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O que a compra da FCA pelos chineses pode mudar no planeta carro?

Aquisição da sétima maior fabricante do mundo terá implicações nos principais mercados automotivos

Por Rodrigo Ribeiro
Atualizado em 17 ago 2017, 14h53 - Publicado em 17 ago 2017, 13h00
Sergio Marchionne, presidente mundial da Fiat
Chefão da FCA, Marchionne quer o dinheiro – e a força – dos chineses (Reprodução/Internet)

Exatos cinco meses atrás, QUATRO RODAS já havia apurado com fontes brasileiras que o grupo FCA poderia ser negociado com grupos chineses. Nesta semana, após a revelação pelo site Automotive News, que ao menos duas fabricantes chinesas estão realmente interessadas em comprar a FCA, o mercado financeiro borbulhou com especulações e análises sobre o impacto que essa aquisição provocaria nos principais países onde as marcas atuam.

Os especuladores também aproveitaram o momento, provocando uma alta acima dos 10% nas ações da FCA na bolsa de valores de Nova York. Todos os lados do rumor negam qualquer interesse, mas especialistas já debatem os impactos negativos e positivos – inclusive no Brasil – que essa compra teria no setor automotivo.

Não é segredo que Sergio Marchionne, CEO da FCA (Fiat, Chrysler, Dodge, Jeep, RAM, Alfa Romeo, Lancia e Maserati, entre outras marcas), deseja unir forças com outra grande fabricante para permitir uma redução de custos por meio do aumento da escala de produção. O executivo já havia sondado a GM e Volkswagen, mas ambas as gigantes não se interessaram em parcerias.

A alternativa foi se voltar para a Ásia, mas Marchionne encontrou um entrave: as empresas chinesas não querem mais parcerias com grupos ocidentais. Agora elas querem comprá-las.

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A Geely já tentou entrar no mercado brasileiro com o Grupo Gandini (representante da Kia), mas foi limitada pelo programa Inovar Auto (Geely/Divulgação)

O momento vai ao encontro da política de expansão das companhias chinesas promovida pelo governo local. Por meio de empréstimos e incentivos, o Estado chinês estimula a ofensiva dos grupos locais e já começa a colecionar frutos. Além da compra da Volvo e da Lotus pela Geely, a italiana Pirelli já passou para as mãos chinesas. Mas os EUA, segundo maior mercado do mundo (atrás apenas da própria China) ainda segue quase intocado – e é aí que entra a FCA.

Só na América do Norte a FCA tem 2.600 concessionários. Globalmente os números são ainda mais impressionantes, com 162 fábricas, 87 centros de pesquisa e desenvolvimento e mais de 231 mil funcionários. Pelas estimativas do mercado, o valor total da FCA supera os US$ 20 bilhões (mais de R$ 63 bilhões, pela cotação do dia 16/08/2017).

Apesar de uma das investidas chinesas ter sido recusada por não ter oferecer um valor alto o bastante, o dinheiro não é um empecilho para os chineses comprarem a gigante ítalo-americana. Mas pode haver entraves legais.

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Tecnologia longe dos inimigos

Em 1950 o governo dos EUA criou o Comitê para Investimentos Estrangeiros nos Estados Unidos (CFIUS, na sigla em inglês). O objetivo do órgão é analisar e, se necessário, barrar parcerias e compras de empresas norte-americanas por empresas estrangeiras. Isso é feito sempre que o governo crê que existe algum risco de tecnologias ou da capacidade da industrial do país cair nas mãos inimigas.

É verdade que a Chrysler já passou pelas mãos dos alemães e agora se juntou aos italianos. Mas os europeus são aliados econômicos, ideológicos e militares dos EUA. O mesmo não se pode dizer da China, tratada mais como rival – apesar das enormes relações comerciais.

Tradição: o cuore sportivo no centro foi preservado
O Stelvio é um dos poucos modelos da Alfa Romeo desenvolvidos sobre uma plataforma moderna (Divulgação/Alfa Romeo)

Dentro do contexto asiático, China e EUA divergem em uma série de questões, como a situação de Taiwan, a Coréia do Norte, a rivalidade histórica com o Japão e diversas contestações territoriais pelo Mar da China. Por isso, uma eventual aquisição da FCA certamente seria analisada com muito cuidado pelo CFIUS (e o governo Trump) antes que qualquer documento pudesse ser assinado na América do Norte.

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Outro efeito colateral da aquisição atingiria diretamente os entusiastas. Na maior parte dos rumores é dado como certo que a aquisição da FCA não incluiria as marcas Maserati, Alfa Romeo e Lancia. Vale lembrar que, desde o ano passado, a Ferrari já não faz mais parte das empresas controladas pelo grupo.

mercado
O Ypsilon é o único Lancia atualmente à venda no mundo (Lancia/Divulgação)

Sem a força (e os investimentos) da até então sétima maior fabricante de carros do mundo, o trio italiano pode encolher ainda mais de tamanho ou até sucumbir. Atualmente a Alfa Romeo conta com só dois modelos atuais – o Stelvio e o Giulia – e o catálogo da Lancia é composto apenas pelo Ypsilon, uma versão refinada do Fiat 500.

Do lado de quem fica, as perspectivas são mais animadoras. Apesar da força na América do Norte, no Brasil e na Itália, as marcas da FCA não possuem grande representatividade em outros países da Europa e da Ásia. O investimento chinês poderia dar um providencial empurrão – foi o caso da Volvo, hoje envolvida em um intenso processo de transformação e modernização iniciado após a compra pela Geely.

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No Brasil os efeitos de uma FCA chinesa não seriam notados a curto prazo. O braço Jeep segue firme com o ótimo desempenho de Renegade e Compass, e certamente os chineses não mudariam um time que está ganhando. Do lado Fiat, apesar do sucesso da Toro, a marca perdeu participação no mercado abaixo de R$ 100 mil, e os frutos do projeto X6H e X6S (Argo hatch e sedã, respectivamente) ainda podem demorar a aparecer.

O Argo marca o início da esperada retomada da Fiat no segmento de populares (Divulgação/Fiat)

É neste segmento que os chineses poderiam mudar o jogo. Chery, JAC e Lifan já provaram que conseguem fazer produtos de baixo custo com qualidade e design próximos aos de modelos consolidados, mas ainda sofrem com o preconceito do mercado e com as regras de importação.

A absorção da Fiat daria aos chineses acesso a uma enorme estrutura de produção e comercialização no país, além de bilhões de dólares em investimentos para impulsionar a ex-líder do mercado brasileiro.

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Os chineses (e indianos) também já deram provas de que não são loucos a ponto de mexer na identidade, qualidade e status de marcas que passaram para seu controle – como a já citada Volvo e a Jaguar/Land Rover. Não espere, portanto, um downgrade nos produtos da FCA.

Única dúvida

O diretor executivo da Geely já declarou esta semana que a empresa não tem interesse em adquirir a FCA – apesar de comitês de ambas as empresas terem sido vistos nos Estados Unidos e China. Declaradamente interessado em aumentar o tamanho da FCA, Marchionne tem na Ásia sua maior – e talvez única – chance de transformar seu grupo em uma gigante capaz de brigar pelo posto mais alto.

Com esse cenário, a questão que se avizinha no mercado não é se um dia a FCA será comprada por chineses – e sim quando. Mas, considerando os valores dessa aquisição histórica, a confirmação das especulações só irá ocorrer quando o cheque for assinado definitivamente.

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