acontece muita coisa. Então você solicita mais potência, o que faz com que o comitê tenha um pouco de hesitação. Agora é como no Exterminador do Futuro, na cena do novo filme em que ele é instruído a matar John Connor e salvá-lo. Ele não tem ideia do que fazer, por isso só fica lhe dando marchas aleatoriamente, até que você pisa com tudo – e nesse ponto ele tem um acesso de raiva e joga uma panela na sua cabeça.

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Felizmente, há uma solução: manter o câmbio na posição Sport, que diz ao computador de bordo que você não dá absolutamente a mínima para os ursos-polares. Você só quer poder entrar naquela rotatória sem que um caminhão acerte a lateral do seu carro. Talvez esses problemas sejam resolvidos com a nova safra de motores a gasolina, esperada para o próximo ano. Só que isso não ajuda muito se você estiver procurando por um carro agora.

Mas tem uma coisa que poderia ajudar. Eu seguia por uma rodovia quando percebi que o XE é muito confortável. Sim, há botões que estragam tudo, deixando-o mais duro, mas no modo Normal ele é fabuloso. E não é só a suspensão. Ele tem um refinamento que vai muito além de qualquer coisa que você possa esperar no seu segmento de mercado. Ele dá a impressão de ser perceptivelmente mais caro do que seus concorrentes alemães. Mesmo quando passa por um trecho que hoje é basicamente um campo arado, você parece estar em um tapete mágico.

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Talvez isso seja resultado da suspensão traseira Integral Link, que é mais pesada que as demais, mas faz um trabalho melhor. Ou quem sabe a plataforma totalmente nova – que um dia será usada para produzir o Evoque – seja excelente. Ou talvez seja uma combinação dessas coisas. Mas o XE parece ser um carro de 100 000 libras esterlinas (R$ 537 000) e não de 35 000 libras (R$ 188 00). E sua dirigibilidade é boa também. Para melhorar, ele é muito bonito. Ele não levanta e grita “olhe para mim”, mas, quando você olhar, ficará hipnotizado por sua beleza.

Não tenho dúvidas de que se você deixar o câmbio no modo Sport, voltando para D só quando está em uma rodovia, ele é uma compra melhor do que qualquer coisa que BMW, Audi ou Mercedes conseguem lhe vender pelo mesmo preço. É, definitivamente, a opção que eu escolheria.

Ah, uma última coisa. No devido tempo, a Jaguar lançará um XE rápido. Ele terá um V8 e todos elogiarão o carro, dizendo que ele é tão bom quanto um BMW M3. Mas ninguém vai realmente comprá-lo, porque, se você quer um M3, você vai levar para casa um M3, não um similar.

Que tal o seguinte: a Jaguar deveria lançar uma edição especial, com muita madeira e tweed e, talvez, uma garrafa de bebida no console central. E vendê-lo com um Rembrandt falsificado no porta-malas e o número de um bom advogado programado na discagem rápida do telefone. Porque qualquer um que seja velho o suficiente para ter dinheiro para um Jaguar vai querer isso desse carro, não a capacidade de deixar 300 metros de faixas negras na estrada cada vez que arrancar.

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